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sexta-feira, 10 de junho de 2016

O EMPIRISMO DE HUME E O CETICISMO CIENTIFICO

1  Biografia e Contexto Histórico

David Hume(Edimburgo, Escócia, 7 de maio de 1711 - Edimburgo, Escócia, 25 de agosto de 1776) foi um filósofo, historiador, economista e ensaísta escocês, conhecido principalmente por seu empirismo filosófico e ceticismo. É o principal filósofo da corrente de pensamento empirista moderna e um dos autores mais importantes da história da filosofia ocidental e do Iluminismo escocês. Seu pai era um fidalgo da aldeia de Chirnside, e dono de um sítio chamado Ninewells. Aos doze vai para Edimburgo junto com o irmão para estudar, adquirindo uma sólida formação cultural. Manifesta gosto pela filosofia e em 1734 vai para França, onde escreve o seu Investigação sobre a Natureza Humana, tratado considerado por muitos a sua melhor obra, apesar de ser muito jovem à época. Retorna à Grã-Bretanha três anos depois, e ocupa vários cargos públicos, inclusive o de secretário de Estado, em 1768. Antes, entre 1763 e 1765, serve na França como secretário da embaixada inglesa. Ao ser nomeado bibliotecário do colégio de advogados de Edimburgo, escreve uma História de Inglaterra, que publica pouco a pouco. e que lhe rende alguma fortuna e fama. Ao falecer, revelou extraordinária tranqüilidade diante da morte.
A obra de Hume está concentrada no objetivo de implantar nas ciências morais a posição metodológica defendida por Isaac Newton no domínio da astronomia e da física. Suas ideias encontram raízes no empirismo de Locke bem como no idealismo de Berkeley. Hume propõe que todo conhecimento parte e deriva dos sentidos, opondo-se ao racionalismo cartesiano, que entende que o conhecimento está diretamente ligado à razão. As ideias de Hume passam a ser conhecidas pelo nome de empirismo psicológico, cuja consequência é o empirismo lógico. Uma palavra só é significativa se tem um correspondente no mundo. No uso nominal, precisamos da base empírica. Através das impressões criamos imagens (vale dizer quimeras) que não existem no mundo material, como por exemplo, a imagem de um anjo, que necessariamente deve ser composta para que tenhamos acesso à ideia em si.
A percepção pura, o sentir, o primeiro contato com o mundo, como uma criança o tem antes de desenvolver a mente, tudo isso são impressões. Através da representação o sujeito forma a ideia, reflexo da impressão, uma cópia pálida, até uma deturpação da percepção bruta. Um exemplo de impressão é uma noção simples como perceber a tristeza. Um exemplo de ideia seria um anjo. Todas as ideias válidas têm fundamento na impressão. A base do conhecimento são as impressões e relações entre as ideias, como as associações.

 2.      Filosofia Empírica

O empirismo é uma doutrina filosófica que tem como principal teórico o inglês John Locke (1632-1704), que defende uma corrente a qual chamou de Tabula Rasa. Esta corrente afirma que as pessoas nada conhecem, como uma folha em branco. O conhecimento é limitado às experiências vivenciadas, e as aprendizagens se dão por meio de tentativas e erros. Entende-se por empírico aquilo que pode ter sua veracidade ou falsidade verificada por meio dos resultados de experiências e observações. Teorias não bastam, somente através da experiência, de fatos ocorridos observadas, um conhecimento é considerado pelo empirista.
A percepção do Mundo externo e a abstração da realidade realizada na mente humana são o que faz o homem adquirir sabedoria, segundo o empirismo. Embora tenha se baseado no cartesianismo de René Descartes, ao contrário deste, Locke não aceita a existência de idéias inatas resultantes da capacidade de pensar da razão. Segundo a teoria de Locke (com a qual concordavam os demais empiristas), a razão, tem a função de organizar os dados empíricos, apenas unir uns dados aos outros, que lhe chegam através da experiência. Segundo Locke, “nada pode existir na mente que não tenha passado antes pelos sentidos”, ou seja, as ideias surgem da experiência externa (via sensação), ou interna (via reflexão), e podem ser classificadas em simples (como a ideia de largura, que vêm da visão) ou compostas (a idéia de doença, resultado de uma associação de ideias).
Nesse sentido, qualquer afirmação de cunho metafísico era rejeitada no Empirismo, pois para essas afirmações não há experimentação, testes ou controles possíveis. Outro importante teórico empirista foi o escocês David Hume (1711-1776), que contribuiu com a epistemologia ao discutir o princípio da causalidade. Segundo Hume, não existe conexão causal, e sim uma sequência temporal de eventos, que pode ser observada. Além de John Locke e David Hume, outros filósofos que são associados ao empirismo são: Aristóteles, Tomás de Aquino, Francis Bacon, Thomas Hobbes, George Berkeley e John Stuart Mill. O empirismo causou uma grande revolução na ciência, pois graças à valorização das experiências e do conhecimento científico, o homem passou a buscar resultados práticos, buscando o domínio da natureza. A partir do empirismo surgiu a metodologia científica.

