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domingo, 18 de novembro de 2012

A QUESTÃO DO NIILISMO



Etimologicamente niilismo vem de Nihil, que significa nada. Este termo aparece primeiramente com Goetzius (1733). Mas é, sobretudo na interpretação de F. H. Jacobi, a respeito da identidade do niilismo, que o termo adquire maior consistência, apresentando-o como responsável pelo processo de aniquilação da realidade provocado pela redutiva posição fundamental da razão que quebra a relação ontológica constituinte.
O primeiro uso propriamente filosófico do conceito niilismo pode ser localizado no final do século XVIII, ao longo dos debates e das disputas que caracterizam a fundação do idealismo mais especificamente na carta, escrita em 1799, de F. H Jacobi  a Johann  Fitche  na qual o idealismo é acusado de ser um niilismo” Na Carta a Fichte, Jacobi declara a “artificialidade de uma redução filosófica ao eu, cujo êxito é uma desproporção ontológica e uma recaída simétrica sobre as potencialidades construtivas do saber.  
Mas, é sem duvida, que é com Nietzsche que o niilismo vai se estruturar como um problema filosófico. É com  Nietzsche que a reflexão filosófica sobre o niilismo alcança o seu mais alto grau, com um pensamento radical que mostra as origens mais remotas do fenômeno, como o platonismo e o cristianismo. Assim, não só diagnostica a doença do nosso tempo, como tenta indicar um remédio. O século XX é como ele diz claramente, "o século do niilismo que impregna a atmosfera cultural de toda uma época e transforma-se numa categoria fundamental no laboratório filosófico contemporâneo".
 Nietzsche na Gaia e a ciência enfatizam que o Homem louco anuncia aos homens que Deus está morto. O que houve com Deus? Os homens o mataram, pouco a pouco, por diversas razões a sociedade ocidental foi se afastando de Deus, foi assim que o matou.  Matando Deus, e eliminaram-se todos os valores que serviam de fundamentos para nossa vida, e consequentemente perde-se qualquer referencia.  
Para Nietzsche, nós eliminamos o mundo sobrenatural, mas assim sendo feito, foi infringido também o quadro de valores e idéias a ele ligado, e assim nos encontramos sem ponto de referenciai. A morte de Deus divide a história da humanidade. É através da morte de Deus que Nietzsche através de Zarastruta anuncia que sobre as cinzas de Deus erguera a idéia do super homem, do homem novo que ama a vida e volta-se as costas para as quimeras da transcendência, e retorna a  sanidade da terra. 
Desta forma, o niilismo (do latim nihil, nada) é um termo e um conceito filosófico que afeta as mais diferentes esferas do mundo contemporâneo como: literatura, arte, ciência humanas, ética e moral.  É a desvalorização e a morte do sentido, a ausência de finalidade e de resposta ao “porquê”. Os valores tradicionais depreciam-se e os "princípios e critérios absolutos dissolvem-se". Tudo é sacudido, posto radicalmente em discussão. A superfície, antes congelada, das verdades e dos valores tradicionais está despedaçada e torna-se difícil prosseguir no caminho e avistar um ancoradouro. Dentre os autores e movimentos mais significativos que se defrontou com o problema do niilismo destaca-se Martin Heidegger.
Em Heidegger o sujeito da tradição filosófica não existe mais, o que existe é o “Dasen” o ser ai, um ser que se angustia diante da morte, diante do nada. Mas, o que é o nada? Tal pergunta parece ser uma contradição. Pois se o nada é nada, não tem entes, se não tem entes, logo não tem como falar. Este nada que Heidegger enfatiza, se constitui através da angustia, pois na angustia estamos suspensos no nada, não há um piso metafísico. O nada não se refere ao nada, mas a angústia nos da  esse sentimento do nada. Em Heidegger o niilismo se dá em relação à técnica, tanto que segundo Heidegger a ciência se tornou nossa religião. O que Heidegger critica não é a técnica, e sim a tecnologia, pois o avanço da tecnologia é apenas o resultado da técnica[1]. Heidegger também enfatiza que devemos abandonar o ser como fundamento, para saltar em seu abismo.
Nesta perspectiva de Nietzsche e Heidegger o niilismo se torna consumando, fazendo compreender que o niilismo parece ser a única chance. Onde o homem deixa de ser o centro de tudo e passa a ser apenas mais um. O homem enquanto individuo continua existindo, mas sua existência já não tem mais sentido.  Essa perda do sentido o leva a consumação de todos os projetos de reapropriação tais como marxismo, ciência do espírito, fenomenologia, hermenêutica, etc. Pois tudo se deflagra a liquidação dos valores supremos.  Isso acontece não pela ausência de restabelecimento de uma situação de valor, visto que a reapropriação não pode mais existir, pois o que se torna supérfluo é o próprio conceito de autentico.
Com isso, o mundo se torna uma grande fábula, porque não há verdade alguma e consequentemente coisas mais autenticas do que a experiência aberta para metafísica.   Diante disso a experiência já não é mais autentica pelo fato de que a autenticidade mesma o próprio, a reapropriação-desvaneceu coma morte de Deus, fazendo com que o niilismo seja a única chance.




[1] Escutar o apelo da essência da técnica, todavia, não significa tampouco abondonar-se sem reserva ás suas leis e a seus jogos; por isso, creio eu, Heidegger insiste no fato de que  a essência da técnica não é algo técnico, e é a essa essência que devemos estar atentos. Ela faz ecoar um apelo que está inextricavelmente ligado ás mensagens que envia a Ueber-lieferung, a que também pertence à técnica moderna, consumação coerente da metafísica começa por Parmênides. (VATTINO, G. O fim da Modernidade, SP. Martins Fontes. 2007, p 15)