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1.1.
Sobre verdade e mentira
Verifica-se
que a proposta de Nietzsche é um projeto critico levado ao outro patamar. Visto que Nietzsche ele apresenta uma
correlações entre as pretensões do intelecto e as necessidades do homem. Para
Nietzsche, por mais que a pergunta pela
verdade interessa o questionamento sobre
o motivo pelo qual existe no homem o impulso pela verdade interessa mais ainda. A obra sobre verdade e mentira (1873)
corrobora com a proposição anterior. Nesta
obra Nietzsche apresenta o questionamento quanto aos limites do
intelecto humano no que tange ao conhecimento, e denuncia alguns abusos
ocorridos nesta área. Tais abusos
demonstrados se constituem para Nietzsche uma espécie de fabula em que ele
enfatiza no inicia do texto sobre Verdade
e Mentira:
Num certo canto
remoto do universo cintilante vertido em incontáveis sistemas solares havia uma
vez um astro onde animais inteligentes inventaram o conhecimento. Foi o minuto
mais soberbo e hipócrita da “história mundial”, mas foi apenas um minuto.
Depois de a natureza ter respirado umas poucas vezes, o astro enregelou e os
animais inteligentes tiveram de morrer. Assim alguém poderia inventar fabula
como esta e, no entanto, não ficaria suficientemente esclarecido quão
lastimável, quão obscuro e fugidio, quão desprovido de finalidade e arbítrio se
apresenta o intelecto humano no interior da natureza. (NIEZSCHE: 1978, p.44)
Nietzsche por meio
desta fabula faz uma dura critica ao intelecto, mas não tem por objetivo negar
a sua importância para o homem, mas, estabelece limites. O que se pode
compreender é que o intelecto ele é como meio de sobrevivência do homem, como
os animais usam suas garras, chifres e pressas para sobreviverem. Desta forma,
não se pode esperar do intelecto e do conhecimento abstrato
(metafísico-ontológico) qualquer desvelamento do mundo que apresente sua essência ultima, ou seja; a coisa em si.
Para Nietzsche qualquer
pretensão acerca do intelecto que o lance para além dessa sua capacidade só
pode ocorrer por uma ilusão produzida pelo próprio intelecto, e qualquer
sentido que se encontre pelo intelecto, só poderá fazê-lo porque foi ele mesmo que o
colocou ali. Verifica-se que no texto de Verdade
e Mentira a ilusão e a dissimulação, que são as formas de como o intelecto
atua para a conservação dos indivíduos, e que os levou aquela sobrevalorização
da razão.
Para Nietzsche a busca do homem pela verdade,
procurando conferir a ela bases seguras de sustentação por meio do intelecto,
não se dá através de um valor epistemológico que a diferencie da mentira, porque
as verdades se mostram de forma provisória, através da linguagem. A verdade
neste caso seria apenas uma ilusão
que se produz por meio do uso da
linguagem, que é produto da capacidade
de dissimulação (NIEZSCHE:
1978, p.44).
Mas com o passar do tempo os homens se esquecem
dessa característica metafórica e passam a atribuir conceitos, que não são mais
apresentados como afirmações
provisórias, mas sim com a função de dizer o que as coisas de fato são. Assim, passa o homem a
creditar que contém o conhecimento da verdade em si, e passa através das
palavras e da linguagem e no extremo desse movimento falar na verdade como algo
adquirido. Tal movimento, no entanto, curiosamente acompanha a própria função
ilusionista do intelecto. Inicialmente ao produzir representação como ilusão
leva o homem a acreditar que isto seja uma reapresentação da coisa em si mesma,
mas que na passa de uma ilusão.
1.1.2.
As coisas mais próximas
Compreende que as obras
do segundo período da produção de Nietzsche (1878-1882) têm como finalidade uma
critica dura aos conceitos de metafísica, romantismo e o cristianismo. Esta
critica se sustenta, pois tais conceitos trazem junto de suas estruturas
conceituais uma fuga da realidade, um distanciamento das coisas mais próximas,
ao passo que a filosofia de Nietsche apresenta uma aproximação das coisas mais
próximas como Nietzsche enfatizada em Verdade e Mentira “E como se
apenas hoje tivesse coisas vizinhas e próximas: Admira-se e fica em silêncio
onde estava então? Essas coisas vizinhas e próximas como lhe parecem mundanas de que magia e plumagem se
revestem!” (NIETZSCHE: 1978 p.43 -50)
Humano, demasiadamente humano representa
o marco de ruptura com a trajetória até então seguida por Nietzsche,
constituindo segundo afirma no prólogo, a grande liberação que o levará a
transformar-se num espírito livre, assim reencontrando a tarefa da qual se
extraviara, e à qual acreditara mesmo ter perdido o direito. Segundo Nietzsche,
toda a história da moralidade é uma negação do carpo e da realidade presente, um culto da ficção
idealista, que segundo Nietzsche inicia com
Sócrates e Platão.
