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JOHN LOCKE

"todos os homens, que, sendo todos iguais e livres, nenhum deve prejudicar o outro, quanto à vida, à saúde, à liberdade, ao próprio bem". E, para que ninguém empreenda ferir os direitos alheios, a natureza autorizou cada um a proteger e conservar o inocente, reprimindo os que fazem o mal, direito natural de punir"

FRIEDRICH HAYEK

“A liberdade individual é inconciliável com a supremacia de um objetivo único ao qual a sociedade inteira tenha de ser subordinada de uma forma completa e permanente”

DEBATES FILOSÓFICOS

"A filosofia nasce do debate, se não existe a liberdade para o pensar, logo impera a ignorância"

A Filosofia é.....

"Viver sem filosofar é o que se chama ter os olhos fechados sem nunca os haver tentado abrir". Descartes

LIBERDADE

"Liberdade, Igualdade , Fraternidade. Sem isso não há filosofia. Sem isso não há existência digna.

"Nós temos um sistema que cobra cada vez mais impostos de quem trabalha e subsidia cada vez mais quem não trabalha"

LUDWING V. MISES

"O socialismo é a Grande Mentira do século XX. Embora prometesse a prosperidade, a igualdade e a segurança, só proporcionou pobreza, penúria e tirania. A igualdade foi alcançada apenas no sentido de que todos eram iguais em sua penúria"

sábado, 23 de outubro de 2010

QUEM REALMENTE SÃO OS HEREGES


LIBERDADE E ORTODOXIA - E A BUSCA DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO

Rubens Alves

Desejo falar referente à teologia dos grupos marginais no protestantismo brasileiro. Esta expressão “grupos marginais no Protestantismo” se refere especificamente, neste contexto, aqueles que foram forçados a deixar as igrejas, em decorrência de seu pensamento desviante. Entretanto ao tentar organizar minhas informações, cheguei à conclusão de que, mais significativo que este pensamento desviante são os mecanismo institucionais eclesiásticos que definem tal pensmanto como desviante.Ou seja, numa linguagem teológica, como pensamento heterodoxo ou herético. Isto é muito significativo em relação ao Protestantismo, porque este sempre proclamou o seu comprometimento com a liberdade de consciência e o livre exame. Que determinismos institucionais escondidos e latentes são este que igrejas protestantes a negar os princípios que elas conscientemente confessam ? Foi em resposta a esta questão que desenvolvi as reflexões que se seguem. E necessário notar que eles nada mais sãos que uma hipótese preliminar de trabalho. Que elas sejam entendidas menos como uma série de conclusões que como um pronto de interrogação. E a minha esperança é que elas possam se contribuir numa pista de investigação que possa ajudar-nos a elucidar uma das imensas contradições do protestantismo.

A reforma protestante, ao nível ideológico, se caracteriza por sua ênfase sobre os temas da liberdade e do livre exame. A justificação pela fé, ponto central da polêmica entre Lutero e a Igreja Católica é, na realidade, a expressão teológica da questão antropológica da liberdade. Não é, portanto, por acidente, que o reformador tenha definido o ponto crucial de sua luta em termos da oposição entre a liberdade do cristão, de um lado e a escravidão uma implícita no sistema institucional e sacramental do Catolicismo, de outro. “Assim, no seu tratado sobre a Escravidão da Vontade, Lutero escrevia a Erasmo:” O louvo e o recomendo... porque você somente, em, contraste como todos os outros, atacou a coisa real, isto é,a questão essencial. Você não me cansou com questões externas sobre Papado, os purgatório, as indulgências e coisa semelhantes – questões insignificantes antes que problemas reais – por cuja causa até o momento, quase todos os outros buscarem o meu sangue...; você somente você, viu o centro em torno do qual tudo o mais gira....”

E qual era a questão crucial? Nada menos que a questão dos pressupostos e condições da liberdade. Não é meu propósito analisar as linhas gerais da polêmica. Interessa-me simplesmente constatar a centralidade do problema da liberdade para a ideologia do protestantismo. É a temática da liberdade que faz com que Hegel veja a Reforma como um dos marcos decisivos na história. Segundo ele, ela significou uma ruptura com a “deferência servil para com a Autoridade” péla qual, “ o Espírito, havendo renunciado sua natureza própria e sua mais essencial qualidade .... perdeu a sua liberdade” . “ “Esta é a essência da Reforma”, ele continua; “o Homem, em sua própria natureza, está destinado a ser livre”. Paul Thilich interpreta “ o espírito do Protestantismo de forma semelhante. “ “O principio protestante”, ele afirma , “ expressão derivada do protesto dos protestantes, contra as decisões de uma maioria católica, contém o protesto divino e humano contra qualquer pretensão absoluta por parte de uma realidade relativa......” o principio protestante “ é o guardião contra as tentativas daquilo que é finito e condicionado, de usurpar o lugar do incondicional no pensar e no agir”. Em resumo : uma negação de todas as formas de totalitarismo e absolutIsmo.

Na medida em que o Protestantismo se definiu, ideologicamente, pela liberdade e, logicamente pelo livre exame da liberdade de consciência, ele se definiu em oposição a uma organização social que lançava mão da violência institucional, representadas pela a Inquisição, com o propósito de eliminar a divergência e fortalecer a sua uniformidade de pensamento e unidade política. A questão é saber se o protestantismo foi bem sucedido na criação de uma organização social alternativa, Istoé, uma organização social correspondente à sua ideologia.O fato histórico, entretanto, é que as práticas inquisitoriais continuariam em operação no Protestantismo. Práticas inquisitoriais são o conjunto de procedimentos institucionais cuja função é identificar e eliminar o pensamento divergente. Quanto a Lutero, é sabida a sua atitude para com os movimentos anabatistas, e o seu conselho que deveriam ser mortos como o mesmo espírito com que mata um cão raivoso. E quanto a Calvino, as fogueiras continuaram a ser cessas em Genebra, não apenas para queimar e Miguel Serveto, como também para a queima de dezenas de bruxas. Podemos nos desfazer desta evidência histórica perturbadora, explicando o comportamento dos reformadores como decorrência da atmosfera caótlico-medieval que à respiravam.

Assim fazendo, conseguimos salvar a ideologia protestante da liberdade e do livre exama, atribuindo as origens da inquisição protestante a um resíduo de espírito católico. Mas neste caso seria necessário demonstrar que o espírito e as práticas inquisitoriais desaparecem gradualmente do Protestantismo. E aparece que isto não é possível. O que se observa é o seu reaparecimento no seio do Prostesatantismo sempre que o pensmanto divergente ameaça a sua unidade política e teológica. Na verdade, seria possível interpretar as tendências protestantes para as divisões denominaionais e sectárias como expressão de práticas inquisitórias. É evidente que fogueiras não podem mais ser acesa. Entretanto, o fato de os grupos com pensmantos divergentes são forçados a deixar certa igreja, isto é uma evidencia da presença de mecanismo de controle de pensmanto extremamente eficazes na igreja de que foram forçados a sair.Poderíamos explicar a presença das práticas inquisitoriais no Protestantismo por meio de suas hipóteses que se excluem mutuamente:


1. As práticas inquisitoriais são desvios acidentais. Trata-se de aberrações transitórias e de deformações patológicas numa organização que essencialmente oposta à inquisição.

2. As práticas inquisitoriais não são aberrações transitórias e nem deformações patológicas de uma organização comprometida coma liberdade. Trata-se de decorrências naturais da própria instituição protestante. Neste caso, teríamos de reconhecer na temática da liberdade e do livre exame uma verdadeira inversão ideológica, que obscurece e falsifica os mecanismos reais em operação na organização em questão.

É necessário constatar, antes de qualquer coisa, que a sociedade não pode sobrevier sem mecanismo de controle e eliminação de desvio de pensamento e de conduta. A partir das escolas. Sua função é reproduzir, no educando, o conhecimento da realidade socialmente aceito, de tal forma que tal conhecimento seja introjetado e o educando venha a reconhecer o conhecimento social da realidade como sendo seu próprio. Quando isto ocorre identificam-se o conhecimento social e ao individual da realidade, e o educando está adequadamente socializado. Mas a socialização nunca é total. Observe-se sempre que certos grupos de indivíduos rejeitam as construções sócias da realidade, e elaboram para si, definições alternativas do que é o real e do que é comportamento próprio. Torna-se indivíduos desviantes da moralidade socialmente definida. E, como tais rompem a unidade cognitiva e comportamental da sociedade. Se o desvio tem conseqüências puramente individuais e domésticas, tais indivíduos são tratados como doentes mentais, e submetidos aos processos terapêuticos que têm por objetivos restaurá-los ao real e ajustá-los ás definições sociais.

Quando o comportamento e desviante tem conseqüências socais mais amplas, tal indivíduo é tratado como criminosos, e propriamente punidos e segregados. Tais são as funções dos manicômios e prisões. O mesmo processo de controle de pensmanto e de comportamento se observa em unidades menores, dentro da sociedade. Partidos políticos, comunidade cientifica e igrejas seriam instâncias do que acabamos de indicar. Os mecanismos para controle e eliminação do desvio das normas socialmente aceitas prevêem controle em dois níveis. O primeiro deles é o nível do comportamento propriamente dito, isto é aquilo que os homens fazem. Encontramo-nos aqui ao nível de moral. O segundo tem a ver com o comportamento intelectual, ou seja , aquilo que os homens afirma acera da realidade . Muito embora, á primeira vista a moral desviante possa parecer o comportamento mais perigoso para a unidade da saciedade, a verdade que o pensamento divergente é aquele que apresenta maior periculosidade abalando ordem social em questão nos seus próprios fundamentos.

O ladrão, que atenta concretamente contra a propriedade privada, é menos perigoso que aquele que, não sendo ladrão, contesta, ao nível intelectual, a legitimidade da propriedade privada. O primeiro deseja apenas resolver um problema prático particular. O segundo nega a validez da ordem social como um todo. De forma idêntica, num país comunista, um cidadão que se comporta concretamente de forma burguesa (talvez desejando enriquece-se operando no mercado negro de dólares) é menos perigoso que o filósofo que, aderindo a uma ética de austeridade proletária, rejeita a legitimidade da ordem política instituída. O primeiro assim como no caso anterior só busca vantagens pessoais. O segundo, ao contrário, sem buscar vantagens pessoais, denuncia todo um sistema e uma filosofia de vida. A prostituta, igualmente, é menos perigosa que o eunuco que afirma uma filosofia de amor livre. O desvio intelectual, em todos estes casos, é subversivo de uma totalidade, enquanto que o desvio comportamental deixa a totalidade como está, não questionando nunca a sua legitimidade, No caso especifico das instituições eclesiásticas, este fato se torna evidente quando notamos que é fácil reassimilar. Aqueles que cometeram deslizem morais, enquanto que é praticamente impossível fazer o mesmo com os hereges. O herege sim. O que comete os deslizes moral sabe que a verdade está com instituição. Esta é a razão porque comete o seu ato em segredo. Sua vergonha é indicio de que, ao nível cognitivo, ele reconhece o erro do seu comportamento. O herege, ao contrário, sabe que ele está certo e a instituição erra. Por isto não se envergonha, e pregam as suas idéias. O imoral religioso fundamentalista só deseja permissão para realizar os seus atos interesseiros. O herege deseja abolir um mundo e criar outro.

