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segunda-feira, 19 de novembro de 2012

O COGITO E A LOUCURA



Após grandes elucubrações e esforço intelectual unicamente por meio da razão Descartes coloca em dúvida todo o saber vigente, chegando a res cogitans  ou seja, o “EU” o qual é uma substância pensante. Essa substância pensante é a base que proporciona a devida condição da existência. Para Descartes, isso se configura em uma certeza a qual é identificada no sistema cartesiano através do cogito: “Se penso; logo existo”. Assim, para Descartes só existe uma coisa, o teu “EU” enquanto pensa. Cito Descartes:

 E, notando que esta verdade, eu penso, logo existo, era tão firme e tão certa que ás mais extravagantes suposições dos céticos não seriam capazes de abalar, julguei que podia aceita-las, sem escrúpulos, como primeiro principio da filosofia que procurava. (DESCARTES, IV,§ 1 p.46).

 Nas meditações, Descarte apresenta o argumento dos sonhos, o argumento do Deus enganador que será substituído pelo gênio maligno e o argumento da loucura. O argumento dos sonhos é o golpe de misericórdia no conhecimento sensível. Já o Deus enganador não é uma boa razão para duvidar dos conhecimentos racionais, pois Deus é bom – é como bom não quer que você se engane. Com isso, Descartes substitui o Deus enganador pelo gênio maligno, o qual tem por objetivo solapar as bases do conhecimento sensível e racional, ou seja, o gênio maligno seria o artificio para duvidar de tudo, menos do cogito o qual é o seu limite.
No argumento da loucura paira a questão, segundo Machado embasado na posição de Foucault enfatiza que “O sujeito que duvida que realize o cogito não pode ser louco, nenhum louco conseguira chegar à hipótese do gênio maligno. Se alguém pensa não é louco. Se alguém é louco não pode pensar” (MACHADO, 1981, p.61). Pois o sujeito que se põem a pensar durante o processo do cogito não pode ser louco, porque a loucura é justamente a não possibilidade de fazer este percurso da mente. Com isso, a loucura invalida o cogito?  Uma possível resposta cartesiana para tal questão é que a loucura não teria condição de invalidar o cogito. Descartes não exclui a loucura, mas que o cogito é válido mesmo se o pensamento é louco.
Supostamente a posição de Foucault é válida para o cogito na questão do sujeito ter  competências  para proferir  um discurso filosófico organizado,  e para  isso é preciso não  ser louco. Segundo Derrida “[...] o ato do cogito vale mesmo se, o pensamento é louco do começo ao fim” (2001, p.50). Com isso, não seria apropriado dizer como afirma Foucault que “[...] eu que penso não posso estar louco” (Ibidem, p. 50). Pois, o cogito ele se afirma enquanto penso, o que não implica em um pensamento aprovados pelas leis lógicas proferidas através de um discurso linguisticamente correto. Assim, a existência do cogito é explicado pelo pensamento, logo o cogito ele inválida a loucura, pois acredita que o louco dentro da sua loucura  ele pensa, fazendo com que  a loucura  não inválida o cogito, pois  a loucura é um argumento irrazoável.


BIBLIOGRAFIA

DERRIDA, Jacques. Cogito e História da Loucura. IN FERRAZ, Maria C.F. (Org.). Três tempos sobre a história da loucura. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2001. p. 09-67.
DESCARTES, René. Meditações. 3. Ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983. (Os Pensadores).
COTTINGHAM, Jonh.  Dicionário Descartes. Rio de Janeiro. Ed. Jorge Zahar. 1995
MACHADO, Roberto. Ciência e Saber: a trajetória da arqueologia de Michel Foucault. Rio Janeiro: Graal, 1981.