Uma
tal pedra foi Sócrates, por exemplo numa
só noite a evolução
da ciência filosófica , até então
maravilhosamente regular,
mas sem dúvida acelerada demais, foi destruída. Não é uma
questão ociosa imaginar se Platão, permanecendo livre do encanto socrático, não
teria encontrado um tipo ainda superior de homem filosófico, para nós perdido
para sempre. (NIETZSCHE: 2005, p.164).
Desta forma, tudo o que é mais próximo não é tratado
com respeito e interesse, mas com desprezo o que faz rejeitar a vida com suas
pulsões, e fazer deste mundo um lugar indesejado e de infelicidade. Assim,
podemos verificar em Nietzsche uma filosofia das coisas mais próximas, que tem
por objetivo a valorização e o aliviamento
da vida[1].
Nietzsche através de
sua filosofia da aproximação das coisas mais próximas se afasta definitivamente
de todo pensamento filosófico até então produzido. Em seu ensaio sobre Verdade e Mentira, embora admita o papel
da intuição e valorize o homem que se deixa guiar por ele, não apresenta como
capaz de dizer o que é a essência do mundo, mesmo metaforicamente. Em Humano demasiado humano Nietzsche
apresenta uma contraposição com o pensamento de Platão na República, em seu
livro X, onde Platão afirma frente ao seu mundo das idéias a desprezo das
coisas humanas[2].
Quando Nietzsche coloca este título Humano
demasiadamente humano é sobre isso que ele estava falando. No aforismo (HDH
I 628) Nietzsche ao recordar as palavras de Platão dizendo “Nada humano é digno
de grande serenidade” ele inicia uma critica a Platão.
Quando Platão enfatiza
que as coisas humanas devem ser desprezadas, porque as cosias em si, que realmente merecem ser levando a sério está em
outra dimensão. Essa dimensão denominada de mundo das idéias em Platão é
criticada por Nietzsche no aforismo (HDH I 16) “Talvez reconheçamos então que a coisa em si é digna de uma gargalhada
homérica: que ela parecia ser tanto, até mesmo tudo, e na realidade está vazia,
vazia de significado”(Grifo nosso)
1.1.3. O Espírito Livre
Na filosofia de Nietzsche umas dadas
definições do “Espírito Livre”, esta exatamente nesta capacidade de se tornar bons
vizinhos das coisas mais próximas, que Platão desprezou por causa do mundo das
ideais. As coisas longínquas referidas por Nietzsche é a metafísica duramente
criticada por Nietzsche em vários aforismos da obra HDH[3].
Nietzsche não apenas critica as coisas longínquas,
a qual Platão as defendeu através da teoria do mundo das idéias, como também
fez uma critica a cristianismo.
Quando Nietzsche fala de cultura superior, ele
fala de uma espécie de indivíduo que consegue pairar sobre essas concepções de
valores. Apenas ao homem enobrecido, pode se dar o aliviamento da vida. A vida para Nietzsche é apreendida na
perspectiva de finitude absoluta. Tudo aquilo que a metafísica platônica e
cristã denominou de desprezível, pecaminoso e indigno, esta sendo por Nietzsche
resgatado. Esse resgate se dá principalmente através da obra HDH e através do “Espírito Livre[4]”
que apresenta uma abordagem em que Nietzsche se propõe em revirar as terras da
metafísica, com o objetivo de remover tudo, para plantar coisas novas “ Os
homens bom! De cada época são os que cavam fundo nos velhos pensamentos e os
fazem dar frutos, os lavradores do espírito. Mas todo terreno se esgota enfim,
e o arado do mal precisa sem retornar” ( NIETZSCHE: 2002).
Nos aforismo (HDH I 16)[5],
Nietzsche enfatiza um aproximar das coisas mais próximas na perceptiva de aliviar
das coisas da vida. Se o viver é sofrer, o modo de aliviar a vida e acalma-lá, é
realizar o que Platão e o cristianismo fez, ou seja; fugir deste mundo. O
remédio que Platão descreve para aliviar a vida humana é deixar este mundo das coisas
insignificantes.
