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sexta-feira, 12 de novembro de 2010

TEMPO E SUBJETIVIDADE EM AGOSTINHO

A dificuldade em relação ao tempo está diretamente relacionada com o grau de desenvolvimento é a reação do sujeito com o Tempo. O sujeito é um ser temporal que desenvolve sua existência dentro de um tempo. Toda essa dificuldade do sujeito em relação ao tempo poderia acabar se o sujeito pudesse nem que se fosse por um instante transcender esta realidade possibilitando o ver e observar o tempo de maneira externa.
Mas tal questão trata-se de uma hipótese absurda, primeiro não é o homem que tem o tempo, mas o tempo que tem o homem; segundo o tempo independe da existência humana. Agostinho mostra nesta afirmação sua inquietação sobre o tempo “ quando não me perguntam o que é o tempo eu sei o que ele é...” [1]. O sujeito possui em seu consciente pressupostos relacionados ao tempo devido a sua vivência; é o que Agostinho nos da a entender. E que assunto mais familiar e mais batido nas nossas conversas do que o tempo? Quando dele falamos compreendemos o que dizemos”[2]. Falamos do tempo e mais dos tempos e ainda mais dos tempos. Andamos constantemente com o tempo na boca (...). Os outros os compreende e nós compreendemo-los. São palavras claras e muito vulgares, mas ao mesmo tempo muito obscuras” [3].

Através da vivência e da consciência que o sujeito tem do tempo que o envolve o mesmo adquire percepção de tempo como o ontem o hoje o amanhã, ano passado, ano que vêm etc. O qual dá a ele condições de ter uma percepção do tempo e sua existência. Pois o tempo é condição a priori da sensibilidade o tempo não é representação externas para o homem, não é coisa fora do mundo, são estruturas previas sem as quais não seria possível dizer o que é o mundo. “Enquanto não me pergunta sobre o tempo; eu seu o que é”. O tempo nesta representação está relacionado com a vivência e não há dilema, pois o sujeito na vivência na imaginação na representação interna; sabe muito bem o que é o tempo; pois o tempo está presente, está bem próximo é algo pleno, que está sempre fluindo. Mas quando o sujeito é interrogado sobre o que é o tempo, já não sabe responder; pois o sujeito que é finito é posto diante de algo que é infinito, que por sua vez o afeta terrivelmente. Em que o sujeito é embaraçado diante de algo que não tem linguagem para expressa-lo.

Porque se torna um problema explicar o tempo, sendo que na vivência e tão claro? Pelo fato de esbarrar na linguagem e tentar explicar algo que não é explicado. Diante da pergunta o que é o tempo, se faz necessário uma definição. Ora dar definição de algo supõe reduzir este algo a elementos de caráter mais geral. Neste caso incluir algo num conceito mais geral do que o tempo se torna impossível; uma vez que quanto maior a extensão menor é a compreensão. Já na vivência o tempo não é problema, basta que o sujeito siga o fluxo. Em relação às preposições acima, jamais se explicará a totalidade do tempo, porque não podemos fixa-lo. Por isso Agostinho ao abordar o problema do tempo o faz sobre os aspectos psicológicos, ou seja, como é que apreendemos o tempo; em outras palavras o único espaço para mediação do tempo; é o nosso espírito, pois não se pode pensar o tempo como algo objetivo, como passado, presente e futuro; em razão destes três tempos só existirem na mente do sujeito e em nenhum outro lugar. Por que o passado já passou, logo então já não é; porque já foi; o que se torna uma um erro afirmar a existência do passado. O futuro e aquilo que ainda não chegou; ou seja, não é; o que se torna incoerente afirmar o que não é. Na questão do presente; é que a maneira como a qual iremos identificá-lo é a partir do passado e futuro, mas se passado e o presente não existe porque um já foi e o outro ainda não aconteceu; o que torna uma incoerência firmar o presente.

O tempo por ser um fluxo continuo se torna impróprio afirmar que existem três tempos, pretérito, presente e futuro o mais coerente a dizer é que os tempos são três: presente das coisas passada - presente das coisas - presente e presente das coisas futuras. O presente das coisas passadas são as lembranças; que embora o passado já não exista mais, porque já passou, mas na memória o passado está presente aprisionado pelo espírito. Consequentemente com o futuro que embora não tenha acontecido, mas pelo espírito do sujeito este apreendido através da esperança. O presente já não existe, por que a todo instante se modifica num eterno fluir que apresenta se na forma de visão.

No limite o tempo para Agostinho e totalmente subjetivo que só existe nas mentes dos sujeitos em nenhum outro lugar mais. O que da margem para dizer que o tempo existe unicamente devido à existência da consciência, o que nos leva a concluir que se não existisse consciência o tempo também não existiria para o homem, pois é a consciência que da a sensação de espaço e tempo. A consciência do sujeito em relação ao tempo será também aquela que fará as divisões do tempo em passado, presente e futuro e que por sua vez só existe na mente humana e em nenhum outro lugar.


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[2] 304
[3] 311