3.       Sinopse sobre o livro

Na obra Investigação Sobre o Entendimento Humano, escrita em 1748, a primeira preocupação do escocês David Hume (1711-1776) é a investigação em torno das ideias. Como um empirista chega a esta conclusão: tudo o que contém nossa mente são percepções. O grau de intensidade com que estas percepções se manifestam em nossa mente estabelece uma distinção: as percepções poderão ser impressões e ideias. As impressões, percepções básicas, são captadas imediatamente e a elas pertencem as sensações, as emoções e as paixões. As ideias, por sua vez, são cópias ou representações desvaídas das impressões da mente, e guardam certa semelhança com as impressões, pois na realidade vêm a ser imagens mentais geradas pelas mesmas.A obra do filósofo e historiador Hume exerceu grande influência nos iluministas franceses e alemães. Basta recordar a dívida que Kant diz ter contraído com o ceticismo de Hume, no que identificou o famoso “acordar do sonho dogmático”. Entretanto, sua influência decaiu por causa das críticas de superficialidade que a filosofia romântica fazia contra o empirismo. Mas seguiu muito viva na Inglaterra e exerceu bastante influência nos Estados Unidos. A verdadeira aceitação histórica de Hume, no entanto, começou no final do século XIX. 

4.      Mundo dos Fenômenos e as Percepções

David Hume nasceu em Edimburgo, em 1711, foi filósofo, historiador, ensaísta. Este importante pensador escocês e empirista aponta para “um novo cenário do pensamento”, em sua obra Tratado da natureza humana (1739- 1740), ao introduzir o método experimental do raciocínio nos assuntos morais. Embasou-se na observação e na aplicação do método experimental baconiano à natureza humana, ao sujeito do conhecimento. Esta ciência é vista como a mais importante, pois as outras ciências guardam com ela uma relação de dependência.Um dos objetivos de Hume é encontrar os limites do conhecimento humano – os quais vão se revelar na experiência. A experiência passa a ter lugar central na filosofia do século XVIII e, principalmente na filosofia de Hume pelo fato de passar a fundamentar as ciências e, ainda, por ser reduzida à princípios. A fim de apresentar os princípios do processo de conhecimento, o filósofo descreve o funcionamento da mente através de noções como: percepções, impressões, ideias, hábitos, sensações, emoções, experiência etc. Como tais noções são de suma importância para o pensamento em questão, realizaremos uma breve abordagem da teoria epistemologia humeana e destes conceitos. Tomaremos por objetos principais as noções de percepção, experiência e hábito, mas também apontaremos a relação destas entre si e com os outros principais conceitos da epistemologia humeana. Para tal, concentramo-nos nas obras Investigações sobre o entendimento humano (1748)  e  Tratado da natureza humana (1739- 1740), pois nelas centram-se nossos objetos de análise.
Um dos princípios mais importantes da ciência da natureza humana de Hume, apresentada tanto no Tratado da natureza humana e na Investigação sobre o entendimento humano, é o princípio de que todo o conhecimento relativo ao mundo embasa-se em percepções, nas experiências. As percepções são definidas como fenômenos que se dão no espírito humano (mente) através da sensação interna ou externa. As percepções garantem a existência do objeto, já que ele só é percebido quando existe. As percepções são distintas umas das outras e também se ligam entre si através da relação de semelhança.
São considerados os conteúdos da mente humana e dividem-se em duas classes: “impressões” e “ideias”. Aquelas são sensações mais vívidas e fortes advindas da experiência, são emoções e paixões (origem interna), e sensações (origem externa) percebidas de modo imediato. Segundo Hume, as impressões são “nossas percepções mais vívidas, sempre que ouvimos, ou vemos, ou sentimos, ou amamos, ou odiamos, ou desejamos ou exercemos nossa vontade (HUME, Investigação sobre o entendimento humano, p. 34)”. Tais impressões podem, ainda, ser de dois tipos: impressões externas (ligada às sensações) ou impressões internas (ligadas à reflexão, às emoções e paixões). O termo “impressão”, segundo o filósofo, significa a própria impressão, o que restringe sua teoria ao campo fenomênico – por tratar das percepções enquanto tais e não questionar como as impressões são produzidas na mente humana ou espírito.
