Biografia de Karl Popper
Karl Popper
(1902-1994) foi um filósofo austríaco, naturalizado britânico, que elaborou
teorias que refutavam o ideal totalitário dos regimes comunistas e nazistas.
Foi um dos maiores filósofos do século XX. Escreveu livros como a “Lógica da
Pesquisa Científica” e “A Sociedade Aberta e Seus Inimigos”.Karl Raimund Popper
(1902-1994) nasceu em Viena, na Áustria, no dia 28 de julho de 1902.
Descendente de família judaica recebeu grande incentivo para os estudos.
Ingressou na Universidade de Viena e doutorou-se em Filosofia. Com a ascensão
do nazismo, emigrou para a Nova Zelândia. Com o fim da Segunda Guerra Mundial,
tornou-se assistente de ensino na London School of The Economics, em método
científico,. Passou a professor em 1949.Karl Popper esboçou a teoria cujo
fundamento era a ideia do racionalismo crítico, que em sua essência era
uma crítica ao método indutivo e à ciência. Popper achava que as teorias
científicas eram passíveis de erros e críticas, não havendo assim, uma teoria
da ciência que fosse eterna e imutável. Segundo ele o que deveria ser feito por
outros estudiosos era a comprovação da falseabilidade das teorias científicas
para elaboração de outras que poderiam resolver as questões propostas pela
ciência.Karl Popper era um simpatizante do comunismo, mas abandonou o partido
comunista quando percebeu que muitos amigos morreram em defesa da causa
marxista. Tornou-se adepto das ideias liberais da escola austríaca, seguindo o
exemplo de Ludwig Von Misses e F. Hayek.A obra mais famosa do filósofo é “A
Sociedade Aberta e Seus Inimigos" (1945), onde Popper refletiu que o
regime democrático representativo é uma forma de limitar o poder do
Estado e de ideologias como o nazismo e o comunismo que são perigosas para
a formação da sociedade aberta e democrática.Karl Popper faleceu em Kenley,
Inglaterra, no dia 17 de setembro de 1994.
Muitos dos conceitos que nós, seres humanos,
criamos para melhor lidar com aspectos do nosso mundo precisam ser bem
definidos, bem determinados, sob pena de tornar a comunicação mais difícil do
que já é naturalmente.Conceitos vagos ou imprecisos impedem que um debate
racional se desenvolva e ele pode acabar em impasse, em que cada lado usa o
mesmo termo de forma diferente, sem chance de se chegar a um acordo,
compreensão do ponto de visto contrário ou entendimento sobre o que se debate.O
uso do termo energia
é um exemplo clássico de mau uso de termos vagos e imprecisos, gerando todo
tipo de confusão, mistificação e distorção que podemos imaginar. O conceito de Ciência
também.A Ciência é imensamente importante para nossa compreensão do mundo, e ao
mesmo tempo profundamente mal compreendida por quem faz uso do termo. E há
motivos para isso, pois não é um conceito simples ou fácil.
“Para conhecimento
mais profundo da natureza do próprio saber, não há atalhos”
Toda uma área do conhecimento foi construída para
tentar explicar e definir esse conceito-chave de nossa compreensão do mundo: a
Filosofia da Ciência. E um dos mais influentes, importantes, capazes e
interessantes pensadores a se debruçar sobre esse problema, definir o que é
ciência, foi Karl Popper, um de meus heróis intelectuais, junto a Darwin e
David Hume. E este artigo vai tentar explicar a visão básica deste pensador
sobre a ciência e seus desdobramentos.Infelizmente, não há uma forma simples ou
curta de fazer isso. Embora seja importante tentar ser claro e simples ao se
discutir qualquer problema, existem aqueles que são de natureza complexa e
difícil, e precisam ser abordados de forma a refletir essa complexidade. Para
conhecimento mais profundo da natureza do próprio saber, não há atalhos.
O que é Ciência
· Investigação racional ou estudo da natureza,
direcionado à descoberta da verdade. Tal investigação é normalmente metódica,
ou de acordo com o método científico um processo de avaliar o
conhecimento empírico:
· O corpo organizado de conhecimentos adquiridos
por estudos e pesquisas.
