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JOHN LOCKE

"todos os homens, que, sendo todos iguais e livres, nenhum deve prejudicar o outro, quanto à vida, à saúde, à liberdade, ao próprio bem". E, para que ninguém empreenda ferir os direitos alheios, a natureza autorizou cada um a proteger e conservar o inocente, reprimindo os que fazem o mal, direito natural de punir"

FRIEDRICH HAYEK

“A liberdade individual é inconciliável com a supremacia de um objetivo único ao qual a sociedade inteira tenha de ser subordinada de uma forma completa e permanente”

DEBATES FILOSÓFICOS

"A filosofia nasce do debate, se não existe a liberdade para o pensar, logo impera a ignorância"

A Filosofia é.....

"Viver sem filosofar é o que se chama ter os olhos fechados sem nunca os haver tentado abrir". Descartes

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"Nós temos um sistema que cobra cada vez mais impostos de quem trabalha e subsidia cada vez mais quem não trabalha"

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"O socialismo é a Grande Mentira do século XX. Embora prometesse a prosperidade, a igualdade e a segurança, só proporcionou pobreza, penúria e tirania. A igualdade foi alcançada apenas no sentido de que todos eram iguais em sua penúria"

sábado, 17 de novembro de 2012

APORTES DO HUMANO DEMASIADAMENTE HUMANO E A PERSPECTIVA DO ESPÍRITO LIVRE




 

1.1. Sobre verdade e mentira

Verifica-se que a proposta de Nietzsche é um projeto critico levado ao outro patamar.  Visto que Nietzsche ele apresenta uma correlações entre as pretensões do intelecto e as necessidades do homem. Para Nietzsche, por mais  que a pergunta pela verdade interessa  o questionamento sobre o motivo pelo qual existe no homem o impulso pela verdade interessa mais  ainda. A obra sobre verdade e mentira (1873) corrobora com a proposição anterior. Nesta  obra Nietzsche apresenta o questionamento quanto aos limites do intelecto humano no que tange ao conhecimento, e denuncia alguns abusos ocorridos  nesta área. Tais abusos demonstrados se constituem para Nietzsche uma espécie de fabula em que ele enfatiza no inicia do texto sobre Verdade e Mentira:

Num certo canto remoto do universo cintilante vertido em incontáveis sistemas solares havia uma vez um astro onde animais inteligentes inventaram o conhecimento. Foi o minuto mais soberbo e hipócrita da “história mundial”, mas foi apenas um minuto. Depois de a natureza ter respirado umas poucas vezes, o astro enregelou e os animais inteligentes tiveram de morrer. Assim alguém poderia inventar fabula como esta e, no entanto, não ficaria suficientemente esclarecido quão lastimável, quão obscuro e fugidio, quão desprovido de finalidade e arbítrio se apresenta o intelecto humano no interior da natureza. (NIEZSCHE: 1978, p.44)

Nietzsche por meio desta fabula faz uma dura critica ao intelecto, mas não tem por objetivo negar a sua importância para o homem, mas, estabelece limites. O que se pode compreender é que o intelecto ele é como meio de sobrevivência do homem, como os animais usam suas garras, chifres e pressas para sobreviverem. Desta forma, não se pode esperar do intelecto e do conhecimento abstrato (metafísico-ontológico) qualquer desvelamento do mundo que apresente  sua essência ultima, ou seja; a coisa em si.
Para Nietzsche qualquer pretensão acerca do intelecto que o lance para além dessa sua capacidade só pode ocorrer por uma ilusão produzida pelo próprio intelecto, e qualquer sentido que  se encontre pelo intelecto,  só poderá fazê-lo porque foi ele mesmo que o colocou ali. Verifica-se que no texto de Verdade e Mentira a ilusão e a dissimulação, que são as formas de como o intelecto atua para a conservação dos indivíduos, e que os levou aquela sobrevalorização da razão. 
Para Nietzsche a busca do homem pela verdade, procurando conferir a ela bases seguras de sustentação por meio do intelecto, não se dá através de um valor epistemológico que a diferencie da mentira, porque as verdades se mostram de forma provisória, através da linguagem. A verdade neste caso seria apenas uma  ilusão que  se produz por meio do uso da linguagem,  que é produto da capacidade de dissimulação (NIEZSCHE: 1978, p.44).
Mas com o passar do tempo os homens se esquecem dessa característica metafórica e passam a atribuir conceitos, que não são mais apresentados  como afirmações provisórias, mas sim com a função de dizer o que  as coisas de fato são. Assim, passa o homem a creditar que contém o conhecimento da verdade em si, e passa através das palavras e da linguagem e no extremo desse movimento falar na verdade como algo adquirido. Tal movimento, no entanto, curiosamente acompanha a própria função ilusionista do intelecto. Inicialmente ao produzir representação como ilusão leva o homem a acreditar que isto seja uma reapresentação da coisa em si mesma, mas que na passa de uma ilusão.

