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JOHN LOCKE

"todos os homens, que, sendo todos iguais e livres, nenhum deve prejudicar o outro, quanto à vida, à saúde, à liberdade, ao próprio bem". E, para que ninguém empreenda ferir os direitos alheios, a natureza autorizou cada um a proteger e conservar o inocente, reprimindo os que fazem o mal, direito natural de punir"

FRIEDRICH HAYEK

“A liberdade individual é inconciliável com a supremacia de um objetivo único ao qual a sociedade inteira tenha de ser subordinada de uma forma completa e permanente”

DEBATES FILOSÓFICOS

"A filosofia nasce do debate, se não existe a liberdade para o pensar, logo impera a ignorância"

A Filosofia é.....

"Viver sem filosofar é o que se chama ter os olhos fechados sem nunca os haver tentado abrir". Descartes

LIBERDADE

"Liberdade, Igualdade , Fraternidade. Sem isso não há filosofia. Sem isso não há existência digna.

"Nós temos um sistema que cobra cada vez mais impostos de quem trabalha e subsidia cada vez mais quem não trabalha"

LUDWING V. MISES

"O socialismo é a Grande Mentira do século XX. Embora prometesse a prosperidade, a igualdade e a segurança, só proporcionou pobreza, penúria e tirania. A igualdade foi alcançada apenas no sentido de que todos eram iguais em sua penúria"

sábado, 14 de outubro de 2017

AS CONTRIBUIÇÕES CIENTÍFICAS DE DESCARTES

             

1. INTRODUÇÃO

Fala-se, algumas vezes, da distância que há entre a Filosofia, os filósofos e a realidade vivida. Fazendo parte do corpo docente de Filosofia de um Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia, questionou-se pela definição e gênese desse termo, antes negritado em sua acepção moderna. Deparou-se assim com quatro grandes pensadores do período: Francis Bacon, Galileu Galilei, René Descartes e Isaac Newton. Âncoras da emergência do paradigma científico hegemônico dessa contemporaneidade delimita-se a presente investigação nas contribuições do terceiro deles.Desse modo, tendo-se evidenciado uma sacralização da modernidade científica já identificada por Cotrim (2006)1, questiona-se pelas cartesianas condições de possibilidade de tal feito. Para tanto se perquire: teria Descartes contribuído de fato com a emergência da ciência moderna? Em que termos? Em que condições? Eis algumas das questões que se busca resolver ao longo deste texto ao se buscar entender as reais contribuições da emergência da ciência moderna no período de 1550 a 1650, a partir das principais obras de René Du Perron Descartes. Isso porque, tendo como problema de pesquisa maior analisar as influências das diferentes correntes do ensino de Filosofia das Ciências, é necessário analisar suas diferentes concepções e fundamentos epistemológicos. Um desses alicerces, ainda hoje presentes na cientificidade, é o sistema epistêmico a nós legado pela modernidade. Busca-se assim, por meio desse artigo, problematizar o nascimento da ciência moderna a partir daquele ícone fundamental para sua constituição. Para tanto, apresenta-se uma análise da importância de algumas contribuições de Descartes para a emergência e constituição de algumas ciências na gênese da modernidade.



2. DESCARTES E ALGUMAS CONTRIBUIÇÕES CIENTÍFICAS

Reconhecido como “pai da filosofia moderna”, de acordo com Crombie (2007)6, as influências de Descartes não são apenas encontradas naquela antiga área de saberes, mas também na Matemática, na Física, na Fisiologia, na Mecânica entre outros saberes. Foi pelos primeiros estudos da apresentada Mathesis que, em março de 1619, “relatou a Beeckman seu primeiro vislumbre de uma ciência inteiramente nova que veio a chamar-se geometria analítica” (COTTINGHAM, 1995, p. 598)7. E, quanto às contribuições desse pensador, teria ele apenas contribuído com a Filosofia e a Matemática ou também com outras áreas do conhecimento? Quais teriam sido outras de suas contribuições pelas quais teria avançado a própria cientificidade moderna? Observando-se que se para Newton, primeiro tem-se a análise da experiência para depois investigar suas causas, para Descartes, ainda preso a uma tradição escolástica, primeiro faz uma análise da razão, de seus princípios, de suas ideias que podem ser aceitas como claras e evidentes e de seus fundamentos, para só depois passar aos elementos da natureza. Distinguindo-se esses dois diferentes planos de investigação, evidencia-se uma forte equivalência da importância de ambos os planos ao se lembrar das contribuições do primeiro até mesmo para o desenvolvimento da matemática e sua posterior aplicação na teoria do cálculo de Newton. Mas quais teriam sido as maiores contribuições de Descartes na Matemática?

Sem sombra de dúvidas, as maiores contribuições científicas de Descartes, além da reverberação do método como princípio a ser aplicado em busca de novas descobertas, foram dadas à área da Matemática. É também por causa de suas descobertas nessa área do conhecimento humano que publica o Discurso do Método como sendo seu prefácio. Nela, é reconhecido por ter criado o plano cartesiano, ao localizar um ponto numa dada superfície mediante um relacionamento entre duas retas que se cruzam (x, y) permitindo a evolução da própria cartografia. Ele concebeu sua:


‘verdadeira matemática’ como ciência da grandeza, ou da quantidade em si. Ele aperfeiçoou a configuração algébrica substituindo os símbolos cossistas antigos pelas letras do alfabeto, usando, no início (nas Regulae), letras maiúsculas para denotar as quantidades conhecidas, e letras minúsculas para denotar as desconhecidas. Mais tarde (na Géométrie), mudou para a,b,c; x,y,z, notação utilizada ainda hoje (MAHONEY, 2007, p. 603, grifos do autor)8.

Não bastasse essa profunda transformação algébrica, assim empregada ainda hoje, num “passo mais radical, removeu então os últimos vestígios de expressão verbal (e a conceitualização que a acompanhava), substituindo os termos ‘quadrado’, ‘cubo’ etc. por expoentes numéricos” (MAHONEY, 2007, p. 603)8. Nela também apresentou uma nova geometria: a analítica, na qual há uma associação de cálculos algébricos para o estudo da área que uma dada figura pode ocupar, entre outras tantas funções. É a aplicação do plano cartesiano
para se encontrar as áreas dos objetos de formatos espaciais irregulares. Um cálculo de extrema importância ainda hoje nas engenharias, por exemplo, para se encontrar uma área quadrada de um objeto, pressuposta para se obter seu volume - ao não ter um formato preciso de um retângulo ou círculo, mas uma combinação entre eles. Essa será uma das bases do cálculo integral, razão pela qual, assim como Pierre Fermat, divide o reconhecimento de ser um dos seus primeiros fundadores (MAHONEY, 2007, p. 605)8.