As ideias são concebidas como cópias das impressões, sendo que as tem como base e origem. Todavia, são cópias menos vívidas e fortes – por tal motivo, não podem ser confundidas com as impressões. São ideias o pensamento e o raciocínio. Distinguem-se em ideias simples e ideias complexas: as ideias simples são cópias de alguma impressão e, como tendem a se agregarem entre si, formam as ideias complexas. Estas, por sua vez, são associações de ideias simples através dos princípios ou de semelhança, ou contiguidade no tempo e no espaço ou de causalidade; ou ainda, são formadas pela imaginação. Os princípios que originam a associação de ideias na mente também fazem com que a mente seja transportada de uma ideia a outra. Segundo Hume, estes são os princípios de coesão, de união entre as ideias simples. Estas, na imaginação, assumem o lugar de conexão indissolúvel – que as une na memória. Deve-se ter em mente que a realidade das ideias, tanto simples quanto complexas, dependem de terem impressões correspondentes.
Como se sabe, a realidade da ideia depende de uma impressão que lhe corresponda, da qual se origine. Ao utilizar-se das faculdades do pensamento, da imaginação e da memória, o homem tem em sua mente imagens imperfeitas.  Como aponta Hume, a imaginação e pensamento se originam através dos sentidos e ligam-se, pois, de modo intrínseco à experiência. Assim, pode-se notar que a distinção entre sentir e pensar se centra quanto ao grau de intensidade, já que sentir é ter percepções mais vívidas, sensações; enquanto pensar consiste em ter percepções mais fracas, ou seja, as ideias. Este ponto justifica a duplicidade de toda percepção: “Ela é sentida de maneira vívida como impressão e é pensada de maneira esmaecida como ideia” (CONTE, 2010, p. 213).
A ordem e a sucessão temporal das impressões e das ideias também consistem em pontos que as diferenciam. Com a finalidade de encontrar qual é a ordem da dependência, Hume toma a ordem da primeira aparição da percepção. É através da experiência constante que as impressões simples sempre precedem as ideias que lhes correspondem, haja vista que tal ordem não pode ser invertida.  Logo, o primeiro princípio da ciência da natureza humeana é formulado: “Todas as nossas ideias simples, em sua primeira aparição, derivam de impressões simples, que lhe correspondem e que elas representam com exatidão” (HUME, Tratado da Natureza Humana, 2001, p. 28).
A anterioridade das impressões, enquanto um princípio da natureza humana, é comprovadas pelo filósofo através de dois argumentos. O primeiro argumento expõe que, ao analisar as ideias compostas do homem, sempre se descobre que elas se decompõem em ideias simples copiadas de uma impressão anterior: “se analisamos nossos pensamentos ou ideias, por mais compostos ou sublimes que sejam, sempre verificamos que se reduzem a ideias tão simples como eram as cópias de sensações precedentes. Mesmo as ideias que, à primeira vista, parecem mais distantes desta origem mostram-se, sob um escrutínio minucioso, derivadas dela (IEH,Seção II)”. Portanto, cada ideia complexa tem suas ideias simples ligadas umas às outras, conforme uma sequência lógica – a qual nem sempre é evidente.
O segundo argumento aponta que quando o homem tem defeitos em algum órgão sensorial, não pode formar as ideias correspondentes às impressões por não receber determinado tipo de impressão, o que implica, pois, que a ausência de estímulos nos órgãos dos sentidos ou a falta de algum deles acarreta a falta de ideias na mente. A anterioridade das impressões como princípio da ciência humeana rebate a tese das ideias inatas, considerando-se que: o homem só tem ideias após ter impressões, e que se deve considerar as impressões como originárias.
Após o estabelecimento do primeiro princípio de sua ciência, o filósofo distingue, mais uma vez, impressões e ideias: as impressões e também as ideias podem ser simples ou complexas e as ideias. Ideias simples e também as impressões simples não podem ser separadas, e por isso, não podem ser analisadas. As impressões complexas são compostas por várias impressões simples, podendo, pois, serem subdivididas e analisadas. Elas nos são dadas de imediato como complexas. As ideias complexas, por sua vez, são cópias das impressões complexas ou ainda podem ser o produto de diversas combinações ocorridas na mente humana.