 1.1.2. As coisas mais próximas  

Compreende que as obras do segundo período da produção de Nietzsche (1878-1882) têm como finalidade uma critica dura aos conceitos de metafísica, romantismo e o cristianismo. Esta critica se sustenta, pois tais conceitos trazem junto de suas estruturas conceituais uma fuga da realidade, um distanciamento das coisas mais próximas, ao passo que a filosofia de Nietsche apresenta uma aproximação das coisas mais próximas como Nietzsche enfatizada em Verdade e Mentira “E como se apenas hoje tivesse coisas vizinhas e próximas: Admira-se e fica em silêncio onde estava então? Essas coisas vizinhas e próximas como lhe parecem  mundanas de que magia e plumagem se revestem!” (NIETZSCHE: 1978 p.43      -50)
Humano, demasiadamente humano representa o marco de ruptura com a trajetória até então seguida por Nietzsche, constituindo segundo afirma no prólogo, a grande liberação que o levará a transformar-se num espírito livre, assim reencontrando a tarefa da qual se extraviara, e à qual acreditara mesmo ter perdido o direito. Segundo Nietzsche, toda a história  da moralidade  é uma negação do carpo  e da realidade presente, um culto da ficção idealista, que segundo Nietzsche inicia com  Sócrates e Platão.

Uma tal pedra  foi Sócrates, por exemplo numa só noite  a  evolução  da ciência  filosófica , até  então  maravilhosamente  regular, mas  sem dúvida  acelerada demais, foi destruída. Não é uma questão ociosa imaginar se Platão, permanecendo livre do encanto socrático, não teria encontrado um tipo ainda superior de homem filosófico, para nós perdido para sempre. (NIETZSCHE: 2005, p.164).


Desta forma, tudo o que é mais próximo não é tratado com respeito e interesse, mas com desprezo o que faz rejeitar a vida com suas pulsões, e fazer deste mundo um lugar indesejado e de infelicidade. Assim, podemos verificar em Nietzsche uma filosofia das coisas mais próximas, que tem por objetivo a valorização e o aliviamento  da  vida[1].
Nietzsche através de sua filosofia da aproximação das coisas mais próximas se afasta definitivamente de todo pensamento filosófico até então produzido. Em seu ensaio sobre Verdade e Mentira, embora admita o papel da intuição e valorize o homem que se deixa guiar por ele, não apresenta como capaz de dizer o que é a essência do mundo, mesmo metaforicamente. Em Humano demasiado humano Nietzsche apresenta uma contraposição com o pensamento de Platão na República, em seu livro X, onde Platão afirma frente ao seu mundo das idéias a desprezo das coisas humanas[2]. Quando Nietzsche coloca este título Humano demasiadamente humano é sobre isso que ele estava falando. No aforismo (HDH I 628) Nietzsche ao recordar as palavras de Platão dizendo “Nada humano é digno de grande serenidade” ele inicia uma critica a Platão.
Quando Platão enfatiza que as coisas humanas devem ser desprezadas, porque as cosias em si, que realmente merecem ser levando a sério está em outra dimensão. Essa dimensão denominada de mundo das idéias em Platão é criticada por Nietzsche no aforismo (HDH I 16) “Talvez reconheçamos então que a coisa em si é digna de uma gargalhada homérica: que ela parecia ser tanto, até mesmo tudo, e na realidade está vazia, vazia de significado”(Grifo nosso)

