Etimologicamente niilismo vem de Nihil, que significa nada. Este termo aparece primeiramente com Goetzius (1733). Mas é, sobretudo na interpretação de F. H. Jacobi, a respeito da identidade do niilismo, que o termo adquire maior consistência, apresentando-o como responsável pelo processo de aniquilação da realidade provocado pela redutiva posição fundamental da razão que quebra a relação ontológica constituinte.
O primeiro uso propriamente filosófico
do conceito niilismo pode ser localizado no final do século XVIII, ao longo dos
debates e das disputas que caracterizam a fundação do idealismo mais
especificamente na carta, escrita em 1799, de F. H Jacobi a Johann
Fitche na qual o idealismo é
acusado de ser um niilismo” Na Carta a Fichte, Jacobi declara a
“artificialidade de uma redução filosófica ao eu, cujo êxito é uma desproporção
ontológica e uma recaída simétrica sobre as potencialidades construtivas do
saber.
Mas, é sem duvida, que é com Nietzsche
que o niilismo vai se estruturar como um problema filosófico. É com Nietzsche que a reflexão filosófica sobre o
niilismo alcança o seu mais alto grau, com um pensamento radical que mostra as
origens mais remotas do fenômeno, como o platonismo e o cristianismo. Assim,
não só diagnostica a doença do nosso tempo, como tenta indicar um remédio. O
século XX é como ele diz claramente, "o século do niilismo que impregna a
atmosfera cultural de toda uma época e transforma-se numa categoria fundamental
no laboratório filosófico contemporâneo".
Nietzsche na Gaia e a ciência enfatizam que o
Homem louco anuncia aos homens que Deus está morto. O que houve com Deus? Os
homens o mataram, pouco a pouco, por diversas razões a sociedade ocidental foi
se afastando de Deus, foi assim que o matou. Matando Deus, e eliminaram-se todos os valores
que serviam de fundamentos para nossa vida, e consequentemente perde-se
qualquer referencia.
Para Nietzsche, nós
eliminamos o mundo sobrenatural, mas assim sendo feito, foi infringido também o
quadro de valores e idéias a ele ligado, e assim nos encontramos sem ponto de
referenciai. A morte de Deus divide a história da humanidade. É através da
morte de Deus que Nietzsche através de Zarastruta anuncia que sobre as cinzas
de Deus erguera a idéia do super homem, do homem novo que ama a vida e volta-se
as costas para as quimeras da transcendência, e retorna a sanidade da terra.
Desta forma,
o niilismo (do latim nihil,
nada) é um termo e um conceito filosófico que afeta as mais diferentes esferas
do mundo contemporâneo como: literatura, arte, ciência humanas, ética e moral. É a desvalorização e a morte do sentido, a
ausência de finalidade e de resposta ao “porquê”. Os valores tradicionais
depreciam-se e os "princípios e critérios absolutos dissolvem-se".
Tudo é sacudido, posto radicalmente em discussão. A superfície, antes congelada, das
verdades e dos valores tradicionais está despedaçada e torna-se difícil
prosseguir no caminho e avistar um ancoradouro. Dentre
os autores e movimentos mais significativos que se defrontou com o problema do
niilismo destaca-se Martin Heidegger.
Em Heidegger o sujeito da tradição
filosófica não existe mais, o que existe é o “Dasen” o ser ai, um ser que se
angustia diante da morte, diante do nada. Mas, o que é o nada? Tal pergunta
parece ser uma contradição. Pois se o nada é nada, não tem entes, se não tem
entes, logo não tem como falar. Este nada que Heidegger enfatiza, se constitui
através da angustia, pois na angustia estamos suspensos no nada, não há um piso
metafísico. O nada não se refere ao nada, mas a angústia nos da esse sentimento do nada. Em Heidegger o
niilismo se dá em relação à técnica, tanto que segundo Heidegger a ciência se
tornou nossa religião. O que Heidegger critica não é a técnica, e sim a tecnologia,
pois o avanço da tecnologia é apenas o resultado da técnica[1]. Heidegger também enfatiza que
devemos abandonar o ser como fundamento, para saltar em seu abismo.
Nesta perspectiva de
Nietzsche e Heidegger o niilismo se torna consumando, fazendo compreender que o
niilismo parece ser a única chance. Onde o homem deixa de ser o centro de tudo
e passa a ser apenas mais um. O homem enquanto individuo continua existindo,
mas sua existência já não tem mais sentido.
Essa perda do sentido o leva a consumação de todos os projetos de
reapropriação tais como marxismo, ciência do espírito, fenomenologia,
hermenêutica, etc. Pois tudo se deflagra a liquidação dos valores supremos. Isso acontece não pela ausência de
restabelecimento de uma situação de valor, visto que a reapropriação não pode
mais existir, pois o que se torna supérfluo é o próprio conceito de autentico.
Com isso, o mundo se torna
uma grande fábula, porque não há verdade alguma e consequentemente coisas mais
autenticas do que a experiência aberta para metafísica. Diante
disso a experiência já não é mais autentica pelo fato de que a autenticidade
mesma o próprio, a reapropriação-desvaneceu coma morte de Deus, fazendo com que
o niilismo seja a única chance.
[1] Escutar o apelo da essência da
técnica, todavia, não significa tampouco abondonar-se sem reserva ás suas leis
e a seus jogos; por isso, creio eu, Heidegger insiste no fato de que a essência da técnica não é algo técnico, e é
a essa essência que devemos estar atentos. Ela faz ecoar um apelo que está
inextricavelmente ligado ás mensagens que envia a Ueber-lieferung, a que também pertence à técnica moderna,
consumação coerente da metafísica começa por Parmênides. (VATTINO, G. O fim da
Modernidade, SP. Martins Fontes. 2007, p 15)