5.      Ideias e Impressões

Tendo como elementos principais de seu pensamento as impressões e as ideias, David Hume nos apresenta alguns pontos importantes relacionados às mesmas. A impressão é sempre um dado da experiência e uma presença imediata, por serem percepções originais, elementos primeiros da experiência, sendo estas percepções fortes. As ideias são percepções que constituem o nosso pensamento, a nossa imaginação, podendo parecer de alguma forma reflexos das impressões, de modo que todas as percepções da mente são duplas, ou seja, aparecem como impressões ou com ideias.
A partir daí surge o primeiro princípio da filosofia de Hume, portanto, chamado de princípio da cópia, ou seja, as ideias nunca podem chegar a alcançar o grau de conhecimento alcançado pelas impressões, por serem cópias da mesma. Um exemplo disto é uma fotografia que alguém tira de uma fazenda em João Pessoa, isso seria a impressão, enquanto alguém ao reproduzir esta fotografia em forma de desenho seria, pois, a ideia. Quando refletimos sobre nossas sensações e impressões passadas, nosso pensamento é um reflexo fiel e cópia desses objetos com vivacidade, porém as cores que emprega são fracas e embaçadas em comparação com aquelas que revestiam nossas percepções originais (HUME, 1996, p. 35). Nada existe previamente no pensamento, ou seja, todas as nossas idéias possuem uma origem empírica, portanto Hume rejeita totalmente a existência de idéias inatas, estando de acordo com a teoria de Locke: a idéia é um dado secundário (a posteriori) resultado da imaginação.
Existem impressões e idéias simples e complexas. As simples são indivisíveis enquanto que as complexas são agrupáveis e divisíveis, ou seja, percepções ou impressões e ideias simples são aquelas que não admitem distinção ou separação. As complexas, ao contrário daquelas, podem ser distinguidas em partes. A divisão dos conceitos mentais entre simples e complexa mostra que é possível isolar qualquer qualidade sensível que esteja porventura unida numa mesma percepção, decompondo-a nas várias sensações que a constituem. A decomposição das percepções complexas em elementos simples indica, em primeiro lugar, um limite da análise empirista. Ao analisar uma percepção usando o exemplo da maçã, podemos distinguir idéias ou impressões simples em elementos como a cor, a forma e o sabor e complexas a maçã em si a qual posso dividir em várias partes simples e indivisíveis. Todas as impressões e ideias complexas, portanto, derivam das simples. Hume chega a conclusão de que, se as impressões antecedem sempre as idéias, não há verdades necessárias a priori, porque tudo vem ou parte da experiência, ou seja, só podemos conhecer ou construir conhecimento a partir da experiência.
É devido à diferença e a separação que Hume poderá postular outro princípio geral da ciência da natureza humana: a liberdade da imaginação, ou seja, onde quer que a imaginação perceba uma diferença entre ideias, ela pode facilmente produzir uma separação, pois, esta tem a liberdade de poder variar. O poder que é atribuído a imaginação é, pois, a prova de existência de ideias complexas, porque só a partir da possibilidade de separá-las é que a imaginação consegue criar novas ideias sem impressão diretamente correspondente. A liberdade da imaginação explica o modo como são formadas todas as ideias fictícias que o homem consegue conceber, sendo que estas ficções não possuem correspondência estrita com quaisquer impressões dos sentidos. Dizer, pois, que a imaginação do homem é livre, não significa afirmar que ele desfruta de poderes absolutos, pelo contrário, a capacidade combinatória que a caracteriza está longe de ser ilimitada.
Entretanto, embora nosso pensamento pareça possuir esta liberdade ilimitada, verificaremos, através de um exame mai minucioso que ele está realmente confinado dentro de limites muito reduzidos e que todo poder criador do espírito não ultrapassa a faculdade de combinar, de transpor, aumentar ou diminuir os materiais que nos foram fornecidos pelos sentidos e pela experiência. (HUME, 1996, p. 36). Portanto, é notório que os materiais do pensamento são derivações de nossas sensações externas ou internas, ou seja, o que há no pensamento são apenas sensações que abstraímos de vários objetos, e, de modo criativo formamos diversas combinações. Sendo que as combinações formadas possuem dependência do espírito e da vontade que as organizam.

6.      Relações de Ideias e Questão de Fato

Todos os objetos da razão ou investigação humanas podem naturalmente dividir-se em duas classes, a saber, Relações de Ideias e Questões de Facto.
Do primeiro tipo são as ciências da Geometria, Álgebra e Aritmética e, em suma, toda a afirmação que é intuitiva ou demonstrativamente certa. Que o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos dois lados é uma proposição que exprime uma relação entre estas figuras. Que três vezes cinco é igual à metade de trinta expressas uma relação entre estes números. Proposições deste tipo podem descobrir-se pela simples operação do pensamento, sem dependência do que existe em alguma parte no universo. Ainda que nunca tivesse havido um círculo ou um triângulo na natureza, as verdades demonstradas por Euclides conservariam para sempre a sua certeza e evidência.
               As questões de facto, que constituem os segundos objetos da razão humana, não são indagadas da mesma maneira, nem a nossa evidência da sua verdade, por maior que seja, é de natureza semelhante à precedente. O contrário de toda a questão de facto é ainda possível, porque jamais pode implicar uma contradição, e é concebido pela mente com a mesma facilidade e nitidez, como se fosse idêntico à realidade. Que o Sol não se há-de levantar amanhã não é uma proposição menos inteligível e não implica maior contradição do que a afirmação de que ele se levantará. Por conseguinte, em vão tentaríamos demonstrar a sua falsidade.