Em relação ao cristianismo, Nietzsche enfatiza
que o mesmo criou o sofrimento deixando a vida mais pesada, para depois
oferecer o antídoto, que é a salvação. O aliviamento criado na perspectiva do
cristianismo tem por finalidade produzir dor pelo pecado e depois oferecer ao
homem aliviamento através da salvação, ou seja; introduz a culpa pelo pecado e
depois a noção de perdão (HDH I 114)[6].
Para Nietzsche a vida
já é pesada por si só e o cristianismo coloca ainda mais peso através do pecado
da sensibilidade da ética, do céu, do inferno etc. Já existe um peso das coisas
mais próximas, porque a ter ainda mais o peso das coisas longínquas. Para
deixar este peso desnecessário no aforismo (HDH I 148) Nietzsche usa o termo “Leichte”
que significa leve e fácil[7].
Nietzsche fala sobre “Dançar acorrentado” enfatizando que a vida nunca deixará
de ser pesada, e não adianta criar meios para alivia-lá. Segundo Nietsche “É
chamado de Espírito Livre aquele que pensa de modo diverso do que se esperaria
com base em sua procedência, seu meio, sua posição e função, ou com base nas
opiniões que predominam em seu tempo” (HDH I 224).
A afirmação citada à
cima apresenta uma das faces para entender o Espírito livre. O Espírito Livre
segundo Nietzsche esta relacionado com o aprender a dançar nas correntes[8].
Tal dançar nas correntes trata de um modo de viver e de aliviar a vida. Aliviar a vida para Nietzsche não é um
desobrigar da vida como é a metafísica e conseqüentemente a religião. Tirar o
pesa da vida é deixar a vida mais fácil menos complicada. Outra forma, deixar a
vida mais leve é ser ativo em relação à vida.
Compreende-se que a busca
da metafísica pelo homem tem haver coma morte. O indivíduo procura os deuses
por causa da morte, com o objetivo de e aliviar a vida diante do peso da existência.
Mas para Nietzsche viver a vida é viver de forma intensa, sem tirar as pedras
do caminho. Desta forma, deve amar a realidade do jeito que ela é em toda sua
singularidade e dizer sim para vida, sendo este sim a expressão de maior leveza.
Este sim, a qual Nietzsche se refere é um sim
quase que absoluto. Pois não digo sim, em um sentido que a vida vai melhorar, mas
digo sim, diante da vida como um todo, com todas as suas peculiaridades,
problemas e circunstâncias adversas. Assim, tornar a vida mais fácil é descomplica
- lá, livrando das concepções metafísicas.
Nesta perspectiva a
ética do Espírito Livre busca se afastar das coisas longínquas (metafísica
platônica e o cristianismo) e se aproximar das coisas mais próxima. No caso de
aliviar a vida, pode se dizer que o que
significa peso para um é exatamente o
que para o outro alivia. Aquilo que mais
torna a vida pesada é aquilo que torna á
vida leve para “Espírito Livre”, pois é exatamente tudo que a vida pesada oferece
que o Espírito Livre abandona. Desta forma, a vida ganha leveza e se torna agradável,
através da intransigência do Espírito Livre, o qual sacode as idéias que tornou
a vida dura permitindo entrar um ideal de vida simples e mais agradável.
No Andarilho e sua
sombra no aforismo (HDH 318 II) Nietzsche
afirma a questão de liberdade e não
liberdade. A liberdade do Espírito Livre esta em um viver de vida fácil,
deixando a vida descomplicada e vivendo de forma independente de tudo. Mas isso,
não é para todos, pois o que é pesado para uns é leve para outros. A ética do Espírito Livre, não se dá por algum
tipo de aliviar a vida fugindo dela, a qual Nietzsche chama de “alguém querer
tirar as pedras do meu caminho”. Para Nietzsche ninguém pode tirar as pedras do
meu caminho. Ou seja, ninguém pode aliviar a minha vida, eu sou responsável de
aliviar a minha própria vida.
Nietzsche faz uma distinção
de coisas humanas e coisas demasiadamente humanas, ou seja; tem um sentido
relativo. O humanismo de Nietzsche em Humano
demasiadamente humano pode-se dizer, que este humanismo seria cético e anti-
idealista e ao mesmo tempo um humanismo que quer ser realista. Deste humanismo
cético e anti-idealista que Nietzsche busca encontrar e enfrentar a realidade
das coisas humanas e demasiadamente humana. Ao mesmo tempo em que fala de um
lugar “aqui”, e não aquele lugar que Platão apontava.