É necessário notar que o “herege” não se chama a si mesmo de herege. Sob o seu ponto de vista, ele proclama a verdade a uma instituição que se desviou da verdade. A heresia, portanto, na medida em que ela implica uma contestação de verdades cristalizadas por uma instituição, pressupõe os exercícios do livre exame. O herege é aquele que crê na voz de sua consciência, assumindo o risco da liberdade. Este risco se exprime na coragem de se desviar da normalidade e da alienação cognitiva eclesiástica. Ora, se assim é, qualquer instituição que tenha mecanismos para identificar e eliminar o desvio está contribuindo negativamente para a eliminação do livre exame e, portanto da liberdade. “ Herege” é um estigma criado pelas instituições eclesiásticas a fim de preservar a sua unidade cognitiva, e por este mesmo ato elas declaram não haver lugar, no seu interior, para repensar o que pela a instituição já esta pensado, e assim assassinando o que surge inevitavelmente do livre exame e da liberdade. A ortodoxia pressupõe existir uma identidade entre as Escritura Sagrados e as definições doutrinárias já cristalizadas. Aquele que é definido como herege é aquele que afirma existir uma contradição entre as Sagras Escrituras e a forma da instituição pensar. Em outras palavras: ele declara que aquilo que a instituição aceita como verdade não é verdade”.

Por que mecanismo se conclui que os ortodoxos são ortodoxos e os hereges são hereges? A história nos dá uma pista muito interessante para responder a esta pergunta: os hereges são sempre os vencidos e os ortodoxos os vencedores. Em última análise, a decisão é feita por um processo político. Os hereges são os fracos; os ortodoxos são os fortes. Aquilo que uma instituição eclesiástica reconhece como verdade, e exatamente aquilo que usa como critério para estigmatizar o herege, foi formulado e imposto, um dia por aqueles que detinham o monopólio do poder político eclesiástico, nesta mesma instituição. Se a situação tivesse sido a oposta, isto é, se os perdedores tivessem sido vitoriosos, seu pensamento teria sido imposto como verdade e ortodoxia e heresias pouco ou nada nos revelam sobre o problema da verdade. Tais conceitos simplesmente apontam para os vencedores e os perdedores. Os procedimentos inquisitoriais, para identificar e eliminação do pensamento desviante, só são possíveis se.

a) Um grupo pretender ser, o detentor da verdade absoluta. A verdade absoluta é aquela que é completa, fixa e final. Não pode, portanto, ser contestada ou mudada.

b) Este grupo detiver os instrumentos políticos de coerção e violência para a eliminação efetiva dos desviantes.

Mas se nossa análise é correta, a pretensão de verdade absoluta nada mais é que a face ideológica das realidades do poder político nos limites institucionais. Os ortodoxos, na medida em que são umas expressões do grupo dominante na instituição eclesiástica, estão condenados a ser intolerante. Não podem optar por perseguir ou não hereges. “Por que razão a verdade seria convencidas a fazer concessões ao erro? Por que tolerar o pensamento divergente se a instituição se diz possuidora da verdade?. Por que entrar num diálogo, se nada há para aprender ? Diálogo só e possível a partir do momento que se pressupõe que a verdade ainda não foi alcançadas,tem a teologia como algo inacabado, e se admite que o, pensamento divergente pode ser o verdadeiro. Somente sobre tais pressupostos faz sentido escutar. Mas aos detentores da verdade cumpre apenas anunciar “ sem vacilações em sem concessões “, a verdade que já e posse sua.

Para onde nos levam tais reflexões?É um fato histórico que o Protestantismo, em oposição ao Catolicismo que invoca a sua continuidade histórica como marca de ser ele a verdadeira igreja, foi levado a eleger a confissão da reta doutrina como sinal de autencidade apostólica. Ora, se a confissão da reta doutrina se erige como a essência da verdadeira igreja, segue-se como uma decorrência lógica e institucional que os comportamentos institucionais e o comportamento inquisitorial necessariamente se devem faz presente a fim de preservar a integridade da verdade. Se nossa análise é correta podemos então concluir pela segunda hipótese: Os comportamentos inquisitoriais não são aberrações transitórias numa organização comprometida com a liberdade a e o livre exame.

“A pretensão de posse da verdade torna impossível a tolerância, sem a qual a liberdade e o livre exame não se podem sobrevier. E mais do isto, a sobrevivência do espírito profético. Porque o profeta pé sempre um desviante, que denuncia a verdade socialmente aceita como falsidade e idolatria e anunciada a sua verdade”. Estas reflexões foram elaboradas em torno de uma questão relativa ao protestantismo. Mas talvez as conclusões extrapolem de muito os seus limites. E há plenas evidencias sociológicas para substanciar i nosso ponto. Talvez que a ordem social, qualquer que seja ela, seja uma oposição radical entre a ordem social, com, suas exigências de integração e controle de pensmanto e integração e controle de comportamento, e a liberdade. “Talvez que a liberdade possa subsistir somente nas margens do mundo socialmente construído e por, isso aqueles que ouvem o chamado da liberdade, e pensam livre das amarras instrucionais estejam condenados à marginalidades e à inquisição. Tal como aconteceu com os profetas e com Jesus.”

Texto transcrito por Sergio A. Ribeiro da palestra de Rubens Alves na (EST) Escola Superior de Teologia em 1977.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

QUESTÕES DA BIOÉTICA


UMA ANÁLISE DO CASO DA GUATEMALA - NA PERSPECTIVA DOS MÉTODOS PESONALISTA E PRINCIPIALISTA DA BIOÉTICA.


Sergio A. Ribeiro


Entre 1946 e 1948, médicos do sistema público de saúde dos Estados Unidos da América do Norte infectaram cerca de 700 cidadãos da Guatemala – prisioneiros, pacientes psiquiátricos e soldados – com doenças venéreas com a justificativa de testar a eficiência da penicilina.O Instituto Nacional de Saúde do governo dos EUA chegou a pagar a prostitutas com sífilis para dormir com os prisioneiros, dado que o sistema prisional da Guatemala permitia visitas íntimas. Quando a prática sexual com essas prostitutas não contaminava os prisioneiros, incisões eram feitas em seus pênis, faces e braços, e nessas incisões eram colocadas as bactérias. Em alguns casos, as bactérias foram injetadas diretamente na medula.Se os pacientes contraiam a doença, eles eram tratados com antibióticos.“No entanto, não é claro se os pacientes foram, então curados”, declarou Susan M. Reverby, professora da Faculdade de Wellesley, que divulgou a ocorrência desses experimentos numa publicação e forçou as autoridades de saúde a iniciarem investigações.As revelações, tornadas públicas no último dia 30 de setembro, quando a Secretária de Estado Hillary Clinton e a Secretária de Saúde e Serviços Humanos Latjçeem Sebelius pediram desculpas ao governo da Guatemala, bem como aos sobreviventes que foram infectados e seus descendentes. Eles afirmaram que os experimentos foram “claramente sem ética”.“Embora esses eventos tenham ocorrido há 64 anos, nós nos sentimos ultrajados com o fato deles terem sido feitos com a máscara da saúde pública”, as duas secretárias afirmaram. “Nós lamentamos profundamente o que aconteceu e pedimos desculpas aos indivíduos afetados por essas repulsivas práticas de pesquisa”.(1)

Pode ser observado nos últimos anos uma crescente demanda do número de pesquisas clínicas com seres humanos. Estima-se que mais de dez mil estudos estão sendo realizados no Brasil, sendo que setenta por cento estariam focados em São Paulo. Sabe-se que a Declaração de Genebra da Associação Médica Mundial compromete os médicos com as seguintes palavras: “A Saúde do meu paciente será minha primeira consideração” e o Código de Ética Médica Internacional declara que “um médico deve agir somente no interesse do paciente quando fornecer cuidados médicos que talvez possam prejudicar a condição física e mental do paciente”(DEFRANÇA, 2000).O bom senso do pesquisador de conciliar os procedimentos corretos e os princípios éticos com a oportunidade de uma evolução técnico-científica implica jamais colocar em detrimento a pessoa pesquisada diante das circunstâncias.

Cumpre verificar a real necessidade da utilização de seres humanos face à opção mais conveniente de se utilizar animais, seja para o descobrimento de curas, aprofundamento das práticas atualmente utilizadas, melhoria dos procedimentos profiláticos, diagnósticos terapêuticos ou, ainda, para entender a etiologia, assim como a patogênese da doença. Isso, porque toda pesquisa apresenta um sério grau de risco iminente. Portanto, havendo uma alternativa suficientemente eficaz, não há razões para que pessoas sejam submetidas a tais procedimentos, pois o bem estar dos seres humanos envolvidos numa experiência científica deverá prevalecer sobre os interesses da ciência e sociedade. Diante dessa concepção, só é aceitável uma pesquisa científica quando ela responde preliminarmente às conveniências do diagnóstico e da terapêutica do próprio experimentado, a fim de estabelecer sua saúde ou minorar seu sofrimento. Qualquer pesquisa sem as considerações desses interesses é condenável.

Posição principialista diante problema:

A teoria principialista trabalha a partir de princípios básicos que se propõem orientar a experiência com seres humanos na bioética. Criada sob encomenda pelo congresso norteamericano, segundo Dall’Agnol (2004: 27), inicialmente a teoria consistia em três princípios básicos, segundo os quais se julgava suficientes para justificar procedimentos, e, fundamentar a reflexão ética: respeito pelas pessoas, beneficência, e justiça. Tais princípios encontram-se publicados no relatório Belmont. Entretanto à teoria foi melhor desenvolvida e sistematizada na obra “Principles of Biomedical Ethics” 1979, pelos bioeticistas Beauchamp e Childress, que apresentaram o principialismo a partir de quatro princípios básicos, a saber: respeito a autonomia, beneficência, não-maleficência, e justiça.

Posteriormente alguns bioeticistas dividiram estes princípios em deontológicos (não-maleficência e justiça) e teleológicos (beneficência e autonomia), propondo desta forma que o principialismo deveria ser compreendido como uma teoria mista. É importante destacar que de acordo com Beauchamp e Childress, no principialismo não existe a sobreposição de um princípio sobre o outro, de maneira que todos têm validade prima facie (2) e o mesmo status moral e epistêmico (DALL’AGNOL, 2004: 29). O princípio de autonomia é pensado fundamentalmente em termos do direito de deliberar e escolher livremente, que cabe a todo indivíduo. No entanto, tal princípio pressupõe três condições básicas para que a ação seja considerada realmente autônoma: 1- Intencionalidade, 2- O conhecimento, 3- A não-interferência. Uma vez que estas condições são preenchidas, pode fazer-se uma ligação entre a noção de autonomia e a de sujeito de ação. De acordo com Daniel Callaahan esse modelo tem ampla aplicação na prática clínica, em todos os âmbitos em que a bioética se desenvolveu, com resultados bastante positivos em relação ao respeito pela dignidade das pessoas (CALLAAHAN, p. 44).

De acordo com Ross sobre o conceito prima face, ele afirma que não pode ter, regras sem exceção.E que o dever prima facie é uma obrigação que se deve cumprir, a menos que ela entre em conflito, numa situação particular, com um outro dever de igual ou maior porte.Segundo Ross, os deverem prima facie podiam ser categorizados como: Deveres para com os outros não baseados em ações prévias. (a) Beneficência (ajudar aos outros em necessidade). (b) Não Maleficência (não causar danos a outros sem uma razão poderosa). (c) Justiça (tratar os outros de forma justa).