Bem lembrados, até o renascimento, a teologia era a rainha de todas as ciências e a filosofia era sua serva. A autonomia desses saberes, contudo, não foi dado da noite para o dia, mas por um complexo processo dependente não apenas de observações empíricas – como as já feitas por Galileu Galilei – mas de um método que pudesse ainda teorizá-las. Também conhecido como um dos maiores matemáticos de seu tempo, Descartes igualmente “abriu o caminho para a aplicação do método matemático na investigação de problemas científicos [...] por mais de três séculos de influência universal” (MAHONEY, 2007, p. 605)8. Embora tenha apresentado grandes contribuições a mathesis a tal ponto de sua nova geometria passar a ser o ponto central da ciência moderna, seus legados se estenderam até os sistemas de pensamento que passarão a ser hegemônicos nos séculos seguintes. Isso, pois ele não mediu esforços, não apenas para trazer novidades à Matemática, mas também para analisar os meios seguidos para tal êxito. Meios esses expostos num antigo prefácio hoje tão lido, publicado e reverenciado de modo independente das suas outras três partes não menos importantes: Meteoros, Dióptrica e Geometria.

Intitulado originalmente como Discurso do Método para Bem Conduzir a Própria Razão e Procurar a Verdade nas Ciências, é considerado por Butterfield (1959, p. 95)10 “um dos livros realmente importantes em nossa história intelectual”. Tal confirmação também se encontra em Downs (1969)4 para quem, o filósofo em questão, ao procurar analogicamente a Copérnico, uma revolução do sistema filosófico científico, acabou contribuindo com a solidificação dos alicerces da própria modernidade. Até porque, seguindo os pedidos do cardeal De Bérulle, deveria ele apresentar uma nova filosofia que pudesse fundamentar a medicina para a conservação da saúde e a mecânica para o alívio do trabalho humano. Áreas essas em que também deixa reflexões e algumas contribuições, tal como na própria Física.Buscando substituir a física aristotélica, na esteira de Galileu Galilei, na nascente Física moderna propunha uma rigorosa aplicação da matemática. Nela, apresentou leis do movimento e do impacto, embora sejam elas logo demolidas por Huygens e Leibniz. Também fez estudos e escreveu sobre o vácuo, a luz e o universo1. Era defensor do heliocentrismo por meio de sua obra Tratado sobre o Mundo. Nessa obra, ele também apresentava uma dinâmica planetária que será substituída pela newtoniana.

Além disso, na Dióptrica, que é a parte da Física que estuda a refração da luz, apresentou soluções anaclásticas. Ou seja, ele discute e apresenta uma solução para um problema da derivação matemática nas leis da refração e reflexão posteriormente imprescindíveis para a fabricação das lentes de óculos (MAHONEY, 2007, p. 606)8. Se Willebrord Snell (1591–1626) teria primeiramente apresentado o conceito da refração, é Descartes quem apresenta sua fórmula para se calcular seu índice de incidência na Dióptica (seno do ângulo ‘i’ vezes n1 = seno ângulo ‘r’ vezes n2). Embora Leibniz acuse Descartes de ter plagiado Snell, Beeckman testemunha Descartes ter primeiramente encontrado aquela famosa lei do seno.2 “Inspirado por um pensamento cartesiano, determinaria Roemer a velocidade da luz, enquanto Newton, decompondo-a através do prisma, elucidaria e completaria a teoria de Descartes” (LINS, 1940, p. 27)2.

Não bastassem essas contribuições na matemática e na dióptrica, na Mecânica fez estudos sobre o impacto, a força centrífuga, a oscilação e os sistemas de roldanas. O filósofo em questão também analisava máquinas que erguessem maior quantidade de peso com menor quantidade de força. Embora não tenha solucionado todos esses problemas, deixou nessa área, contribuições fundamentais para que Christiaan Huygens pudesse posteriormente resolvê-los (MAHONEY, 2007)8.

Para Lins (1940, p. 27)2, Descartes, além de defender a teoria do heliocentrismo, num período em que essa verdade ainda não era hegemônica, “funda, secundado por Huyghens, a dinâmica, a qual permitiria a Newton instituir a mecânica celeste, resumida em sua famosa lei da gravitação [...] e lança as bases da barologia.” O próprio descobridor da calculadora e da pressão atmosférica foi influenciado por esse racionalista. Apesar de haver tido certa disputa entre Descartes e Pascal, eles se encontraram pessoalmente no mosteiro de Mersenne. E pelos registros das cartas destes pensadores, René Descartes diz ter colaborado com o cientista da pressão atmosférica ao já ter contestado anteriormente os que se opunham ao medo do vácuo (RODIS-LEWIS, 2009)12. Pela sugestão do mesmo, “empreende Pascal, em 1648, a célebre experiência do Puy-de-Dôme que completaria as pesquisas barológicas de Torricelli” (LINS, 1940, p. 28)2.

A fisiologia também era outra área de preocupação de Descartes. Embora reconhecido como racionalista, não nega o valor da experiência. Nela, ele chegou a dissecar embriões de gado, cães, coelhos, olhos, corações, fígados e gatos, a fim de analisar a digestão, o movimento do coração, os nervos e a glândula pineal. Possuía uma fisiologia excessivamente formal. E, ao conceber o homem como uma máquina, também influenciará muitos dos que vão pensar biologicamente o homem no século XVIII, tais como Thomas Bartholin e Nicholas Steno, que farão meticulosas pesquisas anatômicas na contração muscular.

Suas noções do dualismo corpo-alma e do automatismo animal tiveram implicações extremamente importantes que não foram desperdiçadas por Henry More, Malenbranche, Spinoza e Leibniz, entre muitos outros do século XVII. [...] Sem Descartes, a introdução da linguagem mecânica nas concepções fisiológicas do século XVII teria sido inconcebível (BROWN, 2007, p. 603-13)13.

Além dessas contribuições pontuais na Matemática, na Física, na Mecânica e na Fisiologia e no pensamento de Newton e Pascal, a importância do mesmo não se resume a elas. Mesmo conhecendo o lamentável ocorrido com Giordano Bruno ou Galileu Galilei, não se submete à ordem da verdade escolástica – de certa forma – ainda vigente naquele período. Não reconhecendo “outros limites senão aqueles que o progresso dos conhecimentos, a cada momento, faz recuar” (DESNÉ, 1974, p. 76)14, defende a soberania de um método racional de fazer ciência. O Discurso do Método é como

uma espécie de manifesto constitutivo do pensamento moderno e do espírito científico nascente. Esse público fazia eco sobretudo às suas concepções mecanicistas (os fenômenos da natureza são explicáveis por causas motrizes, não finais), tais como se exprimiam [...] nos Princípios, na Filosofia e nas

obras póstumas Tratado do Homem e Tratado do Mundo (JAPIASSU, 2007, p. 100)15.

Dedicado a todos os que têm um bom senso (independente se homem ou mulher), historiadores falam da importância do mesmo no surgimento da ciência moderna até como estímulo para se ultrapassar concepções “mágicas” e “herméticas” até então em voga. Além disso, seus escritos passaram a esclarecer o que era ou não cientificamente possível ao substituir o modelo aristotélico já vigente há muitos séculos (JAPIASSU, 2007)15.3 Isso, pois não apenas pensou uma ciência de abstrações empíricas ultrapassando o senso comum, mas que tivesse um caráter universal. De fato, há em Descartes a busca de uma unidade da ciência projetada a partir

de uma Mathesis Universalis4. Há assim uma busca de um método universal, a partir da matemática como modelo exemplar. “Ele é denominado de Mathesis Universalis porque nos permite conhecer o que diz respeito à ‘ordem e à medida sem uma aplicação a uma matéria particular’” (JAPIASSU, 2007, p. 103, itálico do autor)15. Como o próprio filósofo afirma, “as verdades matemáticas não devem mais ser suspeitas para nós, visto que são perspícuas no mais alto grau” (DESCARTES, 1998, p. 82)16. Ela é um meio pelo qual, incentivado por Isaac Beeckman em resolver problemas nela ainda não resolvidos, também será um modelo para repensar a ciência e o próprio universo.