As coisas humanas
exigem de nós certa ironia, ou seja, rir da vida. Aqui se pode fazer uma
analogia com Platão no texto de Fédon. Onde Sócrates perto de morrer ele esta
tranqüilo, diante da morte. Existem dois modos de ficar livre das coisas
humanas, primeira é o indivíduo se preparar para a morte, a segunda é estar
morto. Esse se preparar para a morte é um processo de desprendimento destas
coisas humanas e demasiadamente humanas.
Em Platão o filósofo
tem que aprender a morrer para este mundo. Para Nietzsche tem que aprender a
rir, diante de tantas coisas estúpidas (HDH I 16). Por isso, que o pairar para Nietzsche, não é
ir para outro mundo, mas significa ser uma espécie de espectador indivisível. O
que Nietzsche aborda através do pairar é como se livrar do peso, e se tornar um
Espírito Livre. O caminho é romper, com
estas coisas que fazem da existência a vida ainda mais difícil. Por isso, que
para Nietzsche é aquele que aprende a rir destas coisas, este rir é um rir trágico.
Pensar o Espírito Livre é pensar também em uma
relação com a saúde, da mesma forma que uns tem outros não tem. Poderia dizer
que o Espírito livre é quase sinônimo de saúde, porque Nietzsche fala do Espírito
Livre como se fosse um tratamento para
sair deste estado em que o doente se encontra ( HDH I 5)[9].
Verifica-se no Humano demasiadamente
humano a contraposição será de um lado o “espírito livre[10]”
e do outro o “espírito cativo[11]”.
Este espírito cativo é um lado desta doença.
Essa doença do espírito cativo nos condicionou a ter uma interpretação
moral da vida, algo totalmente terrível para Nietzsche, pois “ Homem moral”-
“não esta mais próximo do mundo inteligível(metafísico) que o homem físico”
(HDH I 37).
Mas, para se desprender
desta visão é necessário coragem. Por isso, há em Nietzsche sempre uma
perspectiva pessimista. Nietzsche faz uma contraposição do que seria pessimismo
covarde e pessimismo valente. O pessimismo de Shopemnhaur é um pessimismo
covarde de negar a vida, que fez do sujeito uma marionete. Para superação deste
estado de marionete, Nietzsche apresenta a proposta de abandonar toda a
metafísica da tradição filosófica.
A abandonar esta
tradição metafísica, provocará o surgimento do Espírito Livre e o surgimento da
cultura superior e cultura inferior descrito do aforismo (HDH I 224). Ainda neste aforismo, Nietzsche vai falar do “nobre
traidor[12]”,
ele quer dizer com isso, da necessidade do homem não se habituar demasiadamente “mas ter a capacidade de ter hábitos breves”,
e estar disposto a mudança.
Para Nietzsche chega-se
a verdade pela imoralidade, ou seja, o Espírito Livre da imoralidade chega à
verdade. Não precisa destruir a moralidade segundo Nietzsche, ela própria vai se
destruir. Essa destruição da verdade e bem vinda para o Espírito Livre, pois não
é próprio do Espírito Livre ter opiniões corretas, mas ter liberdade da
tradição, uma vez que para o Espírito Livre tudo é fabula. Pois, o Espírito Livre
ele busca a insegurança através da paixão do conhecimento, pois para ele não
existe nada por detrás, não existe fatos, apenas interpretações.
Não podemos esquecer que essa paixão do Espírito
Livre que move para o conhecimento, esta relacionada ao ceticismo. Pois, trata
de um revirar as terras das metafísicas[13]
(NIETZSCHE: 2002). A filosofia de Nietzsche é sempre um tipo de medicamento que
Nietzsche receita, a si mesmo contra o romantismo (doença). O moderno Espírito Livre
não é oriundo da luta de seus predecessores, mas da paz da destruição[14],
qual destruição? Da metafísica. Mas,
essa destruição requer segundo Nietzsche uma das grandes virtudes do filósofo,
a honestidade intelectual. (NIETZSCHE: 2004).
1.1.4. A realidade como um texto e a honestidade
intelectual
Quando fala da
realidade, não significa que se pode chegar ao “em si das coisas”, porque não
existe coisa em si mesma, pois para Nietzsche a verdade é sempre perspectivas. No
HDH, ele trabalha com essas
interpretações que foram dadas a realidade. A verdade para Nietzsche é uma
questão de interpretação[15].