Com base no modelo principialista em face da situação dos Guatemaltecos contaminados com sífilis, parece existir uma situação paradoxal. Pois, o modelo principialista apresenta resultados bastante positivos em relação à dignidade humana. Neste caso, o situação Guatemaltecos contaminados com sífilis, seria totalmente condenada sem qualquer abertura para defesa, pois causou maleficência. Mas o princípio de Não-Maleficência que (aborda um não causar danos a outros sem uma razão poderosa), muda a reflexão; pois neste caso por uma razão poderosa a situação dos Guatemaltecos contaminados com sífilis poderia ser legitimada ? Analise da questão:
O Princípio da Beneficência infere que devemos fazer o bem às pessoas. Mesmo que haja indivíduos que não deseja que o faça o bem a ele. O princípio de beneficência contém em si o de Não-Maleficência, neste caso, deixar de causar o mal intencional a uma pessoa, já se constitui em fazer o bem para este sujeito. David Ross, que estabeleceu o conceito de dever prima facie, propunha que quando houver conflito entre a Beneficência e a Não-Maleficência, deve prevalecer a Não-Maleficência, que é [deixar de causar o mal intencional a uma pessoa já se constitui em fazer bem para este sujeito].


Maleficência provocada pela sífilis:

O aparecimento de ferida altamente infecciosa mas indolor, que se assemelha a uma pequena ulceração que chamamos de cancro. O cancro pode se manifestar no pênis ou nos órgãos genitais externos da mulher. Febre, fadiga, dor de cabeça, dores musculares (sintomas que se assemelham à síndrome gripal). Em certos casos (raro), pode haver queda de cabelos (tufos).Podemos observar também nesse estágio, a ocorrência de meningites e hepatites ou ainda distúrbios renais e articulares. Esses sintomas do estágio secundário evoluem por surtos. Após 4 a 12 semanas, é possível observar uma longa diminuição da expressão desses sintomas, isso marca o início de uma fase assintomática que pode durar por muito tempo. É interessante ressaltar que sem o tratamento adequado, apenas 1/3 dos pacientes são afetados por esse terceiro estágio, que aparece geralmente entre 8 a 10 anos após o surgimento do estágio secundário, em caso de ausência de tratamento. Esse estágio pode ser bastante problemático e pode levar à morte se não for tratado.Os diferentes sintomas desse estágio podem ser muito variáveis, para alguns pode se tratar de complicações psiquiátricas, para outros paralisias (complicações eurológicas) ou ainda insuficiências aórticas. (3)
Neste caso o método principialista diante da situação dos Guatemaltecos contaminados com sífilis poderia se posicionar como um crime contra a humanidade. Pois os médicos ao decidir por este tipo de experiência humana provocou a Maleficência e não tendo respeito com a dignidade humana.


Posição personalista diante problema:

Para o modelo personalista a sociedade tecnicista é composta de conceitos como individualismo, hedonismo e utilitarista. Segundo Sgreccia “todas essas posições falta uma perspectiva metafísica sobre o ser, falta a confiança na verdade, sobre o significado profundo da realidade e sobre a realidade do homem ( SGRECCIO, 2000). Desta forma, o método personalista ontológico/metafísico considera a pessoa humana em sua essência, em sua natureza, em sua verdade. Assim a fundamentação ética do personalismo, é, a pessoa do ser humano. Do aduzido o método personalista se define na proposição de Sgreccia “ A pessoa é, antes de tudo, um corpo espiritualizado, um espírito encarnado que vale por aquilo que é, e não pelas escolhas que faz” ( SGRECCIO, 2000).


O modelo personalista diante da questão dos Guatemaltecos contaminados com sífilis, o teria como um crime contra a humanidade. Pois tal ação desrespeitou o princípio da dignidade humana que se encontra na própria essência do ser. Os cientista ao submeter os ser humano (Guatemaltecos) a tal processo desrespeitou este princípio. Desta forma, parte-se da idéia, que a ciência biomédica no uso da tecnologia, procura melhorar a vida das pessoas, e sabe-se, que quando um medicamento, uma cirurgia ou qualquer tipo de intervenção médica, descoberta pela ciência biomédica alcança os resultados satisfatório, toda a sociedade ganha. Mas a questão não esta apenas neste fato, pois para o modelo personalistas os fins não justificam os meios. Pois não se podem alcançar um tipo de beneficência para as pessoas de uma sociedade, sacrificando outras para tal propósito. Pois, o princípio beneficência de não se refere apenas para aqueles que no futuro irão ser beneficiado pela pesquisa, mas, principalmente para aqueles que são submetidos à própria pesquisa.




1.http://www.luizprado.com.br/2010/10/02/eua-pedem-desculpas-por-contaminar-guatemaltecos-com-sifilis/
2.Este conceito foi proposto por Sir David Ross, em 1930. Ele propunha que não há, nem pode haver, regras sem exceção. O dever prima facie é uma obrigação que se deve cumprir, a menos que ela entre em conflito, numa situação particular, com um outro dever de igual ou maior porte. Um dever prima facie é obrigatório, salvo quando for sobrepujado por outras obrigações morais simultâneas. Esta proposta já havia sido utilizada pelo Tribunal Constitucional Alemão. (ROSS, 1930:19-36). Bellino denomina os deveres prima facie de deveres penúltimos. Cattorini propôs que os deveres prima facie são válidos, geralmente, de maneira relativa. Quando ocorre um conflito entre deveres deve ser tomada a decisão de qual deve ser tomado como prioritário, nesta circunstância. Cada dever deve ser cotejado com os demais e, dentro da complexidade inerente ao sistema, analisado em conjunto para evitar conflitos de ações e efeitos indesejados. (BELLINO, 1997:201)
3.http://www.criasaude.com.br/N2537/doencas/sintomas-sifilis.html

terça-feira, 19 de outubro de 2010

SOCIEDADE DE CONSUMO


Os lucros da (ir)racionalidade: uma refexão sobre a importância da proteção do consumidor na atual sociedade de consumo


Devo, de em diante, externar algumas reflexões– e notem-se: na condição de estudante a respeito da importância da proteção do consumidor na sociedade globalizada de consumo na qual vivemos. Esse é o foco e meu objetivo único. Considerando que a sociedade de consumo pode ser vista de vários pontos, econômico, filosófico, psicológico, sociológico, político, ético, jurídico, notei que a literatura pertinente trata normalmente das várias faces ao mesmo tempo. Para hoje, além de recolher alguns subsídios nessa literatura, obtive outros – talvez mais relevantes – a partir do diálogo com pessoas do meu convívio, é o caso do genial professor Lucas Saran, aqui presente, do colega Bruno Costa e mesmo do meu querido compadre-irmão Vinícios Cangussu. A partir desses diálogos, quase como que numa maiêutica socrática, extraímos de nós mesmos várias ponderações da sociedade de consumo, porque, afinal, fazemos parte dela.

Gente... pode acontecer de alguém se sentir desconfortável em razão do que vou falar, mas não pensem vocês que eu também não me senti da mesma forma incomodado quando preparei o que hoje vou lhes dizer. Sou também um consumidor tal como qualquer um aqui, aprendi a gostar de sê-lo, e a não saber ser outra coisa, senão um bom consumidor.


2 Que significa dizer que vivemos numa sociedade de consumo?

Pois bem, que significa dizer que vivemos numa sociedade de consumo? Para responder a essa pergunta, precisamos lembrar da noção de INDÚSTRIA CULTURAL. Quem primeiro lançou-lhe as bases foram Adorno e Horkheimer na obra Dialética do Esclarecimento, obra na qual pela primeira vez empregou-se a expressão “indústria cultural”. Grosso modo, se a indústria é a conjugação do trabalho e do capital para transformar a matéria prima em bens de produção e consumo, então a indústria cultural caracteriza-se, por sua vez, pela produção de bens culturais, disseminados através dos meios de comunicação de massa (mídia), que impõem formas homogêneas de comportamento e consumo.

A sociedade de consumo teve seu marco inicial com a Revolução Industrial no final do século XVIII. Adorno e Horkheimer consideram a indústria cultural um estágio da cultura contemporânea que confere a tudo “um ar de semelhança” (ADORNO, p.1). Estamos, pois, que as necessidades passam a ser padronizadas na indústria cultural. Não há espaço para o personalíssimo. Também os produtos – à semelhança das necessidades e dos próprios consumidores – são padronizados. Os sistemas de produção, consumo e publicidade tornaram-se tão homogêneos, que virtualmente toda mercadoria apenas reafirma, com alguma variação, o poder de uns poucos princípios de sua efetividade. Gostaria de lembrar a letra de uma das músicas do grupo Engenheiros do Hawaii, de composição de Humberto Gessinger e Paulinho Galvão, chamada Fusão a Frio: ninguém sabe como serão os filhos desse casamento indústria da informação + indústria do entretenimento promessas de fusão à frio(sic), desvio de comportamento
(...)
promessas de fusão à frio, diversão e conhecimento
a única escolha que temos é a forma de pagamento
(...)
De fato, o capitalismo de consumo impôs: “[...]educar as massas na cultura do consumo, criando nelas o desejo de melhores coisas, mesmo quando elas não queriam ou não podiam mais comprar...”(Marcondes Filho, apud Severiano, 2001). Hoje em dia, diz o sociólogo polonês Bauman: A maneira como a sociedade atual molda seus membros é ditada, primeiro e acima de tudo, pelo dever de desempenhar o papel de consumidor. A norma que nossa sociedade coloca para seus membros é a da capacidade e vontade de desempenhar esse papel (p. 87-88).

Ao não comprar, descumpre-se aquele dever de consumo imposto aos participantes desta sociedade. Lembremos o que reiterou o Presidente Lula na última crise internacional: Lula volta a incentivar população a não parar de consumir .Segundo ele, paralisia do mercado interno pode gerar desemprego. Presidente afirmou que programas sociais não sofrerão cortes. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a incentivar nesta terça-feira (25) as pessoas a continuar consumindo bens e serviços apesar da crise. Segundo ele, se o trabalhador deixar de fazer compras, corre o risco de perder o emprego em razão da diminuição da atividade econômica.
(...)
Segundo ele, o país entrou numa fase de crescimento que não pode ser abandonada e, por isso, a manutenção do consumo interno é fundamental..
(...)
Segundo o presidente, isso afeta o mercado. "O trabalhador pensa assim: 'Eu não vou fazer a compra da minha televisão, da minha geladeira, do meu carro(...)porque eu tenho medo de perder o emprego'. Ele corre o risco de perder o emprego se não comprar, porque daí o comércio não encomenda para a indústria que não produz e aí não tem emprego”, argumentou o presidente.
(G1, Notícia 25/11/08 - 17h26 - Atualizado em 25/11/08 - 17h34 Disponível em http://g1.globo.com/Noticias/Economia_Negocios/0,,MRP875484-9356,00.html)
A crescente globalização das sociedades contemporâneas acelera a proliferação de todos os tipos de produtos no mercado, advindos de todas as partes do mundo. E, pois, vivemos hoje, portanto, em uma forma social na qual o consumo tornou-se o ato social por excelência. É a “sociedade do goza”, que leva cada um ao prazer de um consumo ilimitado, conforme nos diz um interessante artigo cujo título é “O TRABALHO DA ILUSÃO: PRODUÇÃO CONSUMO E SUBJETIVIDADE NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA”, da psicóloga Dra. Isleide Arruda Fontenelle da USP.