Antes e acima de tudo, Descartes foi um matemático. Um dos pensadores mais originais do mundo em seu campo, criou a geometria analítica, unindo assim a geometria à álgebra. Em sua época, a matemática era o principal instrumento para descobrir fatos sobre a natureza. De acordo com isso, portanto, Descartes concluiu que o método matemático era o instrumento ideal a ser aplicado em todas as esferas do saber e que daria resultados de igual precisão e confiança em metafísica, lógica e ética. Como Galileu e Newton, via o universo como uma máquina gigantesca na qual tudo é mensurável. Consequentemente, concluía que tudo aquilo que não se pode traduzir em termos matemáticos é irreal. De acordo com essa premissa, o universo inteiro pode ser explicado pelas leis da mecânica e da matemática (DOWNS, 1969, p. 55)4.

Por fim, reconhece-se que embora Descartes não tenha contribuído apenas com o desenvolvimento da matemática, que foi inspirado na exatidão da mesma o fato de ter passado a duvidar de tudo; de tudo o que não pudesse considerar como certo e indubitável – o que ele mesmo aclara nas primeiras partes do Discurso do Método. É legítimo filho renascentista, período em que o homem passa a se projetar pela autonomia da própria racionalidade. Ao desejar se “entregar inteiramente à busca da verdade (...) rejeitando como absolutamente falsa qualquer coisa acerca da qual pudesse imaginar o menor fundamento para a dúvida” (DESCARTES, 1996, p. 91)3, apresenta um modo de se construir uma nova ciência dedutiva.

Para tanto, distingue o espaço do pensamento (res cogitans) e da extensão (res extensa). Para Desné (1974)14 esse projeto racional cartesiano foi tão fecundo que é até considerado por D´lambert na abertura da Enciclopédia Iluminista.5

A filosofia iluminista, “filha emancipada do cartesianismo, [...] deve a Descartes [...] o gosto do raciocínio, a busca da evidência intelectual, e, sobretudo, a audácia de exercer livremente seu juízo e de levar a toda parte o espírito da dúvida metódica” (DESNÉ, 1974, p. 75)14. De fato, como se pode ler nos textos cartesianos, é possível se fazer ciência a partir de um método universal fundamentado nos princípios da Matemática. Japiassu (2007, p. 102)15 assim situa Descartes como “fundador do racionalismo moderno” e tão marcante a tal ponto de ser uma das reais condições de possibilidade da emergência do próprio “culto moderno da ciência, culto este encontrando suas raízes em sua concepção da sabedoria considerada como o ‘perfeito conhecimento de todas as coisas’” (JAPIASSU, 2007, p. 104, grifo do autor)15. De fato, o positivismo dedicará um dia e um mês em sua homenagem. Nele, até o humano e a “sociedade vão integrar-se nesse projeto, e cedo o que era dominação da natureza, converte-se em dominação do homem sobre o homem, o que com certeza não era bem o que Bacon e Descartes pretendiam com seu prometeísmo” (DOMINGUES, 1989, p. 33)19.

Mas, apesar de marcante e profundo, questiona-se se unicamente nele dever-se-ia buscar as maiores influências da ciência moderna. Se considerar a dominação da natureza e sua transformação como a maior marca da mesma, entender-se-ia como quer Japiassu (2007, p. 103, grifos do autor)15 que se deve “procurar seus verdadeiros fundadores, não no lado dosdefensores do racionalismo (idealistas), mas dos que fizeram sistematicamente apelo aos fatos e à experimentação”.

Embora Descartes não seja empirista e não seja o maior influente do desenvolvimento das ciências da natureza na modernidade, ao não atribuir o papel central de sua epistemologia à experiência, com seu método e seus conceitos de razão, ciência e dúvida, ele foi muito importante aos avanços da ciência moderna. Com seu método, o homem aperfeiçoou seu próprio senso crítico. Passou a entender-se como senhor de seu próprio tempo, independente dos ídolos de que Bacon tanto falava. Nem a verdade, nem o caminho para encontrá-la podem fundamentar-se em dogmas. E aqui está:

Seu grande mérito: transformar seu grandioso edifício filosófico num sistema fundado na Razão e excluindo definitivamente todo recurso aos ocultismos e vitalismos e suscetível de harmonizar de outro modo ciência, filosofia e religião. Por isso, forneceu um quadro coerente, harmonioso e completo do mundo. O homem entregue a si mesmo não é mais este ser perdido [...] deverá recusar a autoridade dos Antigos e encontrar seu caminho com suas próprias forças, vale dizer, dominar o discurso e atingir a verdade nas ciências graças a este verdadeiro ‘guia dos perdidos’ dos novos tempos que é

o método, repousando na intuição racional (JAPIASSU, 2007, p. 102, grifo do autor)15.

Ao não ser inventor, no sentido de ter tido nenhuma criação de nova maquinaria que tenha contribuído de modo direto com a revolução das ciências do século XVII, sua teoria foi muito além de qualquer limitação temporal (MURSELL, 2013)21. Pela sua filosofia mecanicista também influenciou a física moderna e as demais ciências naturais desprovidas da metafísica antiga e medieval. Apesar de sua obra ter sido banida pelo Sínodo de Dordrecht de 1656 e pelo Index em 1663, sua concepção de ciência contribuirá para sua solidez moderna ao passar a ser compreendida como um saber certo, uno e como instrumento de dominação da natureza (BUTTERFIELD, 1959)10. Seu modo de pensar, de certo modo, ainda continua presente no moderno paradigma científico ainda hegemônico nos dias atuais.

A observação atenta de seu pensamento e sua prática em ciência mostra que ele tinha uma concepção clara não apenas sobre o conhecimento científico, visto como um todo, mas também sobre o papel da experimentação e das hipóteses nas descobertas e explicações que fundamentavam esse conhecimento [...] Valorizava a verdadeira demonstração científica, especialmente a concepção dos geômetras, de um sistema deduzido a partir de premissas claras e distintas [...] o conhecimento científico tinha de ser tanto demonstrativo quanto interpretativo. Para Descartes, os dois modos caminhavam juntos (CROMBIE, 2007, p. 600-1)6.

De acordo com Koyré (1992)22 e o Dicionário de Biografias Científicas (2007)23 organizado por famosos professores estadunidenses, as influências de Descartes não podem ser encontradas apenas na Filosofia, na Matemática, Física e Fisiologia. Ao arquitetar uma nova ciência distanciada da teologia medieval, foi um grande incentivador dos avanços da própria Revolução Científica aqui em questão.