Em Gaia e a Ciência nos aforismos 78/79//80/81 o qual
faz parte do Espírito Livre. Verifica a existência dos conceitos “Redlichreit”
(Honestidade) que significa “direito”, aquilo que é aceito e do conceito “Unredlechreit”
relacionando com desonestidade.
O fato de
Platão tirar os olhos das coisas humanas provocou a desvalorização da cosias
humanas. Isso para Nietzsche foi uma ato de tamanha desonestidade realizada por
uma leitura equivocada da realidade. Para Nietzsche a realidade é um texto, e assim
deve ser tratada. O mesmo esforço que temos para ler um texto deve ser feito para
ler a realidade, por isso à honestidade de fundamental.
A primeira questão a ser destituída pelo
advento da honestidade é que a desonestidade é realizada pela a leitura equivocada da realidade é a
verdade é que não há à verdade, é se há,
não foi desta forma que foi pensada. Por
isso que para Nietzsche o filósofo do futuro é aquele que vai além do bem e do
mal, já é o Espírito Livre.
Qual seria a característica desse Espírito Livre?
É o indivíduo que consegue se manter distante da realidade coletiva. Os
conceitos criados pelos homens, para o Espírito Livre são pré conceito, e o Espírito
Livre consegue transpor tais pré conceitos. O aliviamento da vida a qual
Nietzsche fala, não é um aliviamento sem sentido, mas um aliviamento da vida,
que é viver sem esse peso das coisas criadas para fugir desta realidade. Desta
forma, a tarefa de Nietsche é o aprofundamento
do pessimismo apartir das vivências e não da cronologia.
Na
perspectiva de Nietzsche Platão é acusado de improbabilidade. Essa
improbabilidade em relação a Platão esta no fato de deixar este mundo para
buscar respostas em outro lugar. Nietzsche quando pensa a realidade ele pensa como
se fosse um texto, porque não há outro modo de se aproximar das coisas, se não da
leitura da realidade.
Uma vez, que não se pode compreender a coisa
em si, mas apenas fazer interpretação. Para Nietzsche o texto da realidade, nas
leituras dos homens não passa de antropomorfismo. Para Nietzsche não se tira nada da realidade,
a não ser aquilo que o próprio homem já colocou. A natureza não tem nada ver
com as nossas perspectivas. Pois segundo Nietzsche, vivemos em uma segunda
natureza a “natureza moral”, essa natureza amortece os instintos. Nietzsche
propõe outra interpretação diferente, essa proposta se dá na condição de ler a
realidade apartir da vontade de poder. Para Nietzsche, para ser honesto com a
natureza talvez nenhum palavra seria o
correto, pois qualquer palavra já é uma interpretação.
Desta
forma, no Humano demasiadamente humano é
uma proposta de construção da leitura da realidade, sem os preconceitos dos
homens, pré-conceitos estes que se tornaram uma interpretação demasiadamente
humana. Por isso, que para Nietzsche não
existe causa e efeito ou leis. O que existe na natureza é uma psicologia da
profundeza. Em que a natureza é uma mutação constante em todo tempo. Nietzsche
propõe uma leitura mais próxima da realidade, mas jamais um texto
antropocêntrico, mas um novo tipo de linguagem.
Na leitura
de Nietzsche à natureza, não se encontra uma essência, mas apenas o “Devir” um
estado de guerra constante. Platão através do mundo das idéias tentou salvar o
mundo das aparências, tentado trazer uma paz para a realidade dos homens, por
ter julgado ter encontrado algo permanente, quando para Nietzsche não há
permanente, mas apenas um estado de guerra um “devir”.
Em Gaia e a
Ciência no aforismo (374) “Nosso novo infinito” Nietzsche enfatiza que o
demasiadamente humano vive de horizontes, esse horizonte é representado por uma
gaiola, que significa princípios e conceitos estabelecidos que dão uma
falsa segurança da realidade. A leitura que Nietzsche apresente no Humano demasiadamente humano é uma
leitura que a tradição humana de forma egoísta, brutal e forçada fez da
realidade.