7.      Hábito

Para o filósofo David Hume, o nosso conhecimento do mundo se dá por meio de percepções. Ele as subdivide em impressões e ideias. As primeiras, as impressões, são as percepções atuais que temos das coisas e do mundo, são portanto, fortes e mais vivas. Enquanto as ideias são fracas e menos vivas porque geralmente são cópias das impressões. Segundo o filósofo esta diferenciação é fácil para nós, pois facilmente distinguimos entre sentir e pensar. O modo como a impressão ocorre na mente é forte, e tem também um efeito peculiar. Uma impressão não é meramente pensada, mas acreditada. A força e a vivacidade significam o modo como aparece a percepção na mente e o efeito que causa à mente.
Exemplificando, posso ir ao museu e ver uma pintura de Picasso. Neste caso, enquanto vejo a pintura, tenho a impressão da pintura; trata-se de uma percepção forte e viva. Mas numa conversa com um amigo, na qual me lembro da minha visita ao museu e lhe descrevo a minha percepção da pintura, trata-se de uma ideia, uma percepção fraca e menos viva. De acordo com Hume, todo o nosso conhecimento é baseado em nossas experiências. Por isso, ele vai dizer que determinadas conclusões que chegamos sobre o mundo e as coisas não são fundamentadas na razão, mas no hábito. O fato de vermos todos os dias uma relação entre A e B, por exemplo, faz com que toda vez que vemos A, lembremo-nos de B. Além disso, o nosso conhecimento é fundamentado em relações causais, ou melhor, na causalidade; que é a ideia segundo a qual todo efeito deve ter uma causa. Nossas certezas sobre o futuro devem-se à nossa crença no hábito. Acostumamo-nos a ver que o Sol nasce todos os dias. Logo, concluímos que ele nascerá também amanhã e no futuro. Ou seja, este conhecimento é fundamentado numa crença que obtemos pela regularidade com que as nossas experiências se repetem, produzindo o hábito ou o costume. Desse modo, podemos concluir em breves palavras que para Hume a nossa mente é um feixe de percepções, pois todas as nossas ideias têm origem na impressão sensível; e que não estamos diante de uma conexão necessária na relação entre causa e efeito, mas diante de uma associação baseada na regularidade de eventos que ocorrem na experiência.
Estamos diante de uma explicação bastante plausível do funcionamento da mente humana que nos faz pensar sobre os motivos ou razões pelas quais adotamos determinadas crenças ou opiniões sobre nós mesmos e sobre o mundo. Fundamentamos nosso conhecimento somente na razão ou na experiência? O nosso conhecimento é racional ou é apenas uma crença em regularidades? Descobrir esta explicação da mente humana muda ou compromete o nosso modo de ver o mundo?

8.      Causa Efeito

“Todos os nossos raciocínios relativos a questões de facto, defende Hum ríamos descobrir que é explosiva; é preciso experiência para saber que o fogo queima as coisas. Mesmo as mais simples regularidades da natureza não poder estabelecidas a priori porque uma causa e um efeito são dois acontecimentos totalmente diferentes e um não pode ser inferido do outro. Vemos uma bola de bilhar a mover-se na direção de outra e esperamos que transmita movimento à outra. Mas por quê? A resposta, obviamente, é que descobrirmos as regularidades da natureza através e, se baseiam na relação de causa e efeito. Mas como chegamos ao nosso conhecimento das relações causais? (…) Ao olhar apenas para a pólvora, nunca pode da experiência. Mas Hume leva a sua indagação mais além. Mesmo depois de termos a experiência das operações de causa e de efeito, pergunta, que bases existem na razão para inferir conclusões dessa experiência? A experiência apenas nos dá informação sobre ocorrências passadas: porque haveria de ser alargada a objetos futuros, que, tanto como sabemos? s, só se assemelham aos objetos passados azul passagens na aparência o pão alimentou-me no passado, mas que razões tenho para acreditar que o irá fazer no futuro?" Anthony Kenny, Ascenção da Filosofia moderna, Edições Gradava, Lisboa 2011, págs. 170-171.
A crença nas superstições implica estabelecer nexos causais entre acontecimentos diferentes que não têm qualquer relação entre si. Por exemplo: Vi um gato preto na rua (causa) e, logo a seguir, parti um pé (efeito). Tive negativa no teste de Filosofia (efeito) porque este foi realizado numa sexta-feira, dia 13 (causa). Esta crença em causalidades fictícias tem um fundamento subjectivo (é uma crença irracional do sujeito) e não se baseia nem na experiência nem na razão. Segundo Hume, as relações causais efectuadas no âmbito do quotidiano e da ciência dependem de factores psicológicos como o hábito e não têm, por isso, uma justificação racional ou empírica. Assim sendo, no âmbito do conhecimento vulgar e do científico, adquirimos a crença que a água vai aquecer com base na experiência passada. Como é que podemos refutar esta ideia defendida por Hume? Será que podemos mostrar que as explicações científicas estão racionalmente justificadas?