3. CONCLUSÃO

Conclui-se a presente pesquisa ressaltando a grande importância de Descartes à ciência moderna. Isso porque ele trouxe contribuições diretas na Matemática e na Física, e indiretas na Fisiologia e outras áreas. Na primeira delas, criou o plano cartesiano empregado para a demonstração, desde um monitoramento de um terremoto a um cenário da bolsa de valores de um país. Além disso, apresentou inovações na geometria, na álgebra e no cálculo. Na segunda delas, apresentou a conhecida lei dos senos e participou de importantes discussões sobre
mecânica. Na terceira delas, inspirou novos cientistas a partir da disseção de órgãos e na busca da compreensão do funcionamento de seu mecanicismo. Descartes desempenhou significativas contribuições à solidez da ciência moderna. O próprio fato de ser considerado perigoso para a época – por parte da igreja que ainda tinha muita força no período – revela o quanto seu pensamento estava à frente de sua época.Brilhante matemático do plano cartesiano, da geometria analítica e do aperfeiçoamento da teoria do cálculo, deixou marcas profundas na formação de um dos maiores nomes da ciência moderna: Isaac Newton.

Não apenas por essas suas influências pontuais, também deixadas em Pascal, Kant, Leibniz, Malebranche, Augusto Comte entre tantos outros pensadores e cientistas como Einstein, mas por ter sistematizado um método de uma ciência entendida como necessária e universal em favor da técnica que ressalta-se a importância do mesmo.

Dando as costas ao paradigma escolástico voltado a contemplação das verdades orientadas pela fé, nesse sentido, eis que também se percebe claramente as influências de Bacon no pensamento cartesiano. Embora racionalista, como se lê na sexta parte do Discurso do Método, também buscava conhecer para dominar a natureza e poder transformá-la em favor dos interesses do homem. Apesar de não ter sido inventor ou aplicado totalmente seu conhecimento nos fenômenos empíricos, foi extremamente importante por ter sido um dos teóricos da revolução científica daquela época. Ainda que hoje haja outros modos de olhar a ciência e sua fabricação, não há como negar a importância de um autor como Descartes.

Foi imprescindível, para aquele período, que alguém apresentasse a todos o grande potencial racional que o homem possui, ainda mais a partir do domínio de um método que ainda hoje, em parte, segue-se na construção de qualquer projeto de pesquisa universitária. Também observa-se um grande avanço naquele sistema de pensamento científico em não buscar entender a matéria pela análise da mesma, mas antes pela compreensão dos próprios princípios que a antecedem. Fala-se das ideias claras e evidentes a que se solapa por meio de um novo método racional. Uma compreensão de um saber alcançado pela aplicação de um método rigoroso, fechado e aplicado numa dada área de pesquisa. Um conhecimento daí resultante, que tivesse a necessidade e a universalidade como atributos principais. De fato, uma síntese de uma visão científica moderna, ainda em voga na atualidade, mas muito associada ao cartesianismo.

Além de o Filósofo ter aconselhado cientistas daquela época, continua inspirando o fazer ciências em nossa própria atualidade. Tendo analisado variados livros de Metodologia Científica, observa-se ainda ser predominante a necessidade de apresentar um problema e um método antes da realização de qualquer pesquisa. E essas são algumas das outras tantas influências cartesianas legadas à contemporaneidade. Além de ser reconhecido como o pai da filosofia moderna, também é facilmente associado como fundador da ciência desse mesmo período. Isso, pois, assim como um novo modo de se fazer filosofia, ele expôs um novo modo racional de pensar. Esse racional espírito filosófico científico, por meio do questionamento da autoridade e de qualquer verdade que não fosse clara e evidente, foi um de seus maiores legados. Ao ter apresentado a razão como uma ferramenta confiável para o ser humano interferir na realidade, tornou possível a revolução científica do século XVII e a própria evolução da Física nos séculos XVII e XVIII.6


1.         Cotrim G. Fundamentos da filosofia. São Paulo: Saraiva; 2006.
2.         Lins I. Descartes: Época, Vida e Obra. [S.l.:s.n.]; 1940.
3.         Descartes R. Discurso do Método. São Paulo: Nova Cultural; 1996.
4.         Downs R. Obras Básicas: fundamentos do pensamento moderno. Rio de Janeiro: Renes; 1969.

5.         Cortella M. Descartes: a paixão pela razão. São Paulo: FTD; 1988.
6.         Crombie AC. Filosofia natural e método científico. IN: Dicionário de Biografias Científicas. Rio de
Janeiro: Contraponto; 2007.
7.         Cottingham J. Dicionário Descartes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar; 1995.

6 A este respeito, veja: Cortella (1988)5.
8.         Mahoney MS. Matemática e física. IN: Dicionário de Biografias Científicas. Rio de Janeiro: Contraponto; 2007.

9.         Descartes R. O Mundo ou Tratado da Luz. São Paulo: Hedra; 2008.

10.      Butterfield H. The origins of Modern Science. New York: The Macmillan Company; 1959.

11.      Santos WS. Refração, as Velocidades da Luz e Metamateriais, 2010. (Dissertação de Mestrado em Ensino de Física) – Programa de Pós-Graduação em Ensino de Física, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro; 2010.

12.      Rodis-Lewis G. A vida de Descartes e o desenvolvimento de sua filosofia. In: Cottingham J (org).
Descartes. Aparecida, São Paulo: ideias e letras; 2009.

13.      Brown TM. Fisiologia. In: Dicionário de Biografias Científicas. Rio de Janeiro: Contraponto; 2007.
14.      Desné R. A Filosofia Francesa no Século XVIII. IN: Chatelet F. O iluminismo: o século XVIII. Rio
de Janeiro: Zahar editores; 1974.
15.      Japiassu H. Como nasceu a ciência moderna. Rio de Janeiro: Imago; 2007.
16.      Descartes R. Dos princípios da filosofia. Revista Analytica, Porto Alegre. 1998; 3 (2).
17.      Cottingham J (org). Descartes. Aparecida, São Paulo: ideias e letras; 2009.

18.      Garber D. Descartes and the Scientific Revolution: Some Kuhnian Reflections, Perspectives on
Science,                  EUA.                   2001;                  9                  (4).   
               Disponível                   em:http://muse.edu/journals/posc/summary/v009/9.4garber.html. Acesso em: 25 jun. 2013.

19.      Domingues I. Grau Zero do Conhecimento, o Problema da Fundamentacao das Ciências. São Paulo: Loyola; 1991.

20.      Descartes R. Dos princípios da filosofia. Revista Analytica, Porto Alegre. 1997; 2 (1).

21.      Mursell J. The function of intuition in Descartes´ Philosophy of Science, The Philosophical Review, EUA. 1919; 28 (4). Disponível em: http://www.jstor.org/stable/2178199. Acesso em: 25 jun. 2013.

22.      Koyré A. Considerações sobre Descartes. Lisboa: Ed. Presença; 1992.
23.      Gillispie C (org.). Dicionário de Biografias Científicas. Rio de Janeiro: Contraponto; 2007.
24.      Santos BS. Um discurso sobre as ciências. Porto, Portugal: Edições Afrontamento; 1995.