Ciência tem diversas definições, mais ou menos
amplas, para serem utilizadas conforme a necessidade ou ocasião. Pelo menos em
conversas mais corriqueiras e para debates relacionados, mas acessórios. Quando
se discute a ciência propriamente dita, é mais complicado. Uma definição que eu
acho interessante para começar a entende-la é a que lida com o processo de
produção da ciência: ciência é o conjunto de conhecimentos, confiáveis e
coerentes, produzidos através do método científico.Para quase todos os
propósitos é uma definição suficiente, útil e válida. Mas é um tanto circular.
O que é método científico? É um sistema usado pela ciência para testar o
conhecimento, conclusões e alegações. Assim, ciência é algo que usa a ciência
para ser produzido, e não esclarece muito, afinal.
Indução versus dedução
David Hume analisou o problema
da indução,
o conhecimento do mundo através da indução. Grosso modo (porque, tentar explicar
David Hume levaria a outro artigo, mais alguns livros, palestras, talvez um
curso intensivo de alguns anos, etc, etc..:-), considere que, depois de ver o
Sol nascer todos os dias, por alguns anos, seria possível dizer que amanhã o
Sol também nascerá. Ou depois de ver apenas cisnes brancos por muito tempo,
concluíssemos que todos os cisnes são brancos. O passado seria um guia
confiável para o futuro.Esse seria um conhecimento válido, científico, obtido
por indução. Mas Popper (como Hume e até Einstein) via muitas falhas nesse
processo. Depois de analisar muitos corvos negros, por exemplo, e afirmar que
todos os corvos são negros, bastaria encontrar um único corvo branco para que a
afirmação se mostrasse incorreta. Não se tratava de um conhecimento, uma conclusão,
confiável.
“A indução poderia
até servir de base para o início da investigação”
No lugar da indução, a dedução seria a ferramenta
para produzir ciência. Assim, elementos deveriam ser analisados em conjunto
para se deduzir uma regra geral, uma lei ou um conhecimento, que deveria ser
validada por verificação posterior.É o mesmo processo que leva a investigação
criminal a encontrar o criminoso. De forma simplificada (e bastante grosseira,
pois temos muito ainda a cobrir nesse assunto), um indutivista encontraria o
criminoso procurando por quem habitualmente comete este tipo de crime, e o
dedutivista procuraria evidências que ligassem o criminoso ao local, vítima,
arma ou situação do crime. Observe que a indução poderia até servir de base
para o início da investigação (MO, ou modus operandi), mas não seria suficiente
para uma conclusão confiável, científica.O caso particular (juízo particular)
não pode, a partir de um salto não embasado, justificar todos os casos (juízo
universal).
Demarcação – Ciência versus pseudociência
(física versus metafísica)
Popper considerava que mesmo a dedução não leva a
certezas, mas apenas a possibilidades, probabilidades, aproximações da
realidade ou verdade. Teorias científicas não seriam exatas, mas aproximadas.
Todo o esforço, então, seria para se chegar cada vez mais próximo da realidade.Ele
pretendia um critério que demarcasse os campos, definisse limites, do que seria
ciência e do que não seria ciência. Sendo toda teoria provisória, temporária
(no sentido estrito de que pode ser melhorada ou ajustada), é preciso
determinar quando a ciência termina e a pseudociência começa.Chegamos ao
conceito de falseabilidade. É um dos conceitos mais mal compreendidos na
filosofia da ciência, e muitos parecem pensar que ser falseável equivale a ser
falso, ou seja, que se trata da aceitação de que todo conhecimento científico é
falso
em alguma medida, e portanto, qualquer outro conhecimento tem a mesma validade
(uma questão de escolha, como dizem alguns).Todavia, algo pode ser falso ou não
e
ao mesmo tempo – pode ser falseável ou não. São coisas distintas, bastante
distintas. Alguns exemplos com outros termos: algo pode ser vendável
mas não ter sido vendido, ainda. Ou seja, pode estar disponível para venda, mas
ninguém o comprou. A água pode ser potável, mesmo que ninguém a tenha
bebido. Um banco pode ser vulnerável
a roubos, mesmo que ninguém o tenha roubado.