9.      Critica de Hume a Metafísica

Hume critica todo o discurso metafísico acerca dos fenômenos que se dão no mundo e, mais que isso, propõe que há uma inadequação entre a linguagem e objeto ao qual esta se refere. Na verdade, reside aqui uma acusação contra a linguagem metafísica, acusação que expõe o fracasso desta. Como se pode notar, a filosofia empirista humana visa dissolver o paradigma filosófico platônico-cartesiano e cristã da cisão entre sensível e suprassensível. Há, pois, a desconfiança da linguagem e da razão, de modo que e o ceticismo presente em sua filosofia faz-se evidente.
A palavra verdadeira encontra-se, pois, no mundo, contrariamente ao que foi concebido pela metafísica: “Se o que ajuizamos no conhecimento não esgota o que é o mundo, infelizmente não há uma alternativa epistemológica possível para esse fracasso constatado” (BARBOZA, 2011, p. 15). Assim, não há a palavra revelada. O ceticismo humano mostra-se quando o filósofo não dá continuidade à oposição entre sensível e Inteligível e toma-a como destituída de sentido.
A tradição idealista é criticada duramente, a ponto de Hume ganhar a inimizade de lógicos, metafísicos, matemáticos e teólogos. Não há, pois, nenhum conhecimento que possa discursar acerca de realidades que extrapolam a experiência. O filósofo escocês “desaprova os seus sistemas que se enredam em disputas meramente linguísticas, em contradições, em mal-entendidos de termos complexos que não passam de combinação de termos simples” (BARBOZA, 2011, p. 16). Ademais, filosofia humana não aceita entidades extramundanas, pois toda a realidade do mundo encontra-se nas impressões e em suas cópias.
Para solucionar esse problema, o filósofo apresenta sua primeira proposição acerca do conhecimento humano: todas as ideias do homem derivam de impressões – uma classe das percepções. As impressões originam-se, por sua vez, das sensações – experiência interna – ou dos sentimentos – experiência externa. Das impressões surgem as ideias e os pensamentos, ou seja, as ideias e os pensamentos são cópias pálidas das impressões, os quais são mantidos na imaginação – a qual pode juntar aparências e também formas incompatíveis – ou na memória. Os conteúdos da mente são impressões e ideias, sendo as primeiras mais vívidas do que as segundas.  A fim de compreender melhor o que Hume concebe por percepção, devemos ter em mente que sua divisão em: 1) impressões – as quais são percepções vívidas, são sensações externas e internas; e em 2) ideias ou pensamentos – os quais são percepções menos vívidas por serem cópias das impressões. Não obstante, as sensações externas são as advindas dos cinco sentidos e podem ser acompanhadas de sentimento; já as sensações internas referem-se aos sentimentos.
Os pensamentos, por sua vez, são cópias das impressões e ao estarem acompanhados de sentimentos, podem conceber novas impressões. Qualquer ato de conhecer extrai do mundo sensível todos os seus elementos. Logo, esta é a origem do conhecimento humano, segundo o filósofo escocês, e é através desta perspectiva que a oposição, herdada de Platão e também encontrada em Descartes, entre mundo sensível e Inteligível é revogada. Quando se reflete sobre sensações e impressões passadas, o pensamento do homem reflete fielmente e copia seus objetos com veracidade, todavia, essa cópia é menos vívida. Segundo Hume, não é necessária uma distinção advinda da metafísica para apontar a diferença existente entre impressões e pensamento. Este último pode se transportar para várias regiões do Universo e também para além deste.
Através do pensamento, aponta Hume: “Pode-se conceber o que ainda não foi visto ou ouvido, porque não há nada que esteja fora do poder do pensamento, exceto o que implica absoluta contradição” (HUME, 1999, p. 10). Portanto, a contradição é o caso no qual as ideias simples não derivam de impressões correspondentes. Ao determinar que o conhecimento vem das impressões, os limites deste e da linguagem são expostos: tudo o que pode ser expresso e conhecido acerca do mundo – sobre as questões de fato – limita-se ao que se fundamenta na experiência, limita-se ao que é fornecido pelo mundo aos nossos sentidos e sensações. Assim, qualquer discurso, seja físico ou metafísico, é concebido como uma combinação de pensamentos básicos embasados em impressões acerca do objeto, em determinados momentos. Desta combinação de termos que dizem de objetos perceptíveis, tem-se como resultado estruturas complexas de frase, fundamentadas em ideias simples as quais são oriundas do mundo sensível.
Não obstante, a realidade do mundo, de acordo com Hume, é composta pelas impressões e pelas cópias das impressões. Então, o filósofo expõe que os limites do pensamento e das faculdades do espírito são: combinar, transpor, aumentar ou diminuir os materiais adquiridos pela experiência e pelos sentidos. Não obstante, “Todos os materiais do pensamento derivam de nossas sensações externas ou internas; mas a mistura e composição deles dependem do espírito e da vontade. Assim, todas as ideias do homem ou percepções menos vívidas são cópias de suas impressões ou percepções mais vivas” (HUME, 1999, p. 11).
Dois argumentos são apresentados pelo filósofo a fim de provar que as ideias são cópias de nossas impressões – percepções mais vivas. O primeiro argumento refere-se à análise dos pensamentos ou das ideias do homem, e por mais compostos que se apresentem, sempre podem ser reduzidos à ideias simples, assim como as cópias de sensações prévias. Até as ideias como a de Deus, derivam das sensações que lhes são anteriores no processo de conhecimento.