1.1.3. O Espírito Livre

  Na filosofia de Nietzsche umas dadas definições do “Espírito Livre”, esta exatamente nesta capacidade de se tornar bons vizinhos das coisas mais próximas, que Platão desprezou por causa do mundo das ideais. As coisas longínquas referidas por Nietzsche é a metafísica duramente criticada por Nietzsche em vários aforismos da obra HDH[3].  Nietzsche não apenas critica as coisas longínquas, a qual Platão as defendeu através da teoria do mundo das idéias, como também fez uma critica a cristianismo.
 Quando Nietzsche fala de cultura superior, ele fala de uma espécie de indivíduo que consegue pairar sobre essas concepções de valores. Apenas ao homem enobrecido, pode se dar  o aliviamento da vida.  A vida para Nietzsche é apreendida na perspectiva de finitude absoluta. Tudo aquilo que a metafísica platônica e cristã denominou de desprezível, pecaminoso e indigno, esta sendo por Nietzsche resgatado. Esse resgate se dá principalmente  através da obra HDH e através do “Espírito Livre[4]” que apresenta uma abordagem em que Nietzsche se propõe em revirar as terras da metafísica, com o objetivo de remover tudo, para plantar coisas novas “ Os homens bom! De cada época são os que cavam fundo nos velhos pensamentos e os fazem dar frutos, os lavradores do espírito. Mas todo terreno se esgota enfim, e o arado do mal precisa sem retornar” ( NIETZSCHE: 2002).
Nos aforismo (HDH I 16)[5], Nietzsche enfatiza um aproximar das coisas mais próximas na perceptiva de aliviar das coisas da vida. Se o viver é sofrer, o modo de aliviar a vida e acalma-lá, é realizar o que Platão e o cristianismo fez, ou seja; fugir deste mundo. O remédio que Platão descreve para aliviar a vida humana é deixar este mundo das coisas insignificantes.
 Em relação ao cristianismo, Nietzsche enfatiza que o mesmo criou o sofrimento deixando a vida mais pesada, para depois oferecer o antídoto, que é a salvação. O aliviamento criado na perspectiva do cristianismo tem por finalidade produzir dor pelo pecado e depois oferecer ao homem aliviamento através da salvação, ou seja; introduz a culpa pelo pecado e depois a noção de perdão (HDH I 114)[6].
Para Nietzsche a vida já é pesada por si só e o cristianismo coloca ainda mais peso através do pecado da sensibilidade da ética, do céu, do inferno etc. Já existe um peso das coisas mais próximas, porque a ter ainda mais o peso das coisas longínquas. Para deixar este peso desnecessário no aforismo (HDH I 148) Nietzsche usa o termo “Leichte” que significa leve e fácil[7]. Nietzsche fala sobre “Dançar acorrentado” enfatizando que a vida nunca deixará de ser pesada, e não adianta criar meios para alivia-lá. Segundo Nietsche “É chamado de Espírito Livre aquele que pensa de modo diverso do que se esperaria com base em sua procedência, seu meio, sua posição e função, ou com base nas opiniões que predominam em seu tempo” (HDH I 224).
A afirmação citada à cima apresenta uma das faces para entender o Espírito livre. O Espírito Livre segundo Nietzsche esta relacionado com o aprender a dançar nas correntes[8]. Tal dançar nas correntes trata de um modo de viver e de aliviar a vida.  Aliviar a vida para Nietzsche não é um desobrigar da vida como é a metafísica e conseqüentemente a religião. Tirar o pesa da vida é deixar a vida mais fácil menos complicada. Outra forma, deixar a vida mais leve é ser ativo em relação à vida. 
Compreende-se que a busca da metafísica pelo homem tem haver coma morte. O indivíduo procura os deuses por causa da morte, com o objetivo de e aliviar a vida diante do peso da existência. Mas para Nietzsche viver a vida é viver de forma intensa, sem tirar as pedras do caminho. Desta forma, deve amar a realidade do jeito que ela é em toda sua singularidade e dizer sim para vida, sendo este sim a expressão de maior leveza.
 Este sim, a qual Nietzsche se refere é um sim quase que absoluto. Pois não digo sim, em um sentido que a vida vai melhorar, mas digo sim, diante da vida como um todo, com todas as suas peculiaridades, problemas e circunstâncias adversas. Assim, tornar a vida mais fácil é descomplica - lá, livrando das concepções metafísicas.
Nesta perspectiva a ética do Espírito Livre busca se afastar das coisas longínquas (metafísica platônica e o cristianismo) e se aproximar das coisas mais próxima. No caso de aliviar a vida, pode se dizer  que o  que  significa  peso para um  é exatamente o que  para o outro alivia. Aquilo que mais torna a vida pesada  é aquilo que torna á vida leve para “Espírito Livre”, pois é exatamente tudo que a vida pesada oferece que o Espírito Livre abandona. Desta forma, a  vida ganha leveza e se torna agradável, através da intransigência do Espírito Livre, o qual sacode as idéias que tornou a vida dura permitindo entrar um ideal de vida simples e mais agradável.  