25.      Einstein A. Como vejo o mundo. São Paulo: Nova Fronteira; 1981.

FRANCIS BACON E SUA IMPORTÂNCIA PARA O PROGRESSO CIENTIFICO


A estagnação da ciência para Bacon era resultado do método utilizado até o momento que barrava o progresso da ciência.. Este trabalho objetivou-se em refletir sobre a idéia de ciência e progresso na filosofia baconiana e a importância desse método para o desenvolvimento do progresso do conhecimento técnico e científico da sociedade moderna. A metodologia usada foi o levantamento teórico nas principais obras de Bacon e em alguns artigos especializados. Para ocorre o domínio da natureza pelo homem é necessário que estes sejam mestres do mundo, exercendo poder sobre as coisas e transformando os objetos para que eles nós sirvam, porém para que isto aconteça o homem deve conhecê-la e suas leis, para que o homem possa submeter ela aos domínios das técnicas, Bacon irá retratar está sociedade do conhecimento e da técnica através da historia utópica denominada “nova Atlântida”.


INTRODUÇÃO

Quando se pretende conhecer a vida e caminhos trilhados por um determinado filósofo, torna-se profícua a compreensão de seu pensamento e da vivência social do mesmo, levando em conta o espaço temporal que serviu para a construção dos seus pensamentos. Assim a priori neste trabalho irar-se-á observar algumas características sociais vivenciadas por Francis Bacon e a emergência do seu pensamento filosófico.Francis Bacon nasceu em Londres, no ano de 1561, em uma sociedade que já demonstrava uma aliança entre a filosofia e a ciência, em uma Inglaterra que já apontava a ascendência do capitalismo burguês, repleta de tensões sociais, políticas e religiosas, que estava correlata em dificuldades financeiras e com uma política de corrupção e de apadrinhamento (Japiassu, 1995).Herdeiro da nobreza era filho de um Jurisconsultor Nicolas Bacon e de uma das mulheres mais instruídas da Inglaterra Ann Cook, o pai era homem de confiança dos selos do reinado de Elizabeth, tal herança orientou Bacon desde cedo para o serviço público da coroa.
Após terminar os estudos primários com forte presença da formação retórica e dialética, Bacon ingressa no Trinity College de Cambridge, desde o primário já sentia uma antipatia ao ensino escolástico que era um culto a Aristóteles. Essa rejeição convence Bacon da necessidade de desviar a filosofia do conhecimento estéril da escolástica, sobre este termo Bacon pretende garantir que a filosofia caminhe para o seu próprio desenvolvimento, ela deverá caminhar obedecendo a sua luz própria, luzes capazes de contribuir para o bem estar da humanidade.Desde sedo Bacon dedica-se a sua grande obra, a Instauration Magma Scientiarum (Grande instauração das ciências), que deveria ser produzida em seis partes, porém o mesmo morre antes de terminá-la. Apenas duas foram concluídas a De dignitude et Augmentis Scientiarum ( Da dignidade e do crescimento das ciências) e o segundo foi inscrito três anos antes da primeira publicação em 1620, que confrontava o Órganum produzido por Aristóteles, chamado por Bacon de o Novum Órganum ou indicação verdadeiras acerca da interpretação da natureza (Japiassu, 1995), cujo este trabalho pretende explicitar a explicação do método baconiano para o progresso da ciência.Este trabalho objetiva-se refletir sobre a idéia de Ciência e Progresso na filosofia baconiana e a importância desse método para o desenvolvimento do progresso doconhecimento técnico e científico da sociedade moderna. A metodologia usada foi o levantamento teórico nas principais obras de Bacon e em alguns artigos especializados.
O trabalho foi subdividido em três partes, a primeira trás uma explanação sobre  o método ou ciência do conhecimento em Francis Bacon, discutido o novo método e conseqüentemente o progresso exposto por Bacon e o atraso da ciência sobre o silogismo escolástico herdados de Aristóteles. A segunda parte relata o progresso alcançada pela ciência através da descrição e da emergência científica laçando pelo método dedutivo, que conduzia o pensamento científico ao progresso do conhecimento para o aperfeiçoamento da ciência e  para o aperfeiçoamento da ordem social. A última trás a conclusão obtida através das leituras realizadas nesta pesquisa para compreender o significado da filosofia teórica descrita por Francis Bacon.No Novum Órganum Bacon propõe o método indutivo que deve substituir o método aristotélico dedutivo tradicional, na primeira parte do livro, dividido em aforismo Bacon escreve as causas que dificultavam o progresso das ciências, aborda como estes entraves o abuso do silogismo, criticando arduamente o método aristotélico como detestável sofista e sutil (Novum Organum, 1992, Japiassu, 1995).

Em um mundo que quer achar e andar por novos caminhos para nada serve o silogismo, resulta na esterilidade por se incapaz de descobrir novas verdades... A alternativa é clara: continuar na neblina de um pseudo- conhecimento acumulado por tradição e encontrado por acaso, ou buscar o caminho que nos assegure o descobrimento progressivo dos segredos da natureza (NOVUM ORGANUM; significado y contenido del Novum Organum por Rosieri Frondizi, 1949).

Na segunda parte da obra Bacon apresenta as direções para o novo método, que será aprofundado nas próximas laudas deste trabalho. Bacon dedicou-se à conhecer a natureza, e assim, melhor dominá-la. É para Bacon, compreender e conhecer a natureza, é necessária uma nova concepção da razão e da experiência.O conhecimento da natureza deveria servir a crescente burguesia ávida por poder na Inglaterra, pois a riqueza deve ser fruto do trabalho, das realizações e do saber dos indivíduos, por isso que para Francis Bacon “Saber é poder”, e esse saber levará ao progresso do conhecimento e este a submissão das formas ou fenômenos naturais aos desejos humanos.Para que ocorra este domínio da natureza pelo homem é necessário que estes sejam mestres do mundo, exercendo poder sobre as coisas e transformando os objetos para que eles nus sirvam, porém para que isto aconteça o homem deve conhecê-la e suas leis, para que o homem possa submeter ela aos domínios das técnicas, Bacon irá retratar esta sociedade do conhecimento e da técnica através da historia utópica denominada A Nova Atlântida.
Deste modo o aprofundamento teórico da Nova Atlântida seria o aperfeiçoar a ciência e a ordem social (progresso). Coordenar e supervisionar os empreendimentos, isto seria responsabilidades dos homens de ciência. Nessa cidade a ciência teria objetivo especificamente humano: o de lutar contra a ignorância, contra a miséria e o sofrimento. Todos os indivíduos são livres com dedicação exclusiva ao bem da humanidade e a ampliação do saber. Cabe aos homens da ciência preocupar-se com a propagação da ciência e da cultura (Japiassu, 2005; Andery, 2007).


MÉTODO E PROGRESSO DO CONHECIMENTO BACONIANO:

... Aristóteles estabelecia antes as conclusões, não consultava devidamente a experiência para estabelecimento de suas resoluções e axiomas. E tendo, ao seu arbítrio, assim decidido, submetia a experiência como a uma escrava para conformá-la às suas opiniões. Eis porque está a merecer mais censuras que os seguidores modernos, os filósofos escolásticos, que abandonaram totalmente a experiência (NOVUM ORGANUM, Livro. I, Aforismo. LXIII).