 10.  O ceticismo cientifico de Hume

 O filósofo escocês David Hume tem um importante papel dentro da filosofia moderna. Empirista na linha de John Locke, para quem a mente seria uma tabula rasa, uma folha de papel em branco a receber impressões pela experiência sensível, concebe o conhecimento se dando de duas formas: impressões e idéias. As primeiras seriam percepções mais vivazes, enquanto as últimas seriam reflexões sobre as sensações, que nunca atingiriam o grau de vivacidade das impressões. Ao afirmar que todo conhecimento só se adquire empiricamente, Hume nega a possibilidade de uma ciência metafísica e seu ceticismo faz com que Kant declare, em sua Crítica da Razão Pura, que foi o filósofo escocês quem o fez despertar de seu "sono dogmático".


1. Da contingência das afirmações sobre os fatos

O projeto científico moderno se baseava na produção de um conhecimento universal e necessário. Tal foi a intenção de Descartes ao escrever o Discurso do Método.
No entanto, Hume contesta a possibilidade deste tipo de conhecimento no que diz respeito aos fatos. A única forma de conhecimento que se pode ter sem uma experiência anterior seria o de um certo matiz de cor que faltasse numa gradação de matizes de uma mesma cor. Entretento, este exemplo é tão singular que não merece muita atenção do autor.Ele divide os objetos da razão entre relações de idéias e de fatos. No primeiro gênero estão todas as afirmações intuitivamente ou demonstrativamente certas, como as proposições da Geometria, Álgebra e Aritmética. São verdades cuja demonstração se mostra sempre certa e evidente, independentemente da existência de tais formas geométricas ou matemáticas na natureza. Já sobre o segundo gênero, o da relação dos fatos, não se pode chegar à mesma evidência que o primeiro. Para Hume, por mais evidência que se chegue sobre os fatos, seu contrário também não é contraditório, portanto, uma afirmação neste campo é contingente:


"As questões de fato, que formam os segundos objetos da razão humana, não são verificáveis da mesma forma; e tampouco a evidência de sua verdade, por maior que seja, tem a mesma natureza da antecedente. O contrário de toda afirmação de fato é sempre possível, pois que nunca pode implicar contradição e é concebido pelo intelecto com a mesma facilidade e clareza, como perfeitamente conforme à realidade." (HUME: 1984, pp. 143-144)


Hume, então, dá um parecer de que todos os raciocínios sobre questões de fato se fundam na relação de causa e efeito:

"Todos os raciocínios de fato parecem fundar-se na relação de causa e efeito. Só por meio dessa relação podemos ultrapassar a evidência de nossa memória e de nossos sentidos ( ... ). Todos os nossos raciocínios em torno de fatos são da mesma natureza. E aqui supomos constantemente que existe uma conexão entre o fato presente e o que dele inferimos". (HUME: 1984, p. 144)


O conhecimento dessa relação entre dois fatos distintos não se faz a priori, mas é originado da experiência, quando se verifica que certos objetos se nos apresentam constantemente ligados uns ao outros. Assim, de um objeto desconhecido, mesmo depois de minuciosamente examinado, não se poderia saber suas causas ou efeitos.
Para Hume, portanto, nunca se poderia, pela investigação racional, inferir um efeito de uma causa, uma vez que, como já foi citado anteriormente, seu contrário não é contraditório:

"Numa palavra, pois: todo efeito é uma ocorrência distinta de sua causa. Não pode por isso, ser descoberto na causa, e sua primeira invenção ou concepção a priori deve ser inteiramente arbitrária. E mesmo depois de sugerido sua conjunção com a causa não parecerá menos arbitrária, visto existirem sempre muitos outros efeitos que devem parecer à razão, tão coerentes e naturais quanto esse. Seria em vão, pois, que pretenderíamos determirmr qualquer ocorrência particular ou inferir qualquer causa ou efeito sem o auxílio da observação e da experiência".(HUME: 1984, p. 145)


Aqui, portanto, se encontra um dado importantíssimo sobre a (im)possibilidade do conhecimento. Por mais que a razão se esforce, para Hume, o máximo que conseguiria é reduzir os princípios que produzem os fenômenos naturais à sua maior simplicidade, a um pequeno número de causas gerais por meio de raciocínios baseados na analogia, na experiência e na observação. E sobre essas causas gerais nada se conseguiria descobrir a não ser explicações particulares não satisfatórias.