No Andarilho e sua sombra no aforismo (HDH 318  II) Nietzsche afirma a questão de  liberdade e não liberdade. A liberdade do Espírito Livre esta em um viver de vida fácil, deixando a vida descomplicada e vivendo de forma independente de tudo. Mas isso, não é para todos, pois  o que é  pesado para uns é leve para outros.  A ética do Espírito Livre, não se dá por algum tipo de aliviar a vida fugindo dela, a qual Nietzsche chama de “alguém querer tirar as pedras do meu caminho”. Para Nietzsche ninguém pode tirar as pedras do meu caminho. Ou seja, ninguém pode aliviar a minha vida, eu sou responsável de aliviar a minha própria vida.
Nietzsche faz uma distinção de coisas humanas e coisas demasiadamente humanas, ou seja; tem um sentido relativo. O humanismo de Nietzsche em Humano demasiadamente humano pode-se dizer, que este humanismo seria cético e anti- idealista e ao mesmo tempo um humanismo que quer ser realista. Deste humanismo cético e anti-idealista que Nietzsche busca encontrar e enfrentar a realidade das coisas humanas e demasiadamente humana. Ao mesmo tempo em que fala de um lugar “aqui”, e não aquele lugar que Platão apontava.
As coisas humanas exigem de nós certa ironia, ou seja, rir da vida. Aqui se pode fazer uma analogia com Platão no texto de Fédon. Onde Sócrates perto de morrer ele esta tranqüilo, diante da morte. Existem dois modos de ficar livre das coisas humanas, primeira é o indivíduo se preparar para a morte, a segunda é estar morto. Esse se preparar para a morte é um processo de desprendimento destas coisas humanas e demasiadamente humanas.
Em Platão o filósofo tem que aprender a morrer para este mundo. Para Nietzsche tem que aprender a rir, diante de tantas coisas estúpidas (HDH I 16).  Por isso, que o pairar para Nietzsche, não é ir para outro mundo, mas significa ser uma espécie de espectador indivisível. O que Nietzsche aborda através do pairar é como se livrar do peso, e se tornar um Espírito Livre.  O caminho é romper, com estas coisas que fazem da existência a vida ainda mais difícil. Por isso, que para Nietzsche é aquele que aprende a rir destas coisas, este rir é um rir trágico.
 Pensar o Espírito Livre é pensar também em uma relação com a saúde, da mesma forma que uns tem outros não tem. Poderia dizer que o Espírito livre é quase sinônimo de saúde, porque Nietzsche fala do Espírito Livre  como se fosse um tratamento para sair deste estado em que o doente  se  encontra ( HDH I 5)[9]. Verifica-se no Humano demasiadamente humano a contraposição será de um lado o “espírito livre[10]” e do outro o  “espírito cativo[11]”. Este espírito cativo é um lado desta doença.  Essa doença do espírito cativo nos condicionou a ter uma interpretação moral da vida, algo totalmente terrível para Nietzsche, pois “ Homem moral”- “não esta mais próximo do mundo inteligível(metafísico) que o homem físico” (HDH I 37).
Mas, para se desprender desta visão é necessário coragem. Por isso, há em Nietzsche sempre uma perspectiva pessimista. Nietzsche faz uma contraposição do que seria pessimismo covarde e pessimismo valente. O pessimismo de Shopemnhaur é um pessimismo covarde de negar a vida, que fez do sujeito uma marionete. Para superação deste estado de marionete, Nietzsche apresenta a proposta de abandonar toda a metafísica da tradição filosófica.
A abandonar esta tradição metafísica, provocará o surgimento do Espírito Livre e o surgimento da cultura superior e cultura inferior descrito do aforismo (HDH  I 224).  Ainda neste aforismo, Nietzsche vai falar do “nobre traidor[12]”, ele quer dizer com isso, da necessidade do homem  não se habituar demasiadamente  “mas ter a capacidade de ter hábitos breves”, e estar disposto a mudança.
Para Nietzsche chega-se a verdade pela imoralidade, ou seja, o Espírito Livre da imoralidade chega à verdade. Não precisa destruir a moralidade segundo Nietzsche, ela própria vai se destruir. Essa destruição da verdade e bem vinda para o Espírito Livre, pois não é próprio do Espírito Livre ter opiniões corretas, mas ter liberdade da tradição, uma vez que para o Espírito Livre tudo é fabula. Pois, o Espírito Livre ele busca a insegurança através da paixão do conhecimento, pois para ele não existe nada por detrás, não existe fatos, apenas interpretações.
 Não podemos esquecer que essa paixão do Espírito Livre que move para o conhecimento, esta relacionada ao ceticismo. Pois, trata de um revirar as terras das metafísicas[13] (NIETZSCHE: 2002). A filosofia de Nietzsche é sempre um tipo de medicamento que Nietzsche receita, a si mesmo contra o romantismo (doença). O moderno Espírito Livre não é oriundo da luta de seus predecessores, mas da paz da destruição[14], qual destruição?  Da metafísica. Mas, essa destruição requer segundo Nietzsche uma das grandes virtudes do filósofo, a honestidade intelectual. (NIETZSCHE: 2004).