O consumo não é um ato como outro qualquer, mas princípio organizador de toda a vida social atual. Trata-se, portanto, de pensar a cultura contemporânea como uma cultura orientada para o consumo. A Jurisprudência não olvidou da importância do crédito numa sociedade de consumo:
(...)Em uma sociedade de consumo massificada como a nossa [UMA DAS PREMISSAS!], a inscrição em órgãos restritivos de crédito, tornada pública, é suficiente para gerar uma série de transtornos e constrangimentos, fato perceptível pela experiência comum. (AC 200372050001846, VÂNIA HACK DE ALMEIDA, TRF4 - TERCEIRA TURMA, 29/03/2006)
O consumo, segundo a lógica capitalista, deveria responder sempre a uma necessidade, gerando procura (demanda) e determinando a partir daí o valor as coisas. Não é o que ocorre hoje em dia. Hoje compramos por dever e por compulsão. A compulsão está presente sempre que uma ação, pensamento ou uma seqüência complexa de comportamentos, quando não realizados, acarreta um aumento da angústia.

Essa ação, pensamento ou seqüência complexa de comportamentos na sociedade de consumo é o desejo socialmente expandido da aquisição “do supérfluo”, do excedente, do luxo. Esse desejo é constante e insaciável, uma necessidade preliminarmente satisfeita gera quase automaticamente outra necessidade, num ciclo que não se esgota, num continuum onde o final do ato consumista é o próprio desejo de consumo, como bem averbou o sociólogo Professor da Universidade Federal de Campina Grande Anderson Moebus Retondar em excelente artigo denominado “A (re)construção do indivíduo: a sociedade de consumo como ‘contexto social’ de produção de subjetividades”.

No consumo é que se busca a resolução (ou melhor a fuga) de nossos rotineiros problemas: o tédio, a inveja, a competição, a depressão, a solidão e outros tantos. O “remédio” do nosso século tem sido o consumo. O consumo não mais está ligado propriamente a uma necessidade, hoje em dia está ligado a emoções. Porém, o consumo, quando associado ao prazer, deixa um vazio sentimental, uma sensação de insatisfação. Liga-se, ainda, à imagem que fazemos de nós mesmos. Quanto maior for a posse de bens de um indivíduo, maior será seu prestígio social. O indivíduo, inclusive, expressa a si mesmo através de suas posses (BAUMAN et al., 2001).

Certa vez, determinado amigo reclamava das dificuldades financeiras a que passava. Conversa vai, conversa vem, reclama daqui, reclama dali, percebi que ele havia comprado uma moto nova. Perguntei o valor que havia “pago”, disse-me então o valor, o qual não me lembro bem, mas girava em torno de R$65.000,00, creio que é um valor razoável para a moto que vi. Dito o valor, logo ele me justificou: “Financiei 100%. É a única forma de ajuntar algum patrimônio. Eu pago as prestações e, se não agüentar, vendo depois e fico com o dinheiro”. Vejam vocês: não sei se ficou claro, mas, nos primórdios do capitalismo, a forma mais racional de acumular patrimônio era economizando, isto é, não gastando; agora, na sociedade de consumo, você gasta para economizar! A racionalidade se subverteu (daí parte do título: “Os lucros da (ir)racionalidade”).
Uma das mais conhecidas compulsões é a compulsividade alimentar.

Cabe aqui relembrar o filme documentário do diretor americano Morgan Spurlock, divulgado em 2004, “Super size me”. Nesse filme, em linhas gerais, Spurlock propõe-se a fazer uma dieta a base de três refeições diárias dos produtos da rede McDonald´s durante um mês. Ao final, a conclusão é óbvia: AS GRANDES CORPORAÇÕES NÃO SÃO FIÉIS AO CONSUMIDOR, MAS AOS SEUS ACIONISTAS. CLARO! Sobre o problema da compulsão alimentícia o filme chama atenção para um paradoxo. Se socialmente é tolerável uma dura crítica a um fumante, como “Você não vê como é ridículo acabar com sua saúde fumando esse cigarro?”, então por que não é uma crítica análoga contra compulsivos alimentares: “Você não vê como é ridículo acabar com sua saúde comendo esse big-mac?”. Poderíamos ainda estender o paradoxo para, vendo alguém no Catuaí fazendo compulsivamente compras, dizer-lhe: “Você não vê como é ridículo acabar com sua saúde financeira comprando tanta coisa que nem será usada?”
O ponto comum entre a indústria de cigarros, bebidas, alimentos ou de qualquer outra coisa é que eles podem contar com a indústria cultural para imprimir comportamentos, gostos, hábitos e até valores sociais para estimular o quanto mais possível o consumo desses produtos, independente da saúde física, psíquica ou financeira do consumidor. Mas não é só. Ainda há mais: O CONSUMISMO INFANTIL Numa sociedade de consumo, crianças e adolescentes são vistos como potenciais consumidores, transformando-se numa fatia de mercado que envolve bilhões de reais. Algumas estratégias de marketing são comumente utilizadas:


a)associar o consumo ao divertimento.

O McDonalds, por exemplo, oferece, no consumo do Mc lanche feliz brindes colecionáveis. Outro exemplo Kinder Ovo. No filme “Super size me” são expostos os “Playground” para as crianças exatamente como há no nosso McDonald’s de Londrina na Av. Tiradentes.

b) estratégias com as embalagens e suas cores:

A maior parte dos produtos destinados às crianças estampa personagens da indústria do entretenimento, sejam produtos de higiene, como pasta de dente ou xampu, sejam peças do vestuário, seja o material escolar, sejam estampas de alimentos (ou mesmo um desenho da Disney impresso em um biscoito). Contando com a imaginação das crianças e o mundo de fantasias, próprio da idade, as propagandas associam certas marcas de produtos a determinadas qualidades: coragem, força, poder e status social.


3 A necessária proteção do consumidor

Daí porque a proteção do consumidor foi erigida como direito fundamental do homem. A despeito de ninguém acreditar hoje em dia ser o consumidor totalmente livre para decidir soberanamente sobre o que comprar ou não comprar em virtude dos influxos do marketing, da publicidade, da moda, dos métodos agressivos e sentimentais à disposição dos fornecedores numa sociedade de consumo, é preciso que o Estado garanta ao cidadão a idéia de que ele não é um ser passivo, mas sim suficientemente ativo para determinar na medida do possível aquilo que ele realmente quer. Eis porque contamos com a proteção do consumidor desde o altiplano das normas constitucionais.

Nossa belíssima Constituição, a conhecida Constituição Cidadã de 1988, garante proteção ao homem indivíduo – direitos individuais – 5º; ao homem social – direitos sociais – 6º - 193 e ss; ao homem nacional – direito à nacionalidade – 12 e ao homem cidadão –direitos políticos –14, reservando ao homem enquanto participante de uma coletividade, os direitos coletivos – 5º, a proteção dos direitos do homem enquanto consumidor 5º, XXXII e 170, V. Diz o Texto Maior:
Art.5º: XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor; Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: V - defesa do consumidor.

A proteção do consumidor, a partir do reconhecimento de sua vulnerabilidade frente o fornecedor, é uma necessidade dado o poderio da sociedade de consumo em que vivemos. Na visão dos autores do anteprojeto do CDC, “Almeja-se uma proteção integral, sistemática e dinâmica. E tal requer o regramento de todos os aspectos da relação de consumo, sejam aqueles pertinentes aos próprios produtos e serviços, sejam outros que se manifestam como verdadeiros instrumentos fundamentais para a produção e circulação destes mesmos bens: o crédito e o marketing” (Código brasileiro de defesa do consumidor: comentado pelo autores do anteprojeto. 8ªed. São Paulo: Forense, 2005, p.7).


3.1 EXECUTIVO: PODER DE POLÍCIA – IMPORTÂNCIA DA ATUAÇÃO DO PROCON

Não sei se consegui atingi-lo, mas o objetivo final da minha fala foi modesto e um só: apenas e tão somente deixar dentro de vocês, bem marcada, a razão pela qual é, hoje em dia, tão importante e imprescindível uma eficaz proteção do consumidor, mais nada além disso. Vamos sair hoje daqui e continuar consumindo como fazemos diuturnamente todos os dias da nossa existência. E viva o consumo! Obrigado!

Autor: Comunicação realizada por Rogério na Unifil.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

FRANZ KAFKA : A VIDA COMO ABSURDO



Arte como poder expressão da existência se dá no escritor Franz Kafka. O estilo literário de Kafka é marcado pelo seu tom desapegado, imparcial, atencioso ao menor detalhe, em que abrange os temas da alienação e perseguição. Os seus trabalhos mais conhecidos abrangem temas como as pequenas histórias A Metamorfose, Um artista da fome e os romances “O Processo”, “América” e “O Castelo”. Os seus contos são julgados como verdadeiros e realistas, em contato com o homem do século XXI, pois os personagens kafkanianos sofrem de conflitos existenciais, como o homem de hoje. No mundo kafkaniano, os personagens não sabem que rumo podem tomar, não sabem dos objetivos da sua vida, questionam seriamente a existência e acabam sós, diante de uma situação que não planejaram, pois todos os acontecimentos se viraram contra eles, não lhes oferecendo a oportunidade de se aproveitar da situação e, muitas vezes, nem mesmo de sair desta.

Por isso, a temática da solidão como fuga a paranóia e os delírios de influência estão muito ligados à obra kafkiana, sendo comum a existência de personagens secundários que espiam, e conspiram contra o protagonista das histórias de Kafka. No fundo, estes protagonistas não são mais que projecções do próprio Kafka, onde ele expõe os seus medos, a sua angústia perante o mundo, a sua solidão interior. Kafka não era nada e era tudo ao memso tempo. Era judeu, escrevia em alemão, nascera na Boênia e devia submissão no impéri Austro-Húngaro. E nesta terra de ningém fechado dentro de si memso Kafka faz da lieteratura sua vida. O seu estilo é marcante, embora uma de suas maiores caracteristica seja a impessoalidade. É como se o autor não necessitasse da muleta do estilo em seu aspecto subjetivo para fazer brotar o seu eu, sua individulidade.


Kafka fala do fundamento da exitência em si; da qual o seu eu que está diante do mundo absurdo é o melhor modelo.Exemplos: Na obra A Metamorfose, Kafka é o grande inseto, deitado em sua cama, que esperneava e remexia-se tentando voltar à posição natural, com as asas para cima e as pernas para baixo, na qual teria domínio de seus movimentos. O autor, em sua literatura, tentava rebelar-se contra as imposições da sociedade. A metamorfose é uma obra de literatura fantástica na medida em que explora uma situação inusitada e que foge ao que é aceitável ou palatável. Bem que poderia ser classificada como ficção científica, mas não há explicações mais detalhadas sobre a transformação do homem em inseto.


O certo é que a estória de Gregor Samsa transcende essas classificações e denúncia os mecanismos de dominação e de subjugação da mente humana. A metamorfose de Kafka não conta apenas a história de um homem que se transformou num inseto. É sobretudo uma história de alerta à sociedade e aos comportamentos humanos. Nesta história, Kafka através de sua escrita o desespero do homem perante “o absurdo” do mundo. Na “metamorfose” Kafka é Gregor Samsa que metaforicamente se transforma em um insento devido os mecanismo de dominação e de subjulgação da mente humana.

No Livro “ O castelo”, Kafka é o agrimensor K. choca-se com o sentimento de impotência, busca algo inacessível, que o homem tenta atingir, mas não consegue. Não consegue realizar seu desejo, sua vontade é consumida num continuo rodeio, fica sempre detido nas imediações, nas medidas preliminares. No processo Kafka e Joseph K. Que se coloca-se diante de um problema de caráter finalista: “da direção e sentido de sua existência, de seu destino inexorável que culmina com a morte”. Por isso a obra de kafka se constitui a materialização das tensões sociais numa alma pequeno-burguesa, isso aparece na sua dicotomia: profissionalmente é gerente de uma companhia de seguros, e subjetivamente é um intelectual, um artista, que faz da arte da literatura o legado de sua existência.