Essa leitura dos homens equivocada da
realidade é criticada por Nietzsche, pois tal leitura busca um fim, sendo que
para Nietzsche não existe infinito. Na leitura platônica e conseqüentemente cristã
foi um esforço para tentar estabelecer um finito, algo que dissesse com segurança
para a existência do sujeito. Por isso no universo de Humano demasiadamente humano pode se falar de uma probabilidade de
uma improbabilidade. Essa improbabilidade tem haver em vender um texto, com um
tipo de interpretação, que não condiz com aquilo que é próprio do Humano demasiadamente humano. A
improbabilidade vende uma imagem, uma mascara da realidade como verdade; pois
segundo Gaia e a Ciência “não podemos enxergara além de nossa esquina” (374).
Nietzsche sentiu o peso do mundo recair sobre seus
ombros e dedicou sua vida para se libertar das neuroses humanas e se desviar do
transcendental que fixava um sentido único sobre o acontecido, fazendo do
próprio passado um peso presente. Segundo Nietzsche nós inventamos coisas como
a metafísica, deuses e a religiões porque, o mundo nos pareceu pesado demais.
O homem inventou Deus, logo depois ele “esqueceu”
que o inventou, e passou a tratá-lo como ser transcendental. Desde então,
ficamos presos aos valores eternos que nos impedem de construir uma vida melhor.
Nietzsche foi aquele que ousou transgredir os valores transcendentais da
filosofia e da religião. Se aproximou das coisas mais próxima e apresentou a liberdade através do Espírito Livre.
REFERÊNCIAS
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República. São Paulo. Fundação Caloustre. Ed.9º. 1978.
. Fédon Trad. De José Cavalcante de Sousa.
São Paulo. Nova Cultura. 1991.
GIACOIA
JUNIOR, Osvaldo. Folha explica: Nietzsche.
Editora Publifolha, São Paulo. 2000
____________.
Obras incompletas. Tradução e notas
de Rubens Rodrigues Torres Filho. Editora Nova Cultural. São Paulo. 1999.
LOBOSQUE, A, Marta. A
vontade livre em Nietzsche. 2010.Disponivel em http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/1843/BUBD-89LKLY/1/tese_cd_3.pdf
em:15/11/2010.
NIETZSCHE,
F. 1978. Obras incompletas. São Paulo, Abril Cultural, 416 p. (Col. Os
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NIETZSCHE, F. 1989. Ecce Homo. Como se vem a ser o que se é. Lisboa,
Edições
70, 127 p.
NIETZSCHE,
Frederich Wilhelm. Humano, demasiado
humano: um livro para espíritos livres vol. I Tradução de Paulo César de
Souza. São Paulo: Editora Companhia das Letras. 2005.
NIETZSCHE, F. A Gaia Ciência. São Paulo, Cia. das Letras, 2002.
NIETZSCHE, F. Aurora. Reflexões sobre os preconceitos morais. São
Paulo, Cia. das Letras, 2004.
NIETZSCHE, F. Humano, Demasiado Humano II. São Paulo, Cia. das Letras,
2005.
SANTOS, E. Volnei. Por uma
filosofia da distância: ensaio em torno do pensamento de Friedrich Nietzsche.
Londrina. Eduel, 2009.
[1] Sobre essa
temática, Ponton (2007, p. 289), afirma que a moral de Nietzsche deve ser
pensada a partir de uma dietética que conduz à leveza. O livro O andarilho e
sua sombra teria sido o primeiro ensaio dessa concepção dietética da
filosofia, para a qual o livro de Ponton (2007) oferece uma densa e lúcida
leitura.
[2] “A lei diz o que há de mais belo
é conservar a calma o mais possível nas
desgraças e não se indignar, uma vez que
não se sabe o mal e o bem que há em tais acontecimentos, nem se adianta nada,
positivamente, em os suportar com dificuldade; nem tudo o que é humano
merece que se lhe dê muita importância; e o que acudir-nos
o mais depressa possível é
entravado pelo desgosto” (PLATÃO, Livro X 604 b-c. p.468).
[3] Aforismo 16 “é verdade que poderia
existir um mundo metafísico; dificilmente pode os contestar a sua possibilidade
absoluta [...] Esse é um problema
puramente cientifico e não muito apto a preocupar os homens; mas tudo o que até hoje tornou para eles
valiosas, pavorosas, prazerosas as suposições metafísicas,tudo o que as criou,
e paixão, erro e auto ilusão; foram os piores e não os melhores métodos
cognitivos, que ensinaram acreditar nelas.” Aforismo 17 “ O homem jovem aprecia explicações metafísicas, porque
elas lhe revelam, em que coisas que ele achava desagradáveis ou desprezíveis, algo bastante significativo;
e, se estiver descontente consigo mesmo, este sentimento se aliviará quando ele
reconhecer o mais estranhando enigma ou miséria do mundo naquilo que tanto
reprova em si. Sentir-se mais irresponsável
e ao mesmo tempo achar as coisas mais interessante – isso constitui,
para ele, o duplo beneficio da metafísica. Aforismo 18 “ Porém na medida de em
que toda a metafísica se ocupou
principalmente da substância e da
liberdade do querer, podemos designá-la
como a ciência que trata dos erros fundamentais dos homem, mas como se fossem verdades
fundamentais.”