1.1.4. A realidade como um texto e a honestidade intelectual


Quando fala da realidade, não significa que se pode chegar ao “em si das coisas”, porque não existe coisa em si mesma, pois para Nietzsche a verdade é sempre perspectivas. No HDH, ele trabalha com essas interpretações que foram dadas a realidade. A verdade para Nietzsche é uma questão de interpretação[15]. Em Gaia e a Ciência nos aforismos 78/79//80/81 o qual faz parte do Espírito Livre. Verifica a existência dos conceitos “Redlichreit” (Honestidade) que significa “direito”, aquilo que é aceito e do conceito “Unredlechreit” relacionando com desonestidade.           
O fato de Platão tirar os olhos das coisas humanas provocou a desvalorização da cosias humanas. Isso para Nietzsche foi uma ato de tamanha desonestidade realizada por uma leitura equivocada da realidade. Para Nietzsche a realidade é um texto, e assim deve ser tratada. O mesmo esforço que temos para ler um texto deve ser feito para ler a realidade, por isso à honestidade de fundamental.
 A primeira questão a ser destituída pelo advento da honestidade é que a desonestidade é realizada pela a leitura  equivocada da realidade  é  a verdade  é que não há à verdade, é se há, não foi desta  forma que foi pensada. Por isso que para Nietzsche o filósofo do futuro é aquele que vai além do bem e do mal, já é o Espírito Livre.
 Qual seria a característica desse Espírito Livre? É o indivíduo que consegue se manter distante da realidade coletiva. Os conceitos criados pelos homens, para o Espírito Livre são pré conceito, e o Espírito Livre consegue transpor tais pré conceitos. O aliviamento da vida a qual Nietzsche fala, não é um aliviamento sem sentido, mas um aliviamento da vida, que é viver sem esse peso das coisas criadas para fugir desta realidade. Desta forma, a tarefa de Nietsche é o aprofundamento do pessimismo apartir das vivências e não da cronologia.
Na perspectiva de Nietzsche Platão é acusado de improbabilidade. Essa improbabilidade em relação a Platão esta no fato de deixar este mundo para buscar respostas em outro lugar. Nietzsche quando pensa a realidade ele pensa como se fosse um texto, porque não há outro modo de se aproximar das coisas, se não da leitura da realidade.
 Uma vez, que não se pode compreender a coisa em si, mas apenas fazer interpretação. Para Nietzsche o texto da realidade, nas leituras dos homens não passa de antropomorfismo.  Para Nietzsche não se tira nada da realidade, a não ser aquilo que o próprio homem já colocou. A natureza não tem nada ver com as nossas perspectivas. Pois segundo Nietzsche, vivemos em uma segunda natureza a “natureza moral”, essa natureza amortece os instintos. Nietzsche propõe outra interpretação diferente, essa proposta se dá na condição de ler a realidade apartir da vontade de poder. Para Nietzsche, para ser honesto com a natureza talvez nenhum palavra seria o  correto, pois qualquer palavra já é uma interpretação.
Desta forma, no Humano demasiadamente humano é uma proposta de construção da leitura da realidade, sem os preconceitos dos homens, pré-conceitos estes que se tornaram uma interpretação demasiadamente humana.  Por isso, que para Nietzsche não existe causa e efeito ou leis. O que existe na natureza é uma psicologia da profundeza. Em que a natureza é uma mutação constante em todo tempo. Nietzsche propõe uma leitura mais próxima da realidade, mas jamais um texto antropocêntrico, mas um novo tipo de linguagem.
Na leitura de Nietzsche à natureza, não se encontra uma essência, mas apenas o “Devir” um estado de guerra constante. Platão através do mundo das idéias tentou salvar o mundo das aparências, tentado trazer uma paz para a realidade dos homens, por ter julgado ter encontrado algo permanente, quando para Nietzsche não há permanente, mas apenas um estado de guerra um “devir”.
Em Gaia e a Ciência no aforismo (374) “Nosso novo infinito” Nietzsche enfatiza que o demasiadamente humano vive de horizontes, esse horizonte é representado por uma gaiola, que significa princípios e conceitos estabelecidos que  dão uma  falsa segurança da realidade. A leitura que Nietzsche apresente no Humano demasiadamente humano é uma leitura que a tradição humana de forma egoísta, brutal e forçada fez da realidade.
 Essa leitura dos homens equivocada da realidade é criticada por Nietzsche, pois tal leitura busca um fim, sendo que para Nietzsche não existe infinito. Na leitura platônica e conseqüentemente cristã foi um esforço para tentar estabelecer um finito, algo que dissesse com segurança para a existência do sujeito. Por isso no universo de Humano demasiadamente humano pode se falar de uma probabilidade de uma improbabilidade. Essa improbabilidade tem haver em vender um texto, com um tipo de interpretação, que não condiz com aquilo que é próprio do Humano demasiadamente humano. A improbabilidade vende uma imagem, uma mascara da realidade como verdade; pois segundo Gaia e a Ciência “não podemos enxergara além de nossa esquina” (374).  
 Nietzsche sentiu o peso do mundo recair sobre seus ombros e dedicou sua vida para se libertar das neuroses humanas e se desviar do transcendental que fixava um sentido único sobre o acontecido, fazendo do próprio passado um peso presente. Segundo Nietzsche nós inventamos coisas como a metafísica, deuses e a religiões porque, o mundo nos pareceu pesado demais.
O homem inventou Deus, logo depois ele “esqueceu” que o inventou, e passou a tratá-lo como ser transcendental. Desde então, ficamos presos aos valores eternos que nos impedem de construir uma vida melhor. Nietzsche foi aquele que ousou transgredir os valores transcendentais da filosofia e da religião. Se aproximou das coisas mais próxima e  apresentou a liberdade  através do Espírito Livre. 