Kafka é um dos escritos que merece ser lido.......



KAFKA.F. O castelo. Trad.: Modesto Carone. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
LACOSTE, Jean. A Filosofia da Arte. RJ: J. Zahar, 1985
BLANCHOT, M. O espaço literário. Trad.: Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Rocco, 1987.

domingo, 10 de outubro de 2010

INTRODUÇÃO AO PENSAMENTO DE KANT - PARTE I

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

APORTES DA MORALIDADE KANTIANA

A ação moral propostas por Kant na FMC não se constitui meramente de uma conformidade com o dever. A conformidade com o dever demonstrará apenas a legalidade da ação. Para que a ação seja moral na perspectiva de Kant a ação deve ser determinada pelo conceito de dever "que contém em si o de boa vontade" ( FMC, I § 8, p. 112). Desta referida proposição citada, o que se pode inferir é que a ação moral não pode ser constatada na ação, mas somente em seu fundamento determinante do querer. Portanto o fundamento da ação moral situa-se na autonomia da vontade, que não é outra coisa afirmar que o sujeito é capaz de ser autônomo.
Para que essa vontade seja autônoma não deve provir de uma fonte externa mas da própria razão a priori como afirma Kant: “todos os conceitos morais têm sua sede e origem completamente a priori na razão” (FMC, II §10, p. 122).Por esta razão Kant tratará na FMC que ação moral não deve ser pressuposta como fundamento da lei moral, mas deve ser deduzido da lei moral; e que o objeto da vontade deve ser determinado pela vontade em si, antes que a vontade pelo objeto para a possibilidade da autônima da vontade constituir o fundamento da moral.
Apresento aqui o conceito de "Dever" e "Boa vontade" através de uma reconstrução analítica da filosofia moral kantiana, ainda que apenas em aspectos gerais a partir da obra Fundamentação da Metafísica dos Costumes[1]. O que Kant propõem é uma distinção extremamente purificada do dever como uma necessidade prática incondicional da ação a qual deve ser válida para todos os seres racionais sensíveis. Através do conceito de dever e da boa vontade tem como objetivo mostrar que apenas uma ação por dever pode ser legitimamente qualificada como moral.
Essa moralidade tem sua origem naquilo que é comum a todos os seres racionais, a saber: na lei moral. Sejam eles seres racionais perfeitos ou imperfeitos. A ação moral propostas por Kant na FMC não se constitui meramente de uma conformidade com o dever. A conformidade com o dever demonstrará apenas a legalidade da ação. Para que a ação seja moral na perspectiva de Kant; a ação deve ser determinada pelo conceito de dever" que contém em si o de boa vontade" ( FMC, I § 8, p. 112). Desta referida proposição citada o que se pode inferir é que a ação moral não pode ser constatada na ação, mas somente em seu fundamento determinante do querer.
Por esta razão, Kant tratará na FMC que ação moral não deve ser pressuposta como fundamento da lei moral, mas deve ser deduzido da lei moral e que o objeto da vontade deve ser determinado pela vontade em si, antes que a vontade pelo objeto para a possibilidade da autônima da vontade constituir-se o fundamento da moral. Para Kant aquilo que é uma ação moral deve ser moral para todos os seres racionais. O valor desta ação moral esta, nas máximas: “O critério supremo de determinação do valor moral das máximas (segundo as quais nós agimos) é dado pelo imperativo categórico, princípio de qualquer imperativo de dever, cujo enunciado é: “Age apenas segundo uma máxima tal que tu possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universa” (FMC, II § 31, p. 130).




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[1] KANT, Immanuel. (FMC): Fundamentação da metafísica dos costumes. Trad de Paulo Quintela. São Paulo. Abril Cultural, 1980.

VIDA E MORTE NA FILOSFIA DE SÓCRATES

“Conhecer a ti mesmo”. Esta é uma afirmação da maturidade filosófica de Sócrates desde seu encontro com oráculo de Delfos. Tal conceito mudaria totalmente a vida e a maneira de fazer filosofia na Grécia; pois Sócrates deixando a linhas dos naturalistas na busca de algo a mais se concentra definitivamente os seus interesses na problemática do homem. Sobre esta problemática os conceitos os mais variados se aforam inclusive o de “Vida e Morte”. A tentativa de entender os conceitos “Vida e Morte” se faz necessário conceituar como Sócrates via o homem. Giovanni Realle enfatiza a seguinte visão antropológica de Sócrates; “O homem é a sua alma: enquanto é precisamente a sua alma que o distingue especificamente de qualquer coisa. E por alma Sócrates entende a nossa razão e a nossa atividade de pensante e eticamente operante “.

A alma segundo que subentende para Sócrates é o consciente, ou seja, a consciência e a personalidade intelectual e moral. Uma vez descoberto que o homem é sua alma; a mesma se torna a parte principal a qual o homem deve cuidar com grande rigor, para que o homem possa conhecer a ti mesmo. É evidente que, se a essência do homem é a alma, cuidar de si mesmo significa cuidar da própria alma mais do que do corpo. E ensinar os homens cuidarem da própria alma é a tarefa suprema do educador, precisamente a tarefa de Sócrates considera ter recebido do oráculo como se lê na apologia: “ Que é Isto (...) é a ordem do oráculo. Estou persuadido de que não há para vós maior bem na cidade do que esta obediência ao oráculo. Na verdade, não é outra coisa o que faço nestas minhas andanças a não ser persuadir a vós jovens e velhos. De que não deveis cuidar apenas do corpo, nem das riquezas, nem de qualquer outra coisa antes a mais do que da alma, de modo que ela se torne ótima e virtuosíssima e de que não é das riquezas que nasce a virtude, mas da virtude que nasce a riqueza e todas as outras coisas que são bens para os homens, tanto individualmente para os cidadãos como para o Estado.

De acordo com Giovanni Reale para Sócrates, é da virtude que nasce a riqueza e todas as outras coisas que são boas para o homem. Dentro de uma abordagem conceitual; para Sócrates a vida só pode ser definida e verdadeiramente vivida através da virtude. Em grego, aquilo que chamamos de virtude se diz Arete, significa aquilo que torna uma coisa boa e perfeita naquilo que é, ou melhor, ainda significa aquela atividade ou modo de ser que aperfeiçoa cada coisa, fazendo ser aquilo que deve ser” . Segundo Giovanni Reale para Sócrates a virtude pode ser definida da seguinte maneira“ Conseqüentemente, a virtude do homem outra não pode ser se não aquilo que faz com que a alma seja tal como sua natureza determina que seja, ou seja boa e perfeita” .

Sobre este conceito subjuga-se que o oposto da virtude seria então a não-virtude que conseqüentemente seria identificado como algo ruim e imperfeito. Todavia sendo este algo ruim e conseqüentemente imperfeito seria explicado etimologicamente através do conceito “vicio”. O conceito de vicio por sua vez seria a privação do homem sobre a ciência ou conhecimento, vale dizer a ignorância. O homem sem a virtude seria então conseqüentemente ignorante, o qual desprovido do conhecimento da alma e de sua essência, conceituaria os valores externos como certo. Sobre estes valores Reale relata que: Os verdadeiros valores não são aquele ligado ás coisas exteriores como riqueza, poder, fama e tampouco os ligados ao corpo, como a vida, o vigor a saúde física e a beleza, mas somente os valores da alma que se resumem os conhecimentos. “Naturalmente, isso não significa que todos os valores tradicionais torna-se desse modo “ desvalores” significa simplesmente, que “ em si mesmos, não têm valor” . Eles só se tornam ou não valores se forem usados como “conhecimentos” exigem, ou seja, em função da alma e de sua “ arete”.

Diante de tal definição, subjuga-se que a morte para Sócrates seria supostamente viver uma vida na ignorância, longe de uma natureza boa e perfeita; fazendo de valores externos a essência da vida. Em relação a esta suposta conceituação do conceito de morte para Sócrates a uma possibilidade de compreender a decisão de Sócrates em ficar tranqüilo diante da sentença de morte no texto da apologia. Visto que uma vez que Sócrates se declara culpado e renunciasse e retrata-se pedindo clemência; mesmo sabendo que esse seria a única possibilidade de permanecer vivo; Sócrates não exitou a isso, por saber que a o maior bem para um homem é justamente este, falar todos os dias sobre a virtude e argumentando sobre o raciocinar, examinando a si mesmo e aos outros, e, que uma vida sem esse exame não é digna de ser vivida.

A morte seria o melhor caminho, um a vês subentendido que a verdadeira morte para Sócrates consiste em viver uma vida longe da virtude conseqüentemente sem honra, por isso Sócrates afirma “Morrer é uma destas duas coisas: ou o morto é igual a nada, e não sente nenhuma sensação de coisa nenhuma; ou, então, como se costuma dizer, trata-se duma mudança, uma emigração da alma, do lugar. Se não há nenhuma sensação, se é como um sono em que adormecido nada vê nem sonha, que maravilhosa vantagem seria a morrer” .

O conceito de virtude como base para a vida, pode ser fortalecido com outro conceito o qual ajudaria a definir o conceito de vida e morte para Sócrates. Entende-se que através do conceito autodomínio; que seria uma capacidade que homem tem de manter o controle sobre si mesmo e do prazer, da dor e das paixões, coisas que o homem ignorante (não-vituoso) não as vê como vícios. Autodomínio, ou seja, do domínio de si mesmo nos estados de prazer, dor e cansaço, no vigor das paixões e dos impulsos: “Considerado o autodomínio como base da virtude, cada homem deveria procurar tê-lo”. Substancialmente, o autodomínio significa domínio de sua racionalidade sobre a sua própria animalidade, significa tornar a alma senhora do corpo e dos instintos ligados ao corpo. Conseqüentemente, pode-se compreender perfeitamente que Sócrates tenha identificado expressamente a liberdade com esse domínio da racionalidade sobre a animalidade. O verdadeiro homem livre é aquele que sabe dominar os seus instintos, o verdadeiro homem escravo é aquele que não sabendo dominar seus instintos, torna-se vítima deles.

Dado esta autonomia que o homem pode alcançar através da racionalidade; o verdadeiro homem livre (vida) como afirma Reale é aquele que sabe dominar seus instintos ao passo que homem escravo seria aquele que não sabe dominar seus instintos (morte) deixando ser dominados por eles. Portanto pode conceituar que a vida para Sócrates seria a realização de uma existência liberta da ignorância; visto que não há lógica para Sócrates viver uma vida dominada pelos instituis; pois os que assim os fazem são escravos, o que mostra que não há possibilidade de viver a vida como escravo, mas apenas o homem livre através da virtude e do auto domínio poderá viver a verdadeira vida.

Finalizando, como já foi enfatizado, Sócrates identifica que a essência do homem é a alma, cuidar de si mesmo significa cuidar da própria alma. E ensinar os homens a cuidarem da própria alma é a tarefa suprema do educador, precisamente a tarefa de Sócrates considera ter recebido do oráculo. Para Sócrates o método para educar a alma do homem e fazê-lo deixar a vida de ignorância ( morte) para viver a vida virtuosa, seria a “maiêutico” onde Sócrates levava o intelecutor a reconhecer a sua própria ignorância. Através da maiêutica simplesmente pergunta; não ensina; quer aprender. Seu pensamento parece desprovido de conteúdo. Se, porém não há, ensinamentos ele propõe algo. Destruindo as respostas fáceis dos intelecutores mostra que o pensamento deve ser mais prudente. Se as respostas saem fácil é porque as pergunta foram mal formulada, e apenas contorna o problema.