[4] A
característica do Espírito Livre: Nietzsche
ressalta constantemente a originalidade do espírito livre originalidade que se radicaliza no gênio _
face à tradição, ao rebanho, à comunidade, pensando de modo diferente do que se
esperaria com base em sua procedência, meio, posição e função (HDH, 225).
Desafiando a lei da moralidade do costume, hostil a todo ideal próprio, é
aquele que estabelece o próprio ideal e dele faz derivar suas leis (GC, 143).
Não lhe interessam riqueza, fama ou poder, nem a satisfação crua das paixões:
sob este aspecto, “vive barato”, dispensando os prazeres que atraem a maioria
dos homens (A, 566). É rara e peculiar sua medida de gosto. Não receia os
próprios instintos, o autodomínio não é para ele uma atitude forçada: não
esperando de si nada de vergonhoso, pode entregar-se aos seus impulsos com essa preocupação e graça (GC, 294). Como
defensor da cultura, desconfia do Estado; permanece alheio às reviravoltas
políticas, como, aliás, a todas as turbulências e ruídos do seu tempo.
Necessita guardar distância de outros homens: não lhe convêm os vínculos estreitos
com mulher, parentes, vizinhos, amigos. Não tendo apego a pessoas e coisas,
tampouco se apega a nada de fixo e constante em si mesmo, desconfia de tudo
aquilo que quer tornar-se sólido nele (A, 296); é nobre traidor, sem sentimento
de culpa, de todas as coisas que podem ser traídas (HDH, 637). Não se dirige a
uma meta final, alegrando-se, como andarilho, na mudança e na passagem (HDH,
638). Não atormenta nem denigre o próprio corpo, atendendo às suas exigências,
aliás sóbrias; não hesita, porém, diante das exigências de uma vida rigorosa.
Seu ideal de felicidade não reside no descanso, nem na ausência da dor, nem na
destruição da vontade, nem na fixação de um sentido: não repousa em nenhuma paz
derradeira, nem em qualquer sabedoria ou bondade última (GC, 285).(LOBOSQUE,
225)
[5] “Foi pelo fato de termos durantes
milhares de anos, olhando com exigências morais, estéticas, religiosas, com cega
inclinação, paixão ou medo, em termos
nos regalado nos maus hábitos do pensamento ilógico, que este mundo gradualmente
se tornou assim estranhamente variegado, terrível, profundo de significado,
cheio de alma, adquirindo cores – mas nós fomos os coloristas: o intelecto
humano fez aparecer o fenômeno e introduziu nas coisas as suas errôneas concepções fundamentais. Tarde
bem tarde – ele cai em si: agora o mundo da experiência e a coisa
em si lhe parecem tão extraordinariamente distintos
e separados, que ele rejeita a conclusão sobre esta a partir
daquele – ou, de maneira terrivelmente misteriosa [...]. Outros ainda
recolheram todos os traços
característicos de nosso mundo do
fenômenos – isto é da representação do
mundo tecida por erros intelectuais e por nós herdada”
[6] “Já o cristianismo esmagou como
num lodaçal profundo: então, nesse sentimento de total
abjeção, , de repente fez brilhar
o esplendor de uma misericórdia
divina, de modo que o homem
surpreendido aturdido pela graça, soltou um grito de êxtase e por um momento
acreditou carregar o céu dentro de si. Sobre
este excesso doentio do sentimento, sobre a profunda corrupção de mente e coração que
He é necessária, agem todas as invenções psicológicas do cristianismo: ele quer
negar, despedaçar, aturdir, embriagar, e só uma coisa não quer: a medida; por
isso é, no sentido mais profundo, bárbaro, asiático,pouco nobre e nada
helênico.”
[7] “[...]