  
REFERÊNCIAS


PLATÃO. A República. São Paulo. Fundação Caloustre. Ed.9º.  1978.
                        . Fédon Trad. De José Cavalcante de Sousa. São Paulo. Nova Cultura. 1991.
GIACOIA JUNIOR, Osvaldo. Folha explica: Nietzsche. Editora Publifolha, São Paulo. 2000
____________. Obras incompletas. Tradução e notas de Rubens Rodrigues Torres Filho. Editora Nova Cultural. São Paulo. 1999.
LOBOSQUE, A, Marta. A vontade livre em Nietzsche. 2010.Disponivel em  http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/1843/BUBD-89LKLY/1/tese_cd_3.pdf em:15/11/2010.
NIETZSCHE, F. 1978. Obras incompletas. São Paulo, Abril Cultural, 416 p. (Col. Os
Pensadores).
NIETZSCHE, F. 1989. Ecce Homo. Como se vem a ser o que se é. Lisboa, Edições
70, 127 p.
NIETZSCHE, Frederich Wilhelm. Humano, demasiado humano: um livro para espíritos livres vol. I Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Editora Companhia das Letras. 2005.
NIETZSCHE, F. A Gaia Ciência. São Paulo, Cia. das Letras, 2002.
NIETZSCHE, F. Aurora. Reflexões sobre os preconceitos morais. São Paulo, Cia. das Letras, 2004.
NIETZSCHE, F. Humano, Demasiado Humano II. São Paulo, Cia. das Letras, 2005.
SANTOS, E. Volnei. Por uma filosofia da distância: ensaio em torno do pensamento de Friedrich Nietzsche. Londrina. Eduel, 2009.