O que Sócrates faz é formular perguntas, adequadas, isto é, um método de investigação que encaminhe o pensamento em direção à essência das coisas sem desvios; a maiêutica pode ser definida: Primeiro ele (Sócrates) forçava uma definição do assunto sobre o qual se centrava investigação; depois, escavava de vários modos a definição fornecida, explicativa e destacava as carências e contradições que implicava; então, exortava o interlocutor a tentar uma nova definição, criticando-a e refutando-a com os mesmo procedimentos; e assim continuava procedendo, até o momento em que o intelecutor se declarava ignorante (... Mas, da mesma forma que a mulher que está grávida no corpo tem necessidade da parteira para dar à luz, também o discípulo que tem a alma grávida de verdade tem necessidade de uma espécie de arte abstétrica espiritual que ajude essa verdade a vir à luz – e nisso consiste exatamente a maiêutica socrática.

Deste processo da maiêutica surge à virtude, conhecê-la torna-se, principal objetivo do verdadeiro conhecimento, só pratica o mal quem ignora o que se seja a virtude. E quem tem o verdadeiro conhecimento só pode agir bem. Desde modo o conhecimento e a virtude tornam-se sinôminos. Através da maiêutica Socrática as questões morais deixam de ser tratadas como convenções baseadas nos costumes as quais se modificam conforme as circunstâncias e os interesses, para se tornar problemas que exigem do pensamento uma elucidação racional. Nesse sentido, Sócrates seria o fundador a ética.

TEORIA DA AÇÃO COMUNICATIVA

Em 1981 Habermas publica a sua teoria da ação comunicativa, com o propósito de investigar a razão, dando a ela um novo conceito: A razão comunicativa. Para Habernas a teoria da ação comunicativa fundamenta-se na ética discursiva, em que os argumentos são justificados mediante a participação de um discurso publico.Nas palavras de Habermas ele diz “ que é possível que através da ação comunicativa reconstruir o que a razão instrumental destruiu. Em sua teoria da ação comunicativa Harbenas parte do principio de que os homens são capazes de ação, utilizar a linguagem para se comunicarem com seus pares. Buscando chagar a um entendimento. Segundo o próprio Habermas a obra tinha com uma as finalidades desenvolver um conceito de racionalidade comunicativa que substituísse a razão instrumental.

Através da teoria da ação comunicativa a idéia de razão instrumental ( Clássica) é reformulada em termos da razão comunicativa. Através de relações intersubjetivas, nas quais pela interação de dois ou mais sujeitos, os mesmos buscam entender-se sobre determinados assuntos ou objetos a fim de compreendê-los. Das relações intersubjetivas é que se permite discernir a universalização dos interesses numa discussão. Desta forma a racionalidade passa a ser vista como uma fonte inspiradora nas ações humanas, visando à emancipação das normas e um maior entendimento do mundo.

A teoria da ação comunicativa caracteriza pelo fato razão que se comunica; e não uma razão instrumental que massifica e aliena. Segundo Habernas, o que significa dizer que dois ou mais sujeitos se entendem entre si? Em que circunstância dizemos ter chegado a um entendimento com alguém? È quando há um processo de obtenção de um acordo. Esse acordo não pode ser por coincidência de idéias, ou forçado; mas um acordo só é aceito como validade; pelos participantes quando é conseguido comunicativamente. Por isso para analisar a teoria da ação comunicativa deve ser analisada a atitude dos participantes da comunicação. A teoria da comunicação só pode acontecer pela via dos atos de fala. Desta forma a Teoria da ação comunicativa necessita apoiar-se em uma investigação pargamatica da linguagem.

Nesse contexto a linguagem torna-se um ponto de destaque em sua teoria. A linguagem do ponto de vista habermasiano; é concebida como o elo de interação entre indivíduos; como a forma de garantir um processo democrático nas discussões coletivas, onde através de argumentos e contra argumentos, livres de coerção o sujeito buscam conseguir acordos. Segundo a comentadora Mariana Velasco “A teoria da ação comunicativa” tem um aspecto teleológico; que busca uma finalidade.


Sujeito (1) Finalidade
sujeito(2) (Entendimento)

Desta forma como afirma Habermas “ é preciso admitir que os sujeitos têm a capacidades através da ação comunicativa de propor fins; e de agir guiados por esse interesse. O conceito de ação comunicativo alude a um tipo de ação mediada pela comunicação. Onde a linguagem é o meio de comunicação que serve ao entendimento, em que os sujeitos se entendem entre si para coordenar suas ações. A chave do conceito da teoria da ação comunicativa está na idéia de que a comunicação força a observar determinadas regras; para que a intenções e decisões do sujeito; não venha se impor sem razão. A teoria da ação comunicativa trata-se de um agir “orientado pelo entendimento”, que lavam os sujeitos a se convencerem de sua validade, chegando a um acordo.

Por final para Habermas, a ação comunicativa acontece apartir da relação intersubjetivas entre os sujeitos, num discurso sem violência, permitindo desta forma realizar o entedimento entre as partes. A teoria da ação comunicativa permite uma socialização sem repressão e que conduz a um livre reconhecimento por partes dos sujeitos envolvidos.

SOFISTAS

Na preeminência da palavra como base da polis, só havia lugar na política para aquele que argumentava melhor. Diante disso surgem os sofistas que tiveram um terreno propicio para atuar através da arte da retórica. Os sofistas era muito mais um modo de educar; por isso foram considerados os fundadores da ciência da educação. Era um grupo de mestre que por um determinado preço, vendiam ensinamentos práticos de filosofia. A palavra era de ilimitada confiança, e que importava saber usar corretamente para vencer o oponente. Por isso o estudo da retórica era o mais importante. Era uma espécie de arma política. Quem soubesse servir-se dela nas praças públicas, tinha condições de galgar maiores êxitos. Os sofistas acreditavam que nada era permanente ou absoluto. As essências das coisas são mutáveis e contingentes. O mesmo acontece com as normas morais, que variam conforme o desenvolvimento da sociedade, e por isso são relativas.

“Protágoras enfatizou “que “ O homem é a medida de todas as coisas”. É no homem que reside à possibilidade de dar sentido ao mundo; por isso tudo é frágil e precisa constantemente estar sendo construída. Para os sofistas não existe uma verdade absoluta, mas o que existe são verdades. Não existe uma verdade única; anterior a mim que rege tudo desde começo e para sempre. O que existe é o ser humano; que dentro de um contexto existencial ele precisa viver em sociedade; mas para isso será necessário estabelecer valores, regra, normas com a finalidade de proporcionar a convivência do ser. Mas tais regras e valores não advêm da divindade, de um principio único e absoluto, ou de qualquer outra fonte; mas vêm da necessidade de poder construir uma existência com sentido. Para os sofistas a verdade não existe; e se existe não pode ser compreendida, pois não podermos enunciá-la através da linguagem. Não há verdade apriori; o que existe é a verdade posteriori que atribui às coisas verdades através da linguagem, sendo a retórica o método de persuasão.

Os sofistas surgem exatamente no momento de passagem da tirania para a oligarquia democrática são mestre da retórica e viajavam todo o estado fornecendo seus ensinamentos, suas técnicas e habilidades para os governantes e político em geral. Embora os sofistas não tenham uma doutrina sistematizada existe uma Paidéia nos sofistas que preparavam o cidadão para o exercício da vida política.

WITTGENSTEIN E A LINGUAGEM

1. Explique o que é a visão agostiniana de linguagem (§ 1-3)

Na visão agostiniana o significado é associar a palavra aos objetos que esta sendo referido, e a significação dão forma da linguagem. A visão agostiniana enfatiza que a linguagem PE subjetiva e as palavras da linguagem denominam os objetos. Em cada palavra tem uma significação, essa significação por sua vez só é possível se estiver relacionada com a palavra. Desta forma para Agostinho cada palavra tem uma significação.

2. Explique o que é um jogo de linguagem ( § 2-7-23)

Para Wittgenstein nas investigações filosóficas os jogos de linguagens não é um único jogo, mas sim muitos. Desta forma não há apenas um forma de linguagem mais existem várias. Com os jogos de linguagens fazemos coisa, não apenas apresentamos coisas, mas agimos no mundo. Este jogo de linguagens não se fecha estão abertos. Por esta causa Wittgenstein enfatiza não “pense” , mas “veja” ; ou seja não tente explicar; pois para Wittgenstein a filosofia busca tentar mostra como funciona cada jogo de linguagem; pois cada jogo de linguagem além de não pode descrever tudo é uma possibilidade. Para Wittgenstein a essência do objeto é dada pelo seu uso determinado pela gramática. Porque a essência para Wittgenstein não é dado pelos objetos, mas pelo uso dos jogos de linguagens. Desta forma o que uma coisa é; é determinado pela gramática. O jogo de linguagem envolve muito mais que a gramática e o objeto, todo o contexto tem participação. Para Wittgenstein os jogos de linguagens é todo o processo de uso da linguagem; por isso esta relacionado com ação, ou seja, práxis; sendo o conjunto de atividades, que permite a dinâmica das palavras, pois a linguagens não se separa da ação.

3. O conceito de forma de vida (§ 19- 20)

Os jogos de linguagens fazem parte de uma forma de vida. A forma de vida é um pano de fundo, ou seja, a linguagem ela se dá sobre um arcabouço a qual se desenvolve os jogos de linguagem. O sujeito se constrói dentro de uma forma de vida. As representações naturais como hábito, costumes, instituições, visão de mundo é o que proporciona a base para a forma de vida, constituindo um pano de fundo em que desenvolve os jogos de linguagem. Destas formas de vidas existem regras as quais dão condições para todo jogo de linguagens. Assim as formas de vida são os fundamentos dos jogos de linguagens.

4. §- 11 Diferentes funções das palavras “idéias” de emprego e § 12- comparação com as alavancas de umas locomotivas.

A função de nomear é inúmeras, o que mostra que existe diferentes funções. O que tem que buscar é o emprego da palavra e a sua função. Essa função tem conotação de dizer o que fazemos com as linguagens. Desta forma as palavras são empregadas para usar as ações. A função é como as alavanca de uma locomotiva, apesar de ser igual cada uma tem sua função; uma freia, outra acelera e outra para. Desta metáfora Wittgenstein atribui que as palavras podem ser iguais, mas pode ocupar papeis diferentes dentro dos jogos de linguagens. Agostinho, Russel e Frege tentaram explicar a linguagem em um único uso generalizar; o que Wittgenstein faz no tractatus, mas depois reviu nas investigações. Assim as diferentes funções das palavras se da através dos jogos de linguagens. Uma palavra pode ser usada em diferente sentido, dada cada jogo de linguagens em que a palavra está inserida.

5. § 28- 33 Insuficiências de definição ostensiva para instituição do significado.

Definição ostensiva é apontar a coisa e definir a coisa. Esta definição ostensiva é uma percepção, ou seja, é um conhecimento prévio, que tem como finalidade servir para elucidar o uso. Ou seja, o sujeito já deve ter uma compreensão de um conhecimento primitivo da linguagem para que haja a elucidação do objeto. A definição é insuficiente, porque ela depende de um conhecimento prévio da linguagem e significado. É preciso que o sujeito já saiba que aspecto define a palavra dentro do devido jogo de linguagem.