2. O círculo vicioso da causalidade e a postura cética


Em Hume, a experiência passada fornece informações diretas e certas sobre objetos precisos situados num período determinado. A previsão de que isso vai se repetir no futuro exige um termo médio desconhecido. Em outras palavras, os argumentos de que se deve confiar na experiência passada para nosso juízo futuro são apenas prováveis, o que leva a um círculo vicioso:

"Dissemos (...) que todas as nossas conclusões experimentais partem da suposição de que o futuro será conforme o passado. Por conseguinte, tentar provar esta última suposição por meio de argumentos prováveis, ou seja, argumentos relativos à existência, é evidentemente girar num círculo vicioso e tomar como assente o próprio que está em debate." (HUME: 1984, pp. 147-148)



O círculo vicioso a que se refere Hume pode ser entendido na necessidade de se ter a priori a certeza de que um mesmo efeito sempre se sucede a uma mesma causa, o que é arbitrário, e de que a natureza sempre se comporta da mesma maneira. No entanto, para afirmar o princípio da uniformidade da natureza, é preciso aplicar a lógica da indução, que como vimos, não tem fundamentação racional nenhuma além da crença de que o mesmo efeito se repetirá sempre que houver uma mesma causa.
Tudo isso é afirmado para comprovar que o raciocínio é incapaz de chegar a alguma conclusão acerca das causas e efeitos dos fenômenos. Sobre isso, Hume assume a posição cética, mas não fechada ao conhecimento.


3. A introdução do conceito de probabilidade nas ciências


Para o filósofo escocês, todas as inferências derivadas da experiência são efeitos do costume e do hábito. É, portanto, da repetição de eventos que vêm acompanhados de outros que se pode inferir alguma relação entre os mesmos, por uma crença na continuidade desses eventos observados:


" ( ... ) após descobrir, pela observação de muitos exemplos, que duas espécies de objetos, como a chama e o calor, a neve e o frio, apareçam sempre ligadas, se a chama ou a neve se apresenta novamente aos sentidos, a mente é levada pelo hábito a esperar o calor ou o frio e acreditar que tal qualidade realmente existe e se manifestará a quem lhe chegar mais perto." (HUME:1984, p. 153)


A única explicação de Hume para esse fato de os seres humanos fazerem inferências baseadas na experiência passada se dá a partir da crença e do hábito.
A conexão entre idéias particulares se dará, para o filósofo escocês, por três princípios: semelhança, contigüidade e causação. As inferências, neste caso serão apenas prováveis. E assim é introduzido o conceito de probabilidade na ciência. Na nota da seção VI, intitulada "Da Probabilidade", Hume retoma Locke, que afirma a existência de argumentos demonstrativos e prováveis. Hume prefere a divisão entre demonstrações, provas e probabilidades, tomando por provas os argumentos extraídos da experiência que não deixam dúvida.Seu posicionamento cético vai, portando, rejeitar o projeto de uma ciência empírica que traga à luz um conhecimento universal e necessário. Pelo contrário, ele demonstra que o conhecimento empírico é particular e contingente, podendo "se universalizar" apenas dentro da probabilidade.



CONCLUSÃO

O posicionamento cético de David Hume apresenta-se como dissolução da pretensão da ciência de obter pela razão um conhecimento universal e necessário. O filósofo em questão se nega a aceitar a lógica da indução como meio de ampliar o conhecimento. Para ele, é impossível afirmar racionalmente que um efeito sucederá a uma causa, uma vez que ambos são eventos diferentes que nosso hábito se acostumou a perceberem unidos. Todo um conjunto de exemplos que queiram demonstrar uma causalidade só consegue se aplicar ao passado, não se podendo inferir nada sobre a necessidade daquilo se repetir no futuro. O seu posicionamento cético introduz o conceito de probabilidade nas ciências. Assim, só se pode falar em previsão por indução num caráter de probabilidade, o que deixa ainda dúvidas de que sempre se confirmará uma teoria tirada de uma inferência. Dessa forma, as ciências experimentais, a partir de Hume, não podem apresentar uma lei universal, ou pelo menos, suas leis estarão sempre sujeitas à comprovação empírica em que o primeiro fato que contrarie a regra, a tomará falsa.


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:


HUME, David. Investigação sobre o entendimento humano. Trad. Leonel Vallandro. 2.ed. São Paulo: Abril Cultural, 1980 (Os pensadores).