A estagnação da ciência para Bacon era resultado do método utilizado até o momento que barrava o progresso da ciência. Pois o mesmo não partia da experimentação, do teste e dos sentidos, mas da tradição, de idéias e de procedimentos que negavam as explicações práticas. As ciências devem buscar as causas das formas e dos fenômenos para poder dispor dos efeitos. O estado de estagnação das ciências resulta da utilização de maus métodos. Por isso, Bacon preconiza a necessidade de um método que nos faça descobrir as causas naturais dos fatos (Japiassu, 1995).Bacon, portanto, propõe que o avanço da ciência estaria na realização de grandes e cuidadosos números de experiências, sendo que essas deveriam ser realizadas de forma sistematizadas, com a finalidade de abstrair os conhecimentos, e a com esses conhecimentos propor novas experimentações para comprovar uma determinada natureza das formas e dos fenômenos naturais (Rossi, 1923).Bacon elabora então o método indutivo, esse se preocupa em um processo de eliminação que permiti separar os fenômenos que buscamos conhecer dos que não fazem parte dele. O procedimento de eliminação não envolve apenas a observação e a analise dos fluxos naturais dos fenômenos, mas também a execução de várias experiências no meio natural.

Caberia ainda ao processo indutivo multiplicar e diversificar as experiências, alterando as condições de sua realização, repeti-las, ampliá-las, aplicar os resultados, verificar as circunstâncias em que o fenômeno está presente, circunstância em que está ausente e as possíveis variações do fenômeno (ROSSI, 1989, p. 198)

A indução é um procedimento analítico e de eliminação, com a finalidade de obter a natureza da forma, porém separando-a das outras naturezas com as quais se encontra misturada. Assim para o melhor entendimento da forma a indução deve ser precedida pela experiência, além da necessidade de multiplicar e diversificar as mesmas.

A investigação das formas assim procede: sobre uma natureza dada deve-se em primeiro lugar fazer uma citação perante o intelecto de todas as instâncias conhecidas que concordam com uma mesma natureza, mesmo que se encontrem em matérias semelhantes. E essa coleção deve ser feita historicamente, sem especulações prematuras ou requinte demasiado. (NOVUM ORGANUM, livro II, aforismo XI).

Para esse entendimento é fundamental praticar a indução verdadeira, uma indução realmente provável, susceptível de prova que, uma vez compreendida a causa, cessa o efeito. Assim toda pesquisa experimental coerente, bem delimitada deve se apoiar em três tábuas de investigação, além dos recursos auxiliares do entendimento da forma. As três tábuas constituem o núcleo central da indução baconiana, o método de investigação da natureza que permiti um correto conhecimento dos fenômenos partindo dos fatos concretos, tais como se dão na experiência ascendendo às formas gerais, que constituem suas leis e causas, é delimitado na observação das três tábuas.A primeira tábua denomina-se a de Presença, ela trata do recolhimento e coleta de grande número de fatos. O pesquisador deve anotar suas observações, organizar uma exploração da natureza dada, e colocar questões a essa natureza, através da realização de experiências, Bacon norteia oito meios de observação, que são: União, variação, prolongação, transferência, inversão, compulsão, mudança de condições e a repetição.O primeiro passo do método indutivo é recolher e coletar o mais variados fatos. Esses por sua vez devem ser observados, organizados e sistematizados através das questões que foram colocados a natureza, ou seja, realizar experiências, contando ainda com o senso investigativo do sábio (pesquisador).A segunda tábua é a de ausência, propõe classificar os fatos, consiste em repartir os fatos em listas metódicas nas quais são transcritas os resultados das experiências tendendo estabelecer a causa de um fenômeno, assim cita Bacon:

Em segundo lugar, deve-se fazer uma citação perante o intelecto, das instâncias privadas da natureza dada, uma vez que a forma, como já foi dito, deve está ausente quando está ausente a natureza, bem como estar presente quando a natureza está presente (NOVUM ORGANUM, livro II, aforismo XII).

Esse momento corresponde à repartição dos fatos através dos levantamentos das taboas de investigação, cuja qual, contemplam os resultados das experiências.A terceira tábua de investigação é a de graus ou comparação, ela consiste na comparação das experiências que foram codificadas, possibilitando uma interpretação. O estudioso encontra a causa do fenômeno e sua lei. Essa tábua compreende dois tempos: o primeiro a comparação da tábua, nessa fase a interpretação é hipotética, nessa fase percebe-se a presença, ausência e a variação do fenômeno estudado; e na segunda parte a hipótese é verificada, deve ocorrer à instituição de uma experiência precisa e limitada na qual a hipótese deve tornar-se explicação definitiva, ou ser derrubada e abandonada. Ou seja, através de fatos privilegiados, esse momento coloca a natureza em contraposição de suas variáveis, exprimindo uma última vez para verificar a hipótese (Japiassu, 1995, p. 53).

Em terceiro lugar, é necessário fazer-se citações perante o intelecto das instâncias cuja natureza, quando investigada, está presente em mais ou menos, seja depois de ter feito comparação do aumento e da diminuição em um mesmo objeto, seja depois de ter feito comparação em objetos diversos (NOVUM ORGANUM, livro II, aforismo XIII).

Portanto, o método de Bacon propõe que sejam recolhidos todos os fatos possíveis, que sejam feitas todas as observações possíveis e que sejam realizadas todas as experimentações praticáveis. Com isso, nota-se que a indução consiste em extrair dos fatos uma forma, e essa forma são o princípio e essência das coisas naturais, para compreender a natureza é fundamental conhecer suas formas e suas manifestações através das ocorrências dos fenômenos.Para diminuir erros, Bacon propõe ainda a analise das instâncias prerrogativas, que são recursos auxiliares do entendimento da natureza da forma. Bacon expõe 27 instâncias, porém neste trabalho iremos comentar duas instâncias que foram escolhidas ao acaso.

Depois das tábuas de primeira citação, depois da rejeição ou exclusão e depois da primeira vindima, feito segundo aquelas tábuas, é necessário passar para outros auxílios do intelecto na interpretação da natureza, bem como à indução verdadeira e perfeita (NOVUM ORGANUM, Livro II, Aforismo XXI).

As instâncias que serão observadas neste trabalho, correspondem a de número XII e a de número XVIII, presente no livro II do Novum Órganum, a primeira é denominada a instância subjuntiva ou da extremidade ou a do termo e a XVIII é a instância de caminho ou itinerantes ou articuladas. A décima segunda instância, segundo Bacon:

Indicam de modo não obscuro, as dimensões das coisas e as verdadeiras divisões da natureza, o limite até o qual atua a natureza e produz algo, e, em fim, a passagem da natureza a outra coisa. (NOVUM ORGANUM, Livro II, Aforismo XXXIV).