6. § 43 A significação de uma palavra e seu uso na linguagem.

A significação é o seu uso na linguagem. Assim a linguagem significativa é aquela que corresponde ao objeto que tem significado. Só posso querer dizer algo quando estou dentro de um jogo de linguagem, pois somente dentro de um jogo de linguagem e que posso fazer algo.
7. § 39-48-54-59-60 Simples - composto - complexo

8. § 53-67 Relação uso - regras – significação

Os jogos de linguagens não é um jogo só com as palavras, mas também implica em ter regras que ordene dando sentido e significado. A significação se dá quando há regras de uso para as palavras. Essas regras não são um uso que qualquer um pode fazer justo. Para que uma palavra seja usada significativamente e ter sentido; é necessário ter regras. Essas regras são públicas. Dizer que eu tenho uma regra; é dizer que existe um critério para o uso da expressão

9.§ Semelhança de família.

Na semelhança de família tudo é linguagem, mas de formas diferentes. Wittgenstein ele valoriza as diferenças. Essas diferenças não implicam em dar uma definição, sendo que a Semelhança de família existe semelhanças e dessemelhança. Não dá para definir o que é jogo de linguagem, uma vez que nos jogos de linguagens tem várias possibilidades, mas dá para compará – los por ter parentesco. Cada jogo de linguagens é diferente, mas se pode dizer que entre os jogos de linguagens existe uma semelhança de família, ou seja, todos se aparentam de alguma forma.


9. § Explicação TRCTATUS XX DESCRIÇÃO DO USO NAS INVESTIGAÇÕES

O tractatus é uma tentativa de buscar uma essência da linguagem para explicar. No tractatus o mundo está dado, mas a forma com a qual nos identificamos esse mundo é constituída através da linguagem. Desta forma no Tractatus o mundo determina a linguagem, e cada palavra está correspondendo com um objeto no mundo, apresentando uma linguajem universais. A virada lingüística do tracatatus para as investigações filosóficas é que existe mais de uma regra única da linguagem. Agora na investigação filosóficas fala-se dos jogos de linguagens. O trabalho do filósofo não é mais estruturar as estruturas lógicas, mas sim as regras gramaticais lógicas.

SOBRE O SER E TEMPO DE HEIDEGGER

O que é o ser?

Para Hd a pergunta o que é o ser é fútil, e de compreensão vazia.Hd compreende que o problema do ser esta na definição dos termos ( problemas lingüísticos) pois a linguagem é um tesouro, com a qual pode-se encontrar o problema do ser. Hd aponta o caminho o qual pretende percorrer para buscar entender o que é o “ser” Hd busca da origem histórica a necessidade de se fazer uma genealogia de três princípios que se constitui como obstáculos a toda ontologia que Hd chama de pré-conceito. Os três obstáculos da ontologia 2º Hd são universalidade, indefininibilidade e evidência. Para Hd o primeiro passo para tentar compreender o ser; é definir o conceito, pois não pode definir uma palavra sem começar por ela. A questão para entender o que é o ser de desdobra em três pólos: 1º O que é questionando ( o próprio ser ) 2º O interrogado (ente-dasein) 3º procurando ( o sentido do ser- ser temporal ). A questão o que é o ser só será respondida por aquele que interroga, questiona. Desta forma Hd diz que este ente que interroga possui a possibilidades de fixar a terminologia Dasein, que se torna a porta de entrada do ser e tempo.

O que se entende por “Dasein”?
O homem é, portanto o ente que propõem a perguntar sobre o sentido do ser. Desta forma a posição correta sobre a problemática do sentido do ser, implica em uma resposta daquele ente que se propõem a perguntar sobre o sentido do ser. Esse ente, que nós mesmos já somos sempre e que tem entre as outras possibilidades de ser, Hd identifica com o termo Ser-ai (dasein) o ser que esta-ai de pré-sença, procurando o sentido do ser temporal. Dasein para Hd surge como resposta necessário p/ a questão do ser; é um ente que interroga a nos mesmos cada vez mais. Mas também permite reduzir todas as definições tradicionais do homem animal racional, corpo-alma, sujeito-consciência, que é questionado a partir deste traço primordial a relação como ser. Desta forma o dasein não é outra coisa, senão o homem; outro ente como o ser, isto é; com nosso ser próprio como das coisas e dos outros; que diz respeito à humanidade do homem com relação com ser. Além de possuir um privilégio ôntico o qual se trata da ontologia fundamental, que é o único lugar onde podem surgir todas as outras coisas ontológicas; e devem ser necessariamente buscada na analítica existencial do Dasein. Nesse ponto deve ficar atento, pois a palavra existenz não significa existência enquanto realidade. A principio trata-se claramente de um vocabulário ontológico; a existência é o modo do ser do Dasein, é apenas dele, só Dasein existe. Entre todos os seres o Dasein é aquele determinado em seu ser pela existência. Existir implica compreender o ser. Assim o dasein é a condição de possibilidade de todas as outras ontologias.

2.Por que ser e tempo?Ser e tempo trata-se de uma elaboração de Hd para buscar uma explicação para o problema do sentido do ser. Entretanto o problema do sentido do ser implica em um pergunta: qual é o sentido do ser? Para Heidegger é na relação entre ser e tempo é que ocorreu a má formulação da questão a respeito do ser.

3.O que significa ser e tempo? Significa que “ser é tempo”.
4.O que significa dizer que caímos em aporia? Significa dizer que nós não conseguimos, por uma impossibilidade lógica (não gramatical), definir o que é o ser. A questão em si incide em equívoco: não se pergunta o que é o ser, mas o que ele significa. A questão “que é o ser?”, segundo Heidegger, nunca foi posta pelos gregos, eles perguntaram:a)se havia diferença entre o ser e o ente;b)o que é o ente e não o que é o ser. c)o que é o ente e o que significa o ser. Nós em razão de equívocos na tradução do grego para o árabe, do árabe para o latim, interpretamos e traduzimos como “ser”, o que era “ente”, o que nos levou a um estado de aporia.

1. O que trata-se de fazer e o que isso significa?Trata-se de fazer uma re-elaboração da questão, para perguntar corretamente qual o sentido do ser? A resposta provisória de Heidegger será que “ser significa tempo”. Vamos fazer o seguinte: vamos colocara questão e não perguntar o que é o ser, mas o que ele significa. A definição deve ser colocada para os entes, porque eles são temporais, o ser é tempo, ele é também o tempo, então o ser não está dentro do tempo, ele é o tempo, então ele não pode ser definido.

2. Qual o horizonte de investigação a qual o livro se propõe? por quê? O livro se propõe à investigação no horizonte do tempo, porque nós, como seres humanos (“entificados”), somos entes e estamos dentro do tempo; então vamos verificar, vamos investigar, responder a pergunta que significa o ser dentro da perspectiva temporal, dentro do tempo; esse é o nosso horizonte, é uma “limitação nossa”, nós estamos no tempo, portanto só podemos saber o que o ser significa dentro dele. Por que há uma necessidade de uma repetição explícita da questão do ser:Primeiro motivo: esquecimento. A questão foi esquecida porque não se perguntou mais depois dos gregos o que significa o ser.


• Segundo motivo: mal formulação pela tradição. A questão com a qual nos debatemos na extrema tradição filosófica está mal colocada, perguntamos o que é o ser, porém os gregos apenas perguntaram o que é o ente, nunca o que é o ser.
• Terceiro motivo: precisamos invetigá-la. Se a questão não foi posta corretamente, então precisamos, depois de adequá-la, tentar respondê-la. É possível responder qual o sentido do ser. Muita coisa foi dita mas esta questão ainda está para ser investigada
• Quarto, quinto e sexto motivo. Ademais, Heidegger rebate aquelas três concepções tradicionais da questão do ser, quais sejam, (1)que o ser é o conceito mais universal e, portanto mais claro; (2) que ele é indefinível e (3)que ele é um conceito mais evidente.

• O conceito de ser é o mais universal. Heidegger diz que ele não universal, não é um conceito mais universal porque ele não pode ser visto sob a perspectiva de gênero e espécie. O ser não é o gênero mais universal, ele é o universal, então, é equivocado dizer que o ser é o ente mais amplo, pois ele não é ente, isso seria entificá-lo. Então, na condição de universal, por ser universal ele não é conceito mais genérico, mais ele é o universal, totalmente universal, ou seja, ele não é comparável a nenhum conceito por mais universal que seja. Na verdade, a questão do gênero ultrapassa a questão do ser e a questão do ser ultrapassa a questão do gênero e da espécie.
• (2)O conceito de ser é indefinível. Com isso Heidegger concorda, mas Heidegger faz a critica no sentido que embora seja o ser seja indefinível, esse ponto não nos dispensa da necessidade de perguntarmo-nos a respeito do sentido dele.
• (3)O conceito de ser é o mais evidente. Heidegger demonstra que na verdade ele não é o mais evidente. Todo mundo o usa até para conceituar qualquer ente: quando conceituamos o ente, estamos já subentendendo o conhecimento do ser. Ao dizer “João é ser humano”, predicamos o sujeito João por meio do verbo “é” (o ser); por trás disso a questão do ser que está expressa no verbo “é”.


3. Por que o ser ainda deve ser questionado?Porque a impossibilidade de dizer o que o ser é exige-nos ao menos responder o que ele significa, ou seja, essa impossibilidade de dizer o que o ser é exige de nós que respondamos ao menos o que ele significa dentro da nossa perspectiva temporal, do nosso horizonte de tempo.


4. O que se pergunta na questão?Pergunta-se sobre o ser.

5. O Que se encontra?Encontra-se o sentido do ser.

6. O Que ou quem se interroga?Interrogam-se os entes. Interrogamos o ente e através dessa interrogação tentamos chegar ao sentido do ser. Para Heidegger perguntar sobre o ser não leva ao ser; devemos investigar o ente para chegarmos ao ser. O professor Eder disse assim: você pergunta sobre o ser, mas você ganha o sentido do ser. Isso dá um cunho de uma investigação que começa por baixo, uma procura por baixo.

7. O que significa dizer que o questionamento necessita de uma orientação prévia?Para Heidegger nós só podemos questionar aquilo que já nos está disponível. Movemo-nos no pré-“conhecimento” do ser. Então Heidegger parte desses pré-conhecimentos, desse conhecimento que temos do ser para seguir a sua investigação, ele parte então da cotidianidade mediana e assim ele consegue evitar a tradição, viciada, que poderia levá-lo a erro.Assim ele demonstra que, quando nos perguntamos sobre o ente mesa, afirmamos que “a mesa é alguma coisa”, neste ‘é’ nós estamos pressupondo uma disponibilidade do ser. Para Heidegger é um equívoco definir o ser por intermédio de uma cadeia de entes, ou seja, a mesa é um ente que veio de outro ente, o artesão, que, por sua vez, veio de um outro ente: Deus; e Deus seria o ser. Fazendo isso estamos denficando o ser, o que constitui um contra-senso.