“Só é possível
tentar provar que uma teoria é falsa, se existir uma forma de fazer isto”
Uma teoria deve ser falseável, mesmo que não seja
falsa ou não tenha sido demonstrada falsa. É a possibilidade de ser, que torna
uma teoria científica. E boa parte do esforço da pesquisa científica é
justamente tentar falsear uma teoria. Quanto mais ela resiste, mais se torna
confiável e provável de ser correta.Toda teoria cientifica, em especial as mais
revolucionárias, recebeu forte, fortíssima oposição, quando proposta
inicialmente. Diversos pesquisadores fizeram o possível para demonstrar que
eram incorretas, criando experimentos que demonstrassem que era falsa. Ao
resistir a estas verdadeiras baterias de testes, a teoria não se provou
definitivamente correta, mas aumentou sua confiabilidade, a probabilidade de
ser correta.Entretanto, só é possível tentar provar
que uma teoria é falsa, se existir uma forma de fazer isto ou, em outras
palavras, se a teoria for falseável, se existir alguma possibilidade de refutar
esta teoria. Mesmo que ainda não seja tecnicamente possível fazê-lo, deve
existir a possibilidade.Quando Einstein propôs a teoria da relatividade em
1905, uma forma de testá-la seria medir a passagem da luz de uma estrela pelo
campo gravitacional de uma outra estrela, o Sol, por exemplo. Naquele momento,
isto ainda não era possível. Foi preciso esperar pelo eclipse de 1919 para que
o teste fosse feito. Mesmo assim, a relatividade era científica, pois havia uma
foram de falseá-la (se a observação durante o eclipse fosse outra, isso
refutaria a teoria de Einstein).
“É possível
falsear a Teoria da Evolução”
Para Popper, essa é a marca da ciência, o que
fornece a demarcação entre ciência e pseudociência, entre física e metafísica:
a falseabilidade.Vejamos então algumas teorias científicas, como a Teoria
Gravitacional. Matéria atrai matéria na relação direta das massas e no inverso
do quadrado das distâncias. Há uma forma de falsear a teoria? Sim, encontrar
qualquer corpo orbitando outro sem obedecer a essa razão, por exemplo. Um
pesquisador poderia, para provar que a teoria é falsa, colocar um satélite em
órbita que não se comportasse dessa forma. Ou descobrir um corpo celeste que
não se comportasse dessa forma.O fato de que nunca foi possível colocar um
objeto em órbita que não obedecesse a essa regra, dá confiança à teoria. Mas
ainda assim existe uma forma de provar que ela é falsa.E a Teoria da Evolução?
Também é possível provar que é falsa, também existem possibilidades que podem
invalidar a teoria. O fato de que nunca se conseguiu uma refutação confere
maior confiança à teoria, dá credibilidade a ela. Todavia, é possível falsear a
Teoria da Evolução.
“Se meu mapa
astral apresenta algo que parece correto a meu respeito, é um acerto
O famoso coelho cambriano, por exemplo, refutaria
totalmente a Teoria da Evolução, como é formulada hoje. Não importa que jamais
se tenha encontrado um fóssil na camada geológica errada
(coelho no período cambriano). Basta saber que se ele fosse encontrado,
falsearia a teoria. Existem várias formas de se demonstrar que a evolução é
falsa. Teorias científicas são reais, verdadeiras, mas falseáveis. São teorias
científicas, no sentido popperiano.
E pseudociências? Como se saem no teste de
falseabilidade?
Não muito bem.
A Astrologia, por exemplo. Não há nenhuma forma de
falsear a hipótese astros
influenciam as vidas e o futuro das pessoas, a partir da data de seu nascimento.
A hipótese astrologia
é construída à prova de refutação. Nenhum estudo ou experimento jamais logrou
demonstrar que não é real, porque da forma como é construída a astrologia, não
existe forma de fazer isso. A astrologia é infalseável.Se meu mapa astral
apresenta algo que parece correto a meu respeito, é um acerto.
Se apresenta algo claramente errado, é influência de outras
variáveis.
Ou seja, não importa o que um mapa astral diga, nada pode ser apresentado como
refutação. Não há nenhum mecanismo conhecido que possa, caso ocorra, refutar a
astrologia.