Essa instância relata os aspectos específicos para a origem de uma determinada forma corpo na natureza, aborda que cada matéria (forma), apresenta uma característica singular para sua origem, então o ferro necessitou de algumas características particulares existente em um determinado período de tempo, temperatura, tipo de rocha, pressão, dentre outros.Tais instâncias não são úteis apenas se juntas a proposições fixas, mas também por si mesmas e em suas próprias propriedades. Bacon relata o seguinte exemplo para demonstrar a aplicabilidade desta instância: o caso do ouro em relação ao peso; do ferro em relação à dureza, da baleia em relação ao tamanho dos outros animais, do cão em relação ao seu olfato apurado, da inflamação da pólvora em relação à explosão violenta, e coisas semelhantes.A próxima instância é a do caminho ou instância itinerante ou articulada, essa instância segundo Bacon, é a que indica o movimento uniforme e gradual na natureza. Esse gênero de instância escapa mais à observação que aos sentidos, pois é espantosa a negligência dos homens a seu respeito...”. (NOVUM ORGANUM, Livro II, Aforismo XLI).Bacon expõe nesta instancias que os “homens” (pesquisador) só estudam a natureza a intervalos ou periodicamente e quando os corpos já estão acabados e completos, e não em sua operação. Para compreender esta instância Bacon cita o seguinte exemplo “na investigação


sobre a vegetação das plantas, é necessário começar pelas sementes, observando-as quase diariamente, enterradas, e retirando-as da terra, a dois, a seguir depois de três, para poder entender de que modo e em que momento as sementes começam a inchar e intumescer-se, a encher-se de espírito; depois, a romper o revestimento emitindo os primeiros brotos para fora da terra, se estes não forem impedidos pela dureza do terreno; para se verificar de que modo se lançam as fibras, com as raízes para baixo, como os ramos para cima, que às vezes se prendem lateralmente, se o terreno assim o facilita, e assim por diante” (1992, p. 184).
Essas instâncias contribuem para que o pesquisador não compreenda a forma de maneira contemplativa, mas que aumente o conhecimento intelectual e prático do domínio da natureza, assim relata Bacon, sobre as finalidades das instâncias: os usos dessas instâncias, no que se sobrepõem às instâncias vulgares, relacionam-se em geral ou com a parte informativa ou com a parte operativa, ou com ambas (NOVUM ORGANUM, Livro II, Aforismo LII).“Pelo pecado o homem perdeu a inocência e o domínio das criaturas. Ambas as perdas podem ser reparadas, mesmo que parte, ainda nesta vida; a primeira com a religião e com a fé, a segunda com as artes e com as ciências”. (NOVUM ORGANUM, Livro II, Aforismo LII). Bacon, portanto expõe que ainda há tempo para o homem abandonar o atraso do conhecimento estagnado pela ciência aristotélica, e pode progredir através do novo método o conhecimento sobre a natureza, que deve ser conquistada através do trabalho e do novo conhecimento, possibilitando a esses sonhar em conquistar uma qualidade de vida, proveniente da técnica.
Francis Bacon constrói uma histórica utópica para explicar o modo que a técnica e o novo conhecimento poderiam melhorar a qualidade de vida da humanidade. A Nova Atlântida não foi terminada e descrevia uma sociedade técnica e passava pelo progresso tanto do conhecimento intelectual como dos benefícios prática para a vida humana, Bacon expõe nessa fábula, que o saber deve ser uma ciência progressiva, feita por resultados obtidos por pesquisadores que trabalham de modo cooperativo. Ele está convencido de que a verdade é filha do tempo e não da autoridade. O saber que nasce da colaboração entre pesquisadores é um saber que exige novas instituições que incentivem novos saberes, essa descrição de uma sociedade ideal pode ser resumida pela citação abaixo:

O projeto baconiano consiste em negar que existe verdade ou conhecimento em si. Porque todo conhecimento deve ser útil ao homem, deve servir para a instauração do “Reino do homem”, quer dizer, para a felicidade de todos. Graças à ciência, a vida de cada homem será mais fácil, mais feliz, isenta de
trabalho, de desolação, de tristeza, de doenças, de golpes do destino, equivalendo à transformação do mundo. Para realizar esse projeto, devemos conhecer as causas das leis naturais, forçar a Natureza a colocar-se a serviço do “reino humano”, vale dizer, tornar-nos mestres do mundo, exercer nosso poder sobre as coisas e transformar os objetos para que eles nos sirvam! Bacon traça os planos de uma “Nova Atlântida” onde deve reinar a felicidade. Ela é dotada de uma organização de pesquisa, da descoberta e da invenções. São descritas invenções fantásticas. A ilha abrigará o templo de Salomão que seria uma verdadeira “Universidade Técnica” (Japiassu, 1995, p. 130).

Assim a idéia de progresso em Bacon esta diretamente ligada ao crescimento da qualidade de vida da humanidade resultante do conhecimento técnico e intelectual do conhecimento.

IDÉIA DE PROGRESSO EM FRANCIS BACON

Toda a obra de Francis Bacon segundo Rossi (1989) se destina a substituir uma cultura de tipo retórico-literário por uma de tipo técnica-científica. Com objetivo intrínseco de aplicar o conhecimento científico e tecnológico nas atividades de produção industriais, a serviço do progresso.Observando tal aspecto é interessante compreender que a idéia de progresso em Bacon não visa apenas à necessidade de uma ruptura com o modo de pensar a ciência até então, mas propunha também uma ruptura no modo de vida e de relação das pessoas.O método indutivo para Bacon possibilitaria a construção do alicerce de um conhecimento correto dos fenômenos e de suas formas, onde o bem-estar do homem estaria no entendimento que ele possui sobre a natureza. Portanto é fundamental o domínio do homem sobre a natureza, a partir do conhecimento técnico dos fenômenos naturais.Para conhecer tais fenômenos Bacon segue a tendência ao método experimental, muito bem descrita por Souza (2008):
[...] trata-se de explicitar o método seguro de interpretação da natureza, que é o que ele chama de indução verdadeira’, que parte da observação regrada e sistematizada dos fatos naturais para ascender progressivamente a axiomas intermediários até alcançar os axiomas mais gerais (2008, p. 18).