8. Por que [...] o que está em jogo é uma compreensão, E NÃO uma definição do ser?O ser é indefinível. Com isso Heidegger concorda, mas este filósofo faz a critica no sentido que, embora seja o ser indefinível, esse ponto não nos dispensa da necessidade de perguntarmo-nos a respeito do sentido dele (§1º).
• A resposta, como disse antes, esta perfeita posto que apenas quis acrescentar uma justificativa um pouco mais minuciosa para o fato de que “embora seja o ser seja indefinível, esse ponto não nos dispensa da necessidade de perguntarmo-nos a respeito do sentido dele”: O ser é indefinível mas a questão a respeito do seu sentido permanece necessária na medida em que o uso feito da noção de ser tanto pelos filósofos quanto no cotidiano, ainda que não se tenha admitido ou tido percepção disto,fez com que tal noção se apresentasse sempre de maneira obscura. Esta critica ao obscuro uso da noção de ser que faz com que a pergunta pelo sentido o ser permaneça forçosa pode ser exposta partindo-se das seguintes citações:
• Mas essa compreensão comum demonstra apenas a incompreensão. Revela que um enigma já está sempre inserido a priori em toda ater-se e ser para o ente. Esse fato de vivermos sempre numa compreensão do ser estar, ao mesmo tempo, envolto em obscuridades demonstra a necessidade de principio de se repetir a questão sobre o sentido do ser.
• No âmbito dos conceitos fundamentais da filosofia, e até com relação ao conceito de ‘ser’ é um procedimento duvidoso recorrer à evidencia , uma vez que o ‘evidente’, isto é, ‘os juízos secretos da razão comum’(Kant), deve ser e permanecer o tema explicito da analítica (‘oficio dos filósofos)” (Heidegger,1993, p29-30)
• As duas citações feitas acima correspondem respectivamente a: critica e Heidegger ao fato e os filósofos não explorarem suficientemente a noção e ser; demonstração por parte de Heidegger a respeito do fato de que o uso do termo ser na vida cotidiana é feito sem que, no fundo se saiba o verdadeiro sentido em que se emprega tal termo.

9. Por que a questão do ser é possível? É possível porque ele pode ser elaborado.

10. Porque fala-se em primado ontológico ?O primado ontico é o fundamento do fundamento. Para HD todo o fundamento, é precedido por um fundamento anterior. É a filosofia que cria os conceitos fundamentais. Por isso é papel da filosofia identificar, compreender e discutir os conceitos fundamentais. Mas para discutir estes conceitos fundamentais é preciso se ater ao primado ôntico, que requer um conhecimento ontológico. Pois para dizer o que é uma coisa; é preciso já de certa forma ter compreensão das coisas. O que Hd chama de conhecimento hermenêutico. Essa pré-compreensão é fundamental para a filosofia que é o primado ontológico da questão do ser.

11. Qual é a tarefa da filosofia? Para HD é a ontologia que garante conhecimentos sólidos; sem o conhecimento ontológico os demais se tornam irrelevante. Por isso que à subordinação do saber cientifico ao saber ontológico. A ciência parte de um fundamento sem mesmo o conhecer. Dado que para Hd todo o fundamento é precedido por um fundamento anterior, que é o primado ontológico; que é o fundamento do fundamento. Para Hd aqui entra a tarefa da filosofia que é buscar o fundamento dos fundamentos. É a filosofia que cria os conceitos fundamentais, por isso é papel da mesma identificar, compreender e discutir os conceitos fundamentais. Mas para discutir estes conceitos fundamentais é preciso se a ter ao primado ontológico que trata de um conhecimento ontológico. Dado que para enfatizar o que é uma coisa, eu tenho que já de certa forma ter uma pré-compreensão das coisas o que Hd chama de conhecimento hermenêutico. Neste caso o primado tem o sentido de vir antes como fundamento dos fundamentos

12. Qual é a tarefa da ontologia?A ontologia é o que garante conhecimento sólido. Sem conhecimento ontológico os demais se tornam irrelevante. Por isso que a subordinação do saber cientifica ao saber ontológico.

13. Qual crítica pode ser dirigida ao conhecimento cientifico?A ciência parte de um fundamento sem mesmo o conhecer. Dado que para Hd todo o fundamento é precedido por um fundamento anterior, que é o primado ontológico; que é o fundamento do fundamento. Para HD é a ontologia que garante conhecimentos sólidos; sem o conhecimento ontológico os demais se tornam irrelevante. Por isso que à subordinação do saber cientifico ao saber ontológico

14. O que é o ontico?O ôntico se refere ao que é factual. Ou seja; a mesa é ôntica, a árvore é ôntica; as pessoas são ônticas etc. O ôntico são aquilo que existe que é concreto que pode ser visto, medido, pesado etc. Para entender e fazer uma investigação do primado ôntico só é possível apartir da concretude factual do ente. È claro que a investigação do ser exige um passo chamado “passo transcedental”. Esse ente que é investigado é um ente que existe; e existir é se colocar no jogo da existência. Por isso que o SH tem algo a mais do que os animais, pois estamos determinados a compreender, podemos não compreender, mas se quisermos podemos; pois o Dasein que investiga e que interroga e que pode entender a questão ontológica; pois ao dasein esta aberto a possibilidade ontológica.

15. Qual a diferença entre existência, existênciário e existencial?A cadeira existe, mas não tem existência. Já a existência é a forma do ser com a qual o Dasein se comporta, ou dessa ou daquela maneira. Sempre se compreende a si mesmo a partir de uma existência; o cristão se compreende por causa da sua existência dentro do cristianismo. A questão da existência só pode ser esclarecida pelo próprio existir.A compreensão existênciaria é quando se faz uma análise das estruturas ex: o mundo da natureza, do meio ambiente, acadêmico etc. Mas quando analiso o mundo a qual todas as estruturas estão dentro dele; é desta forma uma analise existencial.


16. Explique como se chega ao primado ôntico – ontológico?Para fazer a investigação do primado ôntico; só é possível a partir da concretude factual do ente. O ente que eu investigo é um ente que existe; esse existir; é se colocar em jogo de existência. Neste Caso os SH têm algo a mais do que os animais. Estamos determinados a compreender. Podemos não querer compreender, mas se quisermos podemos. Assim o ser humano é o Dasein que investiga, é ele que pode entender a questão ontológica. Pois está aberto há ele a possibilidade ontológica; já existe uma pré- determinação. Essa compreensão do ser como ser ontológico, implica que para ser tem que saber ser. Esse saber ser, busca a compreensão da pré-ontologia.
17. Primado ôntico: Determinado pela existência, ou seja, o Dasein precisa existir em fato factual para que possa a sua existência ser determinada. Pg 40.
18. Primado ontológico: É a condição de possibilidade de todas as ontologias. É preciso existir onticamente antes de existir.

19. Porque a compreensão pré-ontológica é insuficiente para se compreender o dasein? A) É insuficiente; porque a interpretação pré-ontológica do seu ser que lhe é próxima pudesse servir de fio condutor adequado, como se tal compreensão do ser tivesse de nascer de uma reflexão ontológica e temática sobre sua constituição ontológica mais própria. Neste caso o primeiro acesso a compreensão esta no modo de ser que é constituído, a pré-sença tem a tendência de compreender seu próprio ser a partir daquele ente com quem ele se relaciona e se comporta de modo essencial. E na própria pré-sença que reside à compreensão do ser, reside o que ainda de-mostramos como a repercussão ontológica da compreensão do mundo sobre a interpretação da presença. B) Onde se da esse primeiro acesso a questão ? Se da no mundo existencial.

20. . Qual a diferença entre “mundo” com aspas e mundo sem aspas? O “mundo” com aspa é um mundo o qual eu me compreendo como ser. Por exemplo, mundo acadêmico, mundo cristão, mundo ateu, mundo político etc. O mundo sem aspa diz respeito a estruturas fundamental que existe em todo e qualquer mundo.
21. Desta forma o “mundo” com aspa é o mundo existênciário. O mundo sem aspa é o mundo existencial.
22. No “mundo” com aspa, existem diferentes modos se ser.Já no mundo sem aspa existe o ser (Dasein) no mundo.O ser do Dasein é sempre no mundo existencial.


24. Como se deve alcançar e garantir a via de acesso ao Dasein?Para alcançar uma via garantida de acesso ao Dasein é preciso elaborar primeiramente as estruturas suficientes do Dasein. Essa estrutura não deve partir de idéias pré-estabelecidas; por mais acidente que seja. Pois o acesso ao Dasein é fenomenológico, é um ser que se mostra em si mesmo e por si mesmo.

25. O que são estruturas essenciais? As estruturas essenciais para Hd são aquelas que determinam em todo modo de ser do Dasein.


26. Porque a analise o Dasein é incompleta e provisória? Porque o Dasein só se realiza no mundo existencial, e pra isso e necessário o tempo, pois o dasein não pode existir sem tempo. E como dasein esta no tempo, e o tempo e o mesmo não pode ser identificado na sua essência logo a analise o dasein é incompleta e provisória.


27. Com relação a temporalidade, qual é a tarefa a ser construída?. No capitulo primeiro Hd estrutura a analítica do Dasein; e no segundo ele constrói a temporalidade para ver como esse Dasein se da no tempo. A partir disso Hd vai fazer um releitura do ser em ótica da temporalidade. Através da compreensão do tempo é que se pode mostrar que o Dasein é infinito.


28. Qual a diferença entre temporal e temporária? A temporalidade de Dasein é localizar o Dasein no tempo e espaço, que significa agora, antes, depois etc.
29. Dasein tempo ( Zeitichkeit)
30. Ser tempo ( Temporalitat)
31. Na pagina 45 “tempo” entre aspa é o tempo factual da tradição filosófica que é o (ôntico). Mas para Hd o tempo é ontológico.“Temporal” no tempo.Temporária determinação originária do tempo enquanto sentido do ser.


32. Qual a diferença entre historicidade e facticidade histórica?Temporalmente o Dasein é pensado em um ser que tem uma história. Para o Dasein já tem uma possibilidade de história que se dá no passado, presente e futuro. ““A historicidade do Dasein se dá através da “ acontencialidade do Dasein”. O dasein é literalmente um ser em que acontece que existe; é sempre acontecimento. Por ser sempre acontecimento, eu posso marcar fato.Há dois sentidos da história. Primeiro: o pessoal: que é o de “acontecialidade”, ou a estrutura de todos os acontecimentos. Se eu não pudesse acontecer na minha acontencencialidade não poderia acontecer.Segundo: E a história factual: Dado em fatos e acontecimento na história ex: revolução industrial.O Dasein ele é sempre; ele não é um fato passado. [pg. 48] Por ele ser um acontecimento; e não ser factual; ele não esta no tempo; ele é tudo isso agora; porque acontecialidade e historicidade são primeiro do que a factualidade.


33. Porque a tradição obstrui o pensar sobre o ser? O legado da tradição filosófica ao invés de ter trazido um esclarecimento ela obscureceu coma herança do esquecimento.


34. O que significa destruição para Heidegger?Destruição é um trabalho de entulhamento no sentido de ser. É desentulhar o sentido que foi dado pela tradição filosófica. Hd deseja fazer uma releitura da história da filosofia. Não se trata de demonstrar o esquecimento da tradição, mas entrar em diálogos e mostrar os seus limites e dizer que não é com ela que iremos conseguir responder a questão do ser.

35. O que quer dizer “Analítica existencial e ontologia fundamental” ?Trata-se do primado da questão do ser. Ora investigar as estruturas que seriam possíveis, a priori, a existência concreta é precisamente investigar a existencialidade da existência. Fazer a ontologia deste ente, Dasein, que se distingue por uma relação como o ser, é, portanto realizar uma analítica existencial

36. O que significa dizer que o Dasein possui o privilégio ôntico de ser, por si mesmo, ontológico? Dasein possui o privilégio ôntico de ser, por si mesmo, ontológico, pois ele é pré-ontologico. As suas estruturas são a priori, desta forma ser, no sentido existir, é permanecer engajado numa possibilidade de si mesmo