“Pode parecer
piada, mas é a forma como pseudociências são construídas”
Mesmo que um mapa astral cuidadosamente feito não
apresente um único acerto, e apenas erros crassos, isso não falseia a teoria,
pois é até mesmo esperado
que ocorra, devido a forma como os proponentes apresentam esse conhecimento.Algumas
pseudociências até tentam ganhar o status de científicas,
apresentando-se para testes de falseabilidade. Mas rapidamente desistem e
voltam a situação infalseável. A homeopatia, ao ser testada em laboratório, e
falhado, resolveu que seu paradigma
é diferente, que ela não pode ser avaliada da mesma forma como o restante das
teorias científicas, que sua aplicação é holística,
que até as falhas são na verdade evidências
de que ela é eficaz, mas diferente, e que não ter forma de ser demonstrada
falsa é uma virtude, não uma falha da teoria. Há um relato do pesquisador Hyman
em um estudo sobre homeopatia em que, depois de mais um teste feito, com
rigoroso controle duplo-cego, o homeopata diz: tá vendo, é por isso que nunca
fazemos testes duplo-cegos, eles nunca funcionam. Pode parecer piada, mas é a
forma como pseudociências são construídas: à prova de refutação. O erro é
sempre dos
outros, jamais dela mesmo.
Hipóteses, teorias e fatos
Hipóteses científicas teorizam sobre fatos e
necessitam ser corroboradas por experimentos. Experimentos testam as previsões
e desdobramentos de uma hipótese. Se há um acumulo de previsões validadas; se o
conjunto de evidências, dados, fatos, experimentos e previsões validades se
acumula; se as tentativas de falsear a hipótese se acumulam, e falham sempre, a
hipótese se torna uma teoria científica confiável. Não a verdade absoluta, e
nem mesmo uma certeza, mas algo mais sutil, uma explicação confiável, até onde
é possível ser confiável. Esse processo se chama verificação.Quanto mais verificações,
quanto mais elementos de convicção, mais sólida é uma teoria científica. E
sempre falseável, ou seja, um único elemento contrário de prova e a teoria será
refutada.
O Dragão na Garagem
O conhecido exemplo criado por Carla Sagan do
dragão na garagem pode ajudar a entender o problema. Suponha que seu amigo mais
próximo diga, veja,
eu tenho um dragão em minha garagem. Você, como uma pessoa de mente aberta, e
apreciador de dragões, fica animado, e diz puxa, gostaria muito de ir a
sua garagem ver isso de perto.Na garagem, ele abre a porta e você olha para
dentro. Nada, não vê nada que não devesse existir em uma garagem, nenhum
dragão. Você olha para o amigo com cara de espanto, e este diz, pois
é, ele é invisível.Tudo bem, um dragão invisível é mais legal ainda que um
dragão normal (supondo que existam dragões normais, claro), e você se adianta
para tocar o dragão com as mãos. Mas, é um dragão intangível, diz o amigo. Você
então resolve jogar farinha no chão, para ver as pegadas dele, mas, ele
flutua,
diz o amigo. Você respira mais fundo, para sentir o cheiro do dragão, mas, ele
é inodoro. Você resolve buscar um sensor de calor, para medir o fogo que sai
das narinas, mas, o
fogo desse dragão é frio. Você então sugere um espectrógrafo de massa, para
medir a massa do dragão, mas, ele é incorpóreo.
“Não ser
científico não significa, entretanto, que não algo não exista”
Para cada coisa que você sugere para detectar o
dragão, seu amigo cria uma explicação sobre porque não vai ser possível. O
dragão é infalseável. Claro que nada disso prova que não existe um dragão
invisível, inodoro, incorpóreo, intangível, que cospe fogo frio na garagem de
seu amigo. Mas a condição de não existir nenhuma maneira de falsear a
existência desse dragão torna-o não científico e indistinguível de dragão
nenhum. Um dragão com essas características e nenhum dragão são a mesma coisa,
para todos os efeitos práticos.Não ser científico não significa, entretanto,
que não algo não exista. Essa é uma acusação comum contra a ciência e contra
cientistas: mas vocês pensam que porque a ciência não provou, então não existe,
seus, seus, seusmentes
fechadas? Não, a ciência não pensa dessa forma. Mas sem evidências, sem ser
falseável, não é ciência, não é científico. A questão é que mesmo as pessoas
que fazem essa acusação entendem que é mais seguro confiar em conhecimento
científico que em outros tipos de conhecimento.
“Críticos da
demarcação de Popper a utilizam alguma forma”
Estes são os critérios de demarcação de Popper.
Existem críticas a ele, mas no momento é a melhor