Segundo a qual o mundo está dividido em duas forças: o Bem [luz] e o Mal [trevas] como entidades antagônicas e perpétuas. No sistema maniqueísta o bem e o mal não são figuras retóricas, são representações ontológicas e concretas do Bem e do Mal. Agostinho de Hipóna contemporâneo da doutrina maniqueísta na obra o “Livre Arbítrio” desenvolve um tratado de identificação sobre a causa do bem e do mal buscando compreender; o que é o bem e o que é mal. Agostinho enfatiza, em que sentido uma coisa se pode ser “BOA”; e de onde vem o “MAL”?. O bem é o mal estão impressos nas coisas? Ou se encontram apenas no intelecto humano, como meros conceitos hermenêuticos da linguagem?. Hoje há idéia de que o bem e o mal são relativos. Mas, a angustiosa presença do mal no mundo “físico, moral e existencial” nos mostra que a questão está longe de ser resolvida.
Agostinho afirma na obra “A Natureza do Bem”: “(...) que toda a natureza é BOA) . Desta forma para algo ser bom é necessário antes de tudo existir. Assim para algo ser bom é necessário antes de tudo ser; pois do não ser, não há nada que seja bom . Agostinho traz uma mudança a respeito do conceito de “BEM e MAL”. Nesta concepção Agostinho desconstrói o conceito de mal ontológico. Para Agostinho o homem é autor de sua conduta; e é responsável por ela. O “Mal” é conseqüência antropológica do mau uso do livre-arbítrio. [Assim Deus é o criador de todas as coisas boas. Por isso, não pode criar o mal que é oposto a sua essência]. E o mal não é nada de positivo, mas a privação do bem. Por isso; é pelo livre-arbítrio da vontade que o homem se aproxima do “BEM” [que é Deus] é também pelo livre-arbítrio da vontade que ele se afasta, tendo assim a mal, como ausência do bem.]
Para Agostinho, o mal não é propriamente uma natureza, mas a corrupção dela. Uma natureza má seria uma natureza corrompida, mas não seria má enquanto natureza, e sim naquilo que o degenerou; porque o mal é sempre inerente ao sujeito. Com afirmação da premissa maior “(...)de que toda a natureza é boa”. Além de apresentar um otimismo [cristão] ontológico, Agostinho se opõe definitivamente ao maniqueísmo, que demonizava a matéria e fazia do homem um ser dualístico em permanente crise; odiando o próprio corpo, como um cárcere privado da alma. Agostinho resgata a natureza literalmente como algo “BOM”. Através da premissa de que toda a “Natureza é Boa em si mesma”; Agostinho atribui o conceito de “BOM” para esfera da “antropologia” que representa o homem; e para esfera da “Cosmologia” que representa o mundo/natureza.
Na esfera da cosmologia; a astronomia mostrou-se como um elemento fundamental para a premissa de Agostinho; “(...) de que toda a natureza é boa”. Pois a través da astronomia Agostinho observou os movimentos perfeito das estrelas; a ordem do universo, e a perfeita harmonia das suas estruturas matemáticas. Em face disso, não era possível a existência do princípio dualista de “bem e mal” como atribuía a doutrina maniqueísta. Se o universo expressava a estrutura das formas matemáticas regulares, harmoniosas e possíveis de cálculo; onde achar os efeitos do mal na natureza [criação do mundo?]. As estruturas básicas presentes na natureza [criação do mundo] são boas; foi o que Agostinho aprendeu com a Astronomia. Usava-se dessa mesma maneira, a idéia grega pitagórica do cosmos. E os princípios da forma e da harmonia expressos na matemática. A harmonia cósmica da natureza foi elemento determinante na sistematização teológica e filosófica de Agostinho. Segundo Paul Tillich, o abandono do maniqueísmo por Agostinho, foi decorrente da sua visão de natureza, influenciado sobre tudo pela astronomia.
Desta forma, Agostinho supera o dualismo e a negatividade do Oriente. Assim, a separação de Agostinho da filosofia maniqueísta não foi apenas um evento simbólico. Significava a libertação da ciência natural moderna, da matemática e da tecnologia, do pessimismo dualista e da negação da realidade na Ásia. Esse fato foi muito importante para o futuro da Europa. Os filósofos e teólogos agostinianos, do último período da Idade Média, deram sempre ênfase à matemática e à astronomia. A ciência natural moderna nasceu como o platonismo e o agostinianismo, na base da crença do cosmos harmonioso, determinado por regras matemáticas .
Já na esfera da antropologia “BOA” Agostinho resgata as origens estabelecidas na tradição judaico-cristã que, desde os primórdios da civilização, havia reservado ao homem um lugar destacado na obra da criação, colocando-o acima dos demais seres vivos. Desse contexto é possível afirmar que a visão harmoniosa do universo e da natureza trazida pelos antigos e preservada pelos medievais evidencia a importância de que a matemática aliada às formas geométricas teve na composição estética do mundo, como algo estritamente bom. Certamente a teologia se beneficiou dessa visão positiva da natureza não apenas para assegurar a sua beleza, mas para sustentar a bondade e a perfeição da natureza [do Criador]. Portanto, a relação homem e natureza no conceito de Agostinho proporcionam uma analise da atualidade para os dilemas ambientais contemporâneos.
A natureza para Agostinho e conseqüentemente para o homem medieval representava antes de tudo a personificação do bem [a obra do Criador] e a manifestação estética da beleza [de Deus]. Devendo ser vista primeiramente como objeto de contemplação do que propriamente algo a ser transformado pela ação humana. A natureza ou cosmos já era desde a antiguidade grega contemplada em sua forma harmoniosa, porém, muito mais pelo olhar das formas geométricas e matemáticas; do que teológica . Nesse contexto, o homem mantinha do ponto de vista utilitário uma postura de indiferença para com a natureza. Ele se sustentava dela, fazendo-se da mesma parte integral . Mas, a transição da Idade Média para a Idade Moderna alterou significativamente a maneira de o homem relacionar-se com a natureza . Desta forma, a dimensão ecológica já não faz parte integrante do homem e a natureza começa a ser agredia e destruída. O que implica, portanto em um ato contra a natureza [criação].
O homem moderno aspira um sentimento de ser superior relação à criação, em que a mesma se tornou apenas objeto do antropocêntrico, que tem como única finalidade servir apenas os caprichos egoístas do homem. Essa proposição pode ser legitimada quando se analisa o conceito de natureza através da história principalmente depois dos tempos modernos com a Revolução Industrial. A qual contribuiu para o advento exacerbado do “Capitalismo Selvagem” do “Consumismo” e da “Exploração dos Recursos Naturais” para suprir o desejo consumista. Trouxe conseqüência terrível causadas pela a industrialização e a tecnologia sobre a natureza.
O progresso técnico da civilização mecanicista acelerou e intensificou a devastação cada vez maior da natureza. A produção desenfreada; o consumismo compulsivo, e os impactos sobre a natureza [criação] passaram ameaçar o equilíbrio; da vida ; contribuindo assim para os efeitos negativos como chuvas acidam; efeitos estufas, morte dos oceanos, contaminação dos alimentos e poluição, do ar, etc. Segundo Friedrich Engels: “O homem está como parte da natureza e não como dono; não pode dominar a natureza como um conquistador de um povo estrangeiro, como alguém situado fora da natureza; mas sim que pertence, como nossa carne, nosso sangue, nosso celebro” .
Segundo Jeam Luand “O mundo contemporâneo é prodigo em exemplos que parecem corroborar a visão niilista” , pois hoje assistimos ao formidável espetáculo tanto no “âmbito privado ou publico” em que entram em choque com as vontades desgovernadas, sem parâmetro de bem e de Mal” . Mas para G.Reale: os valores de bem e de mal destituídos pelo niilismo; “São justamente os grandes valores que nas eras antigas, medieval e primórdios da modernidade eram pontos de referência essenciais; e, em ampla medida, irrenunciáveis para a vida social” .
Segundo Leonardo Boff o sintonia mais doloroso já constado há décadas por sérios analista e pensadores contemporâneo, é um difuso mal estar da civilização. Aparece sob o fenômeno de descuido, do descaso e do abandono, numa palavra, a falta de cuidado com o mundo . Disse o filósofo que melhor viu a importância essencial do cuidado, Heidegger (1889-1976) em seu famoso “Ser e Tempo” enfatiza: “Do ponto de vista existencial, o cuidado se acha a priori, antes de toda atitude e situação do ser humano, o que significa dizer que ele se acha em toda a situação de fato”. Quer dizer; o cuidado se encontra na raiz primeira do ser humano, antes que ele faça alguma coisa. E, se fizer, ele sempre vem acompanho de cuidado. Significa reconhecer o cuidado com modo de ser essencial sempre presente e irredutível á existência.
Hoje o maior desafio ao tratar de questões ambientais está em assegurar o equilíbrio entre meio ambiente e economia, sem perder o foco da discussão em uma plataforma ética e política. São aparentemente dois universos distintos, porém, com a mesma raiz etimológica derivada do radical grego oikos (casa). Economia significa em termos gerais, organização da casa, do lugar onde se vive. E meio ambiente vem associado ao termo ecologia que significa o estudo da casa enquanto local de existência.
Tal direito ambiental se vê ligado às outras esferas da sociedade, que dele exige manter vínculos com os diversos ramos do direito e também com o conhecimento produzido pelas ciências em geral, sobretudo, com a filosofia. Desde o seu nascimento na década de 1960, o direito ambiental, com a sua função primordialmente voltada à proteção do meio ambiente, se vê forçosamente ; diante de um descuido e um descaso de cuidar de nossa casa comum, o planeta terra. Pois como afirmou a Agostinho; “toda a natureza é boa”.
REFERÊNCIAS
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