Rossi (1989), afirma que Bacon atribui a algumas categorias um valor universal, desta forma descrita: a colaboração a progressividade, a perfectibilidade e a invenção, serviriam para classificar todo o campo do saber humano e assim adotar um modelo mecanicista para oprogresso do conhecimento, que uma vez iniciada, funcionaria sozinha. A verdadeira filosofia não guarda intacto na memória o material fornecido pela história natural e pelas artes mecânicas, mas conserva-o transformado e digerido no intelecto (BACON, 1992). Rossi (1989) acredita que a concepção de ciência na filosofia de Bacon, possui um papel decisivo e determinante na formação da idéia de progresso, que pode ser entendida em três pontos principais: o primeiro é que Bacon concebe que o saber não deve caminhar pela inércia, mas deve trilhar novos caminhos para o desenvolvimento do saber científico. O segundo é que ele está convicto de que esse saber nunca estará terminado e a terceira é que a ciência não se apresenta como um conjunto de teorias contrapostas, mas como um processo em desenvolvimento, apresentando-se como teorias gerais que incluem as teorias velhas.
Assim ,para Bacon, o progresso do conhecimento seria as mudanças sociais e políticas conduzidas por um novo método. O desenvolvimento das ciências e da filosofia propiciaria uma grande mudança do conhecimento humano e uma reforma na vida dos homens (GALVÃO, 2010). O progresso pode ser sentido em nossa sociedade, através das constantes inovações técnicas que vivenciamos, pois foi Bacon que combateu o conhecimento especulativo que atrasava o progresso da ciência, como aborda Krohn (2003, p. 34) apud Galvão (2010, p. 10): Todo o desenvolvimento da sociedade está presente na filosofia de Bacon. Cada controvérsia do presente pode ser estimulada e confundida pelos aforismos e fragmentos de seu pensamento.
Exemplo disto é a diferença existente nos países dito desenvolvidos que apresenta um índice de socioeconômico bem mais elevado que os países subdesenvolvidos, isto se dá em partes ao fato de os países periféricos não terem conseguido acompanhar a intensa aceleração nos avanços tecnológicos alcançados pelas nações mais ricas.Para Bacon, o conhecimento não deveria ser dominado por poucos, mais deveria ser geograficamente distribuído por todas as nações do globo (Nova Atlântida, 1992), porém isso não ocorreu na construção histórica da formação social, cultural e econômica dos países subdesenvolvidos e nem ocorre na atualidade, resultando em atrasos econômicos e sociais de algumas nações. Esse atraso tecnológico dificulta o desenvolvimento dos países, ao gerar uma grande desigualdade no comércio internacional, com vantagens para os países desenvolvidos, e desvantagens para a periferia se podem notar tais aspectos até mesmo na Divisão Internacional do Trabalho (VESENTINI, 2004).
De um lado estão os países subdesenvolvidos, menos avançados tecnologicamente e que, em sua maioria, continuam dependentes de produtos de ponta, em outro ponto continua a produzir os bens mais baratos existentes no mercado internacional que são gêneros agrícolas e recursos minerais. No lado oposto estão os países desenvolvidos exportadores de produtos mais avançados tecnologicamente, cujos preços valorizam-se cada vez mais, frente a suas importações de materiais primários.Bacon escreveu seu pensamento há três séculos, mas suas inquietações podem ser bastante discutidas na atualidade, Como na idéia de que quanto maior é o investimento de um país em tecnologia e educação, maior é seu desenvolvimento e acesso aos bens produzidos, portanto, menor serão as desigualdades sociais, econômicas, políticas e culturais presentes em sua população, como escreveu Francis Bacon em sua Utópica estória Nova Atlântica, mostrando seu ideal de progresso e ciência.

CONCLUSÃO

A Grande Instauração define um inventário das possibilidades técnicas e científicas da humanidade, esta deveria buscar uma teoria do conhecimento formulada num código de procedimentos para congregar o saber e seu desenvolvimento sistemático. O conhecimento não poderia pertencer a um grupo, mas deveria acompanhar a expansão geográfica, não podendo este conhecimento limitar-se na inércia das antigas invenções.Bacon classifica no Novum Órganum as disciplinas segundo sua relação fundamental com as faculdades humanas, pois o progresso do conhecimento (saber) deve obedecer a uma ordem rigorosa, mas peca em não considerar as matemáticas como ciência. Bacon se dedica de corpo e alma à realização de conhecer a natureza, e assim, melhor dominá-la. Após definir suas leis teóricas, procura subordiná-la aos seus ideais. Já no final da sua vida descreve seu sonho utópico, através do desenvolvimento de um centro de pesquisa científica, um mundo que descreve o conhecimento técnico-científico em prol da melhor qualidade de vida para as sociedades, denominada: a Nova Atlântida, obra inacabada e publicada em 1627.
Dessa maneira é importante compreender o conceito de domínio da natureza para Bacon. Francis Bacon, filósofo e político inglês demonstrou que deveriam ter uma relação racional entre o homem e a natureza, de certo modo para ele, esta última deveria qualificar a vida humana, porém seu uso deveria ser feita de forma correta, pois para ele o saber (conhecimento) é poder. Através do conhecimento poderíamos manter relações mais adequadas com o meio natural e com a própria ordem social sem degradar as relações que existe neste de forma tão rápida como a sociedade contemporânea vem fazendo.
Então, portanto concluir-se que Francis Bacon:

   Propõe uma instauração do saber, para que o conhecimento seja algo importante,  é necessário se criar um novo saber, por tanto critica o Órganum inscrito por Aristóteles a cerca de mais de dois mil que barrava o progresso da ciência.
   Bacon fornece um passo à introdução a ciência moderna.
   É o primeiro a se preocupar com o método, progresso e técnica.
   Bacon lutava contra o mundo medieval, e que a ciência estava estagnada na Igreja.
   Descreve que o homem deve saber viver e conseqüentemente usar a natureza para progredir nas suas relações sociais em busca da melhor qualidade de vida.
   Francis Bacon aumenta o degrau que separa homem e natureza.

Então o método baconiano foi fundamental para o progresso do conhecimento, pois conduz o pesquisador compreender e a buscar as causas dos fenômenos que deseja estudar, instiga o pesquisador a analisar todos os objetos puros em busca de um conhecimento efetivo e longe dos erros, para alcançar tais objetivos o pesquisador deve executar experimentação e seguir de forma bem sistematizada a metodologia adotada na pesquisa, contemplada no método indutivo, cauteloso e sistematizado lançado pela filosofia de Francis Bacon.


REFERÊNCIAS

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BACON, Francis. O progresso do Conhecimento. Trad., apresentação e nota de Raul Fiker- São Paulo: Ed. UNESP, 2007.
BACON, Francis, 1909 - 1992. . Ensayos. Buenos Aires: Aguilar, 1965. 238 p. (Biblioteca de Iniciação Filosófica;7)
BACON, Francis, 1909 - 1992. Novum Organum ou Verdadeiras Indicações acerca da Interpretação da Natureza. São Paulo: Abril Cultural, 1973. 278 p. (Os pensadores; 13).
BACON, Francis, 1909 - 1992. Novum Organum. Buenos Aires: Losada, 1949. 341 p. (Biblioteca filosófica).





CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. 12. Ed. São Paulo: Ática, 2002.
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JAPIASSU, Hilton. Francis Bacon: o profeta da ciência moderna. São Paulo: Letras & Letras, 1995. 142 p.
PEREIRA, M. E. M. A Indução para o Conhecimento e o Conhecimento para a Vida Prática: Francis Bacon (1561-1626). In. ANDREY, M. A. Para Compreender A Ciência: uma perspectiva histórica. Rio de Janeiro: Ed. Garamond, 2007.
ROSSI, P. O filósofo e suas máquinas. São Paulo, Cia das Letras, 1989.
SANTOS, Antônio Carlos dos (Org). Filosofia & natureza: debates, embates e conexões. SOUZA, Maria das Graças de. A Filosofia da natureza em Bacon: a herança democritiana (17-27). São Cristóvão, SE: Editora da UFS, 2008. 200p.
VESENTINI, J. William, et all. Geografia Crítica. 31. Ed. São Paulo: Ártica, 2004.