Certamente há coisas desfavoráveis a dizer sobre os seus
meios de aliviar a vida: eles
acalmam e curam apenas provisoriamente, apenas nos instante, e até mesmo impedem que os homens trabalhem por uma
real melhoria de suas condições, ao
suprimir e purgar paliativamente a paixão dos insatisfeitos, dos que impele
acão.”
[8] Onde um homrm chega a convicção fundamental de que
é preciso que mandem nele, ele se torna “crente”; inversamente, seria pensa´vel
um prazer e força da autodeterminação, de toda a crença, de todo desejo de
certeza, exercitando, como ele está, em poder manter-se sobre leves cordas e possibilidades, e mesmo dinate de abismos dançar ainda um tal espírito seria o
espírito livre par exellence” NIETZSCHE: 1999, p. 174) Grifo nosso.
[9] “E, falando seriamente: é uma
cura radical para todo pessimismo ( câncer dos velhos idealistas e heróis da
mentira, como se sabe -) ficar doente à maneira desses espíritos livres,
permanecer doente muito tempo torna-se sadio, quero dizer, “mais sadio”. Há
sabedoria nisso, sabedoria de visa, em receitar para si a saúde em pequenas
doses e muito lentamente.”
[10] “É chamado de
espírito livre aquele que pensa de modo diverso do que se esperaria com base em
sua procedência, seu meio, sua posição e função, ou com base nas opiniões que
predominam em seu tempo” (NIETZSCHE, 2005, p. 143).
Onde um homem chega a convicção
fundamental de que é preciso que mandem
nele, ele se torna “crente”;
inversamente, seria pensável um prazer e força de autodeterminação, uma
liberdade da vontade, em que um espírito se despede de toda crença, de todo
desejo de certeza, exercitado, como ele está, em poder manter-se sobre leves
cordas e possibilidades, e mesmo diante de abismos dançar ainda. Um tal
espírito seria o espírito livre par excellence. (NIETZSCHE [§ 347], 1999, p.
200)
[12] “O espírito é que nos salva, de
modo a não ardemos
e virarmos cinzas totalmente ; de
vez em quando ele nos arranca
do altar sacrifical da Justiça,
ou nos
envolve num tecido, de
amianto. Salvos em opinião,
através de mudanças instigados pelo
espírito, de opinião em opinião, através
da mudança de partidos ,
como nobres traidores de todas as coisas que podem ser
traídas – e no entanto sem sentimento de culpa” (NIETZSCHE: 2005, p.271).
[13] “Do mesmo modo que o martelo
surgirá um pouco adiante como o instrumento imprescindível para o filósofo
legislador disposto a criar para si novos valores, pois para que seja possível
criar há que, primeiramente, destruir, neste momento é a relha do arado que
surge como instrumentos necessários e essenciais para o filósofo. [...] Nesse
terreno, que é próprio a Humano de
demasiadamente humano, a relha do arado serve para revolver as terras da
metafísica, visando com isso a um momento novo (pois atrás dela sempre
virá em seguida o semeador) de liberação para o espírito e de um
circunscrever-se no âmbito das “coisas
mais próximas” [...]Humano de
demasiadamente humano poderia ter o seu expresso em “como filosofar com a
relha do arado”, posto ser esse mesmo o caminho a ser percorrido para a liberação do espírito ou o
objeto mesmo desse livro escrito para espíritos livres. ”(VOLNEI: 2009, p.61-62-63).
[14] “A destruição da “vida”
presente, representada em toda a sua carga de sofrimento, surge como o caminho
necessário a ser trilhando por todo aquele que almeja a perfeição. A paz e a
calma na destruição, no oposto daquilo que é proposto como objetivo para a
construção do existir do tipo espírito livre
expresso no “aliviar a vida” (
Erleichterung dês lebens) parecem ser, para esse homem, os anseios de uma vida
não feliz, posto que, na sua ansiosa busca pela veracidade metafísica,
ele destrói toda a possibilidade de uma
felicidade terrena, mas seria contudo,
heróica em que todo sofrimento se apagaria no Nirvana”(Ibidem).
[15] “ O aprofundamento para Nietzsche é a saída das que são identificada no humano demasiadamente
humano como pairar, que é a busca pela leveza”/“O heroísmo refinado é a paixão
deste espírito pelo conhecimento. Só que essa
obstinação de pelo o conhecimento ela exige a decomposição da
metafísica”/O espírito livre sempre será pessimista ao contrário de Platão que
parece pessimista, ele se mostra bem otimistas, quando cria uma outra realidade para dar conta deste mundo”