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segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O BEM POLÍTICO E O BEM INDÍVIDUAL EM ARISTÓTELES

A possibilidade de entendimento da relação entre bem individual e bem político inicia primeiramente na compreensão da visão antropológica de Aristóteles do homem político. O homem aristotélico pensava a partir de seu mundo que era a polis a qual estava inserido. A construção da polis estava intrinsecamente ligada ao “Ethos” . Ao analisar a polis nota-se que os gregos tinham um jeito próprio de ser, um modo próprio de organizar e pensar que regia as suas atitudes e os seus modos de agirem. Um povo costuma ter um modo próprio de organizar a sua vida, sua história ou cultura; o que possibilita o modo ou o jeito próprio habitual de morar e habitar o mundo. Organizar a vida é o que se chama de ethos.Do ethos em ação surgia os valores as normas e os costumes da polis grega. Assim o ethos era a base moral do indivíduo. Desta forma compreendemos que o ethos é aquilo que da o norte que orienta os atos dos indivíduos.

Mas como chegar a tal orientação? Para Aristóteles existe algo da natureza humana, este algo é a “palavra” . O homem é um ser lingüístico; para qual finalidade? Para discernir o que é justo ou injusto, o bom o mal. Através deste poder lingüístico o homem opta em agir de maneira lógica. Este agir lógico é a virtude. Assim o bem individual se dá através de um agir virtuoso na observância do ethos. Ser virtuoso é agir de acordo com a regra correta, ou seja; é agir de modo racional, o agir-bem e viver-bem; é agir e viver de acordo com a racionalidade como enfatiza Aristóteles “ A lei é a razão não afetada pelo desejo” Ético a Nicomâco 1287ª.

Para Aristóteles o bem individual é resultante da forma de vida preferida por ele que é a vida contemplativa, pois supostamente é a que realizaria a função própria do ser humano. Não há dúvida, entretanto de que o bem individual é compreendido como uma atividade resultante da virtude. Nesta perspectiva a virtude é o produto da educação e do cultivo de bons hábitos (Ethos). Um Estado virtuoso é uma espécie de segunda natureza cultivada pelo desempenho continuo dos bons hábitos. Assim considera Aristóteles que a virtude não é mera disposição psicológica, mas um estado do caráter do indivíduo, um modo de ser.

Desta forma compreende-se melhor o porquê Aristóteles enfatiza que o homem é um animal político, pois sem a cidade o homem é apenas um homem em impotência. O homem se constrói como um ser social na cidade (comunidade política) sem ela o homem é “sem família, sem lei e sem lar” . Por esta causa não a virtude e nem cidade sem o ethos, e não há bem individual sem o ethos e a virtude. Pois sem a cidade o homem é um bicho ou um demiurgo, ou seja; um deus que faz as coisas ao seu modo. Nas na cidade o homem deve agir virtuosamente, pois é a virtude que regula as relações entre os membros da cidade a qual a comunidade possa existir.

O bem individual como já relatamos é o individuo ético e virtuoso. Mas o bem político o que seria? A reflexão aristotélica sobre a política não se separa da ética, pois a vida individual está imbricada na vida comunitária. Compreende-se que para Aristóteles que a finalidade da ação ética é a felicidade do indivíduo. A política tem a finalidade levar a cidade ao bem político que seria a felicidade . No sistema aristotélico assinala o caráter indissociável entre ético e político. A ética como já enfatizado trata das condições que nos permitem alcançar à felicidade individual, ao passo que a política trata do bem político a felicidade pública, que é mais nobre do que a primeira porque determina a própria existência. O bem é a finalidade da política e a política é o bem maior sobre todos os outros. O bem político assegura a felicidade da cidade por isso a cidade existe por natureza para assegurar a vida boa . Mas essa vida boa na cidade só e efetivada pela ética, pois a ética é a realização da política. Por isso para que haja o bem político é necessário que os indivíduos vivam da melhor forma possível; na visão Aristotélica é impossível ser prospero sem agir bem, por isso nem os homens e nem a cidade agem bem sem qualidades morais.

Em síntese nas definições aristotélicas a causa final do homem é a felicidade. Por isso a felicidade é o telos do homem. E este telos só pode ser alcançada pela prática das ações éticas e políticas.Estas ações humana da ao indivíduos aquilo que é próprio de sua essência, ou seja o homem já carrega em si os elementos da felicidade e através da ação ética e política ele alcança aquilo que é próprio dele. Mas para que haja um bem político deve haver o bem individual que é o agir ético e virtuoso. Esse bem individual quando encarnado em todos os indivíduos materializas-se através da ação política o bem político, ou seja, à felicidade. O bem político é maior que o bem individual, pois o todo é maior do que as partes transformando a polis em uma grande entidade, ou seja; em uma comunidade política. Entre o bem individual e o bem político a uma relação de finalidade em que o bem individual e o bem político é um meio para alcançar à felicidade que é a finalidade de todas as ações efetivada na comunidade política.