Sempre
há, sem dúvida, pessoas que percebem o que está ocorrendo mais cedo que as
demais e, então, promovem a inflação.
Seus lucros excepcionais decorrem do fato de que haverá sempre
desigualdade no processo inflacionário.
O governo pode considerar que, como método de arrecadar
fundos, a inflação é melhor que a tributação: esta é sempre impopular e de
difícil execução. Em muitas nações
grandes e ricas, os legisladores muitas vezes discutiram, por meses a fio,
várias modalidades de novos impostos, tornados necessários em decorrência de um
aumento de gastos decidido pelo parlamento.
Após
discutir inúmeros métodos de angariar dinheiro por meio da tributação,
finalmente chegaram à conclusão de que talvez o melhor fosse obtê-lo através da
inflação. É evidente que a palavra “inflação” não era pronunciada. Um político no poder, ao recorrer à inflação,
não declara: “Vou adotar a inflação como método.” Os procedimentos técnicos
empregados na produção da inflação são tão complexos, que o cidadão comum não percebe
onde ela teve início. Uma das maiores
inflações da história, a que teve lugar no Reich alemão após a Primeira Guerra
Mundial, não teve seu pico durante a guerra.
Foram os níveis a que chegou no pós-guerra que ocasionaram a
catástrofe. O governo não anunciou:
“Vamos lançar mão da inflação”.
Simplesmente tomou dinheiro
emprestado, indiretamente, do
banco central. Não
lhe competia perguntar como o
banco central reuniria e liberaria aquela soma.
E o banco central simplesmente imprimiu-a.
[...]
Hoje,
as técnicas de produção da inflação têm como complicadores a existência da
moeda fiduciária. Isso envolve uma outra
técnica, mas o efeito é o mesmo. Com uma
penada, o governo cria papel-moeda sem lastro, aumentando assim o volume de
moeda e de crédito. Basta-lhe emitir a
ordem, e lá está o dinheiro sem lastro.
O governo não se aflige diante do fato de que algumas pessoas sofrerão
perdas; a iminente elevação dos preços não o perturba. Os legisladores proclamam: “Esse sistema é
magnífico!”. Mas esse magnífico sistema
tem um defeito básico: dura pouco. Se a
inflação pudesse perdurar indefinidamente, não haveria por que criticar os
governos por promoverem-na, Mas o único fato bem estabelecido acerca desse
fenômeno é que, mais cedo ou mais tarde, ele chega inevitavelmente ao fim.
[...]
Quanto
pode durar o pouco mais? Por quanto tempo pode um banco central levar à frente
um processo inflacionário? Provavelmente poderá fazê-lo enquanto o povo estiver
convencido de que o governo, mais cedo ou mais tarde – mas certamente não
demasiado tarde – sustará a impressão de dinheiro, detendo, assim, o decréscimo
do valor de cada unidade monetária. O
povo, quando deixa de acreditar que o governo será capaz de deter a inflação,
ou mesmo que ele tenha qualquer intenção de detê-la, começa a se dar conta de
que os preços amanhã serão mais altos que hoje.
As pessoas põem-se
Se,
então, a comprar a quaisquer preços, provocando uma alta em níveis tais que o
sistema monetário entra em colapso. [...] Num sistema inflacionário, nada é
mais simples para os políticos que ordenar ao órgão governamental encarregado
da impressão do papel-moeda a emissão de quanto dinheiro lhes seja necessário
para seus projetos. O padrão-ouro é
muito mais propício a um governo financeiramente seguro: seus titulares podem
dizer ao povo e aos políticos: “não podemos fazer tal coisa, salvo se
aumentarmos os impostos”.
[...]
O
mais importante a lembrar é que a inflação não é um ato de Deus, que a inflação
não é uma catástrofe da natureza ou uma doença que se alastra como a
peste. A inflação é uma política, uma
política premeditada, adotada por pessoas que a ela recorrem por considerá-la
um mal menor que o desemprego. Mas o
fato é que, a não ser em curtíssimo prazo, a inflação não cura o
desemprego. A inflação é uma
política. E uma política pode ser
alterada. Assim sendo, não há razão para
nos deixarmos vencer por ela. Se a temos
na conta de um mal, então é preciso estancá-la.
É preciso equilibrar o orçamento do governo. Evidentemente, o apoio da opinião pública é
necessário para isso. E cabe aos
intelectuais ajudar o povo a compreender.
Uma vez assegurado o apoio da opinião pública, os representantes eleitos
do povo certamente terão condições de abandonar a política da inflação. Devemos
lembrar que, no final das contas, poderemos estar todos mortos. Aliás, não restam dúvidas de que estaremos
mesmo mortos. Mas deveríamos cuidar de
nossos assuntos terrenos – neste breve intervalo em que nos é dado viver da melhor maneira possível. E uma das medidas necessárias para esse
propósito é abandonar as políticas inflacionárias.
“Só
o governo e ninguém mais pode ser considerado culpado e responsável pelo
estabelecimento da inflação” Ludwig Von
Mises
MISES,
Von Ludwig. As seis lições. Tradução: Maria Luisa Borges. São Paulo. Instituto
Ludwig Von Mises. 7º Edição. 2009. (Trecho – Quarta lição: O intervencionismo,
pg. 66 - 75)