[1] Sobre essa temática, Ponton (2007, p. 289), afirma que a moral de Nietzsche deve ser pensada a partir de uma dietética que conduz à leveza. O livro O andarilho e sua sombra teria sido o primeiro ensaio dessa concepção dietética da filosofia, para a qual o livro de Ponton (2007) oferece uma densa e lúcida leitura.
[2] “A lei diz o que há de mais belo é conservar a calma o mais possível  nas desgraças e não se indignar, uma  vez que não se sabe o mal e o bem que há em tais acontecimentos, nem se adianta nada, positivamente, em os suportar com dificuldade; nem tudo o que é  humano  merece que se lhe dê muita importância; e o que  acudir-nos  o mais  depressa possível é entravado pelo desgosto” (PLATÃO, Livro X 604 b-c. p.468). 
[3] Aforismo 16 “é verdade que poderia existir um mundo metafísico; dificilmente pode os contestar a sua possibilidade absoluta [...] Esse é um  problema puramente cientifico e  não  muito apto a preocupar os homens; mas  tudo o que até hoje tornou para eles valiosas, pavorosas, prazerosas as suposições metafísicas,tudo o que as criou, e paixão, erro e auto ilusão; foram os piores e não os melhores métodos cognitivos, que ensinaram acreditar nelas.” Aforismo 17 “ O homem  jovem aprecia explicações metafísicas, porque elas lhe revelam, em que coisas que ele achava desagradáveis  ou desprezíveis, algo bastante significativo; e, se estiver descontente consigo mesmo, este sentimento se aliviará quando ele reconhecer o mais estranhando enigma ou miséria do mundo naquilo que tanto reprova em si. Sentir-se mais irresponsável   e ao mesmo tempo achar as coisas mais interessante – isso constitui, para ele, o duplo beneficio da metafísica. Aforismo 18 “ Porém na medida de em que toda a metafísica se  ocupou principalmente da  substância e da liberdade do querer, podemos designá-la  como a ciência que trata dos erros fundamentais  dos homem, mas como se fossem verdades fundamentais.”
[4] A característica do Espírito Livre: Nietzsche ressalta constantemente a originalidade do espírito livre  originalidade que se radicaliza no gênio _ face à tradição, ao rebanho, à comunidade, pensando de modo diferente do que se esperaria com base em sua procedência, meio, posição e função (HDH, 225). Desafiando a lei da moralidade do costume, hostil a todo ideal próprio, é aquele que estabelece o próprio ideal e dele faz derivar suas leis (GC, 143). Não lhe interessam riqueza, fama ou poder, nem a satisfação crua das paixões: sob este aspecto, “vive barato”, dispensando os prazeres que atraem a maioria dos homens (A, 566). É rara e peculiar sua medida de gosto. Não receia os próprios instintos, o autodomínio não é para ele uma atitude forçada: não esperando de si nada de vergonhoso, pode entregar-se aos seus impulsos com  essa preocupação e graça (GC, 294). Como defensor da cultura, desconfia do Estado; permanece alheio às reviravoltas políticas, como, aliás, a todas as turbulências e ruídos do seu tempo. Necessita guardar distância de outros homens: não lhe convêm os vínculos estreitos com mulher, parentes, vizinhos, amigos. Não tendo apego a pessoas e coisas, tampouco se apega a nada de fixo e constante em si mesmo, desconfia de tudo aquilo que quer tornar-se sólido nele (A, 296); é nobre traidor, sem sentimento de culpa, de todas as coisas que podem ser traídas (HDH, 637). Não se dirige a uma meta final, alegrando-se, como andarilho, na mudança e na passagem (HDH, 638). Não atormenta nem denigre o próprio corpo, atendendo às suas exigências, aliás sóbrias; não hesita, porém, diante das exigências de uma vida rigorosa. Seu ideal de felicidade não reside no descanso, nem na ausência da dor, nem na destruição da vontade, nem na fixação de um sentido: não repousa em nenhuma paz derradeira, nem em qualquer sabedoria ou bondade última (GC, 285).(LOBOSQUE, 225)
[5]Foi  pelo fato de termos  durantes  milhares  de anos, olhando  com exigências  morais, estéticas, religiosas, com cega inclinação, paixão ou medo, em termos  nos regalado nos maus hábitos do pensamento ilógico, que este mundo gradualmente se tornou assim estranhamente variegado, terrível, profundo de significado, cheio de alma, adquirindo cores – mas nós fomos os coloristas: o intelecto humano fez aparecer o fenômeno e introduziu nas coisas as suas  errôneas concepções fundamentais. Tarde bem  tarde – ele cai em  si: agora o mundo da experiência  e a coisa  em si  lhe  parecem tão extraordinariamente  distintos  e separados, que ele rejeita a conclusão sobre  esta a partir  daquele – ou, de maneira terrivelmente misteriosa [...]. Outros ainda recolheram  todos os traços característicos  de nosso mundo do fenômenos – isto é da representação  do mundo tecida por erros  intelectuais  e por nós herdada”  
[6] “Já o cristianismo esmagou como num lodaçal profundo: então, nesse sentimento de  total  abjeção, , de  repente fez  brilhar  o esplendor  de uma  misericórdia  divina, de modo  que o homem surpreendido aturdido pela graça, soltou um grito de êxtase e por um momento acreditou carregar o céu dentro de si. Sobre  este excesso doentio do sentimento, sobre  a profunda corrupção de mente e coração que He é necessária, agem todas as invenções psicológicas do cristianismo: ele quer negar, despedaçar, aturdir, embriagar, e só uma coisa não quer: a medida; por isso é, no sentido mais profundo, bárbaro, asiático,pouco nobre e nada helênico.”  
[7] “[...] Certamente há coisas desfavoráveis a dizer sobre  os seus  meios de aliviar  a vida: eles acalmam e curam apenas provisoriamente, apenas nos instante, e até  mesmo impedem que os homens trabalhem por uma real melhoria de suas  condições, ao suprimir e purgar paliativamente a paixão dos insatisfeitos, dos que impele acão.”

[8] Onde  um homrm chega a convicção fundamental de que é preciso que mandem nele, ele se torna “crente”; inversamente, seria pensa´vel um prazer e força da autodeterminação, de toda a crença, de todo desejo de certeza, exercitando, como ele está, em poder manter-se sobre leves cordas e possibilidades, e mesmo dinate de abismos dançar ainda um tal espírito seria o espírito livre par exellence” NIETZSCHE: 1999, p. 174) Grifo nosso.
[9] “E, falando seriamente: é uma cura radical para todo pessimismo ( câncer dos velhos idealistas e heróis da mentira, como se sabe -) ficar doente à maneira desses espíritos livres, permanecer doente muito tempo torna-se sadio, quero dizer, “mais sadio”. Há sabedoria nisso, sabedoria de visa, em receitar para si a saúde em pequenas doses e muito lentamente.”
[10] “É chamado de espírito livre aquele que pensa de modo diverso do que se esperaria com base em sua procedência, seu meio, sua posição e função, ou com base nas opiniões que predominam em seu tempo” (NIETZSCHE, 2005, p. 143).
Onde um homem chega a convicção fundamental de que é preciso que mandem nele, ele se torna “crente”; inversamente, seria pensável um prazer e força de autodeterminação, uma liberdade da vontade, em que um espírito se despede de toda crença, de todo desejo de certeza, exercitado, como ele está, em poder manter-se sobre leves cordas e possibilidades, e mesmo diante de abismos dançar ainda. Um tal espírito seria o espírito livre par excellence. (NIETZSCHE [§ 347], 1999, p. 200)

[12] “O espírito é que  nos salva, de  modo  a não  ardemos  e virarmos  cinzas totalmente ; de vez em quando  ele nos  arranca  do altar sacrifical  da Justiça, ou  nos  envolve  num  tecido, de  amianto. Salvos  em opinião, através  de mudanças instigados pelo espírito, de opinião em opinião, através  da mudança  de partidos , como  nobres  traidores de todas as coisas que podem ser traídas – e no entanto sem sentimento de culpa” (NIETZSCHE: 2005, p.271). 
[13] “Do mesmo modo que o martelo surgirá um pouco adiante como o instrumento imprescindível para o filósofo legislador disposto a criar para si novos valores, pois para que seja possível criar há que, primeiramente, destruir, neste momento é a relha do arado que surge como instrumentos necessários e essenciais para o filósofo. [...] Nesse terreno, que é próprio a Humano de demasiadamente humano, a relha do arado serve para revolver as terras da metafísica, visando com isso a um momento novo (pois atrás dela  sempre  virá em seguida o semeador) de liberação para o espírito e de um circunscrever-se no âmbito das “coisas  mais próximas” [...]Humano de demasiadamente humano poderia ter o seu expresso em “como filosofar com a relha do arado”, posto ser esse mesmo o caminho a ser  percorrido para a liberação do espírito ou o objeto mesmo desse livro escrito para espíritos livres. ”(VOLNEI: 2009, p.61-62-63).
[14] “A destruição da “vida” presente, representada em toda a sua carga de sofrimento, surge como o caminho necessário a ser trilhando por todo aquele que almeja a perfeição. A paz e a calma na destruição, no oposto daquilo que é proposto como objetivo para a construção do existir do tipo espírito livre  expresso no “aliviar a vida” ( Erleichterung dês lebens) parecem ser, para esse homem, os anseios  de uma vida  não feliz, posto que, na sua ansiosa busca pela veracidade metafísica, ele destrói  toda a possibilidade de uma felicidade  terrena, mas seria contudo, heróica em que todo sofrimento se apagaria no Nirvana”(Ibidem).
[15] “ O aprofundamento para Nietzsche é a saída das  que são identificada no humano demasiadamente humano como pairar, que é a busca pela leveza”/“O heroísmo refinado é a paixão deste espírito pelo conhecimento. Só que essa  obstinação de pelo o conhecimento ela exige a decomposição da metafísica”/O espírito livre sempre será pessimista ao contrário de Platão que parece pessimista, ele se mostra bem otimistas, quando  cria uma outra realidade  para dar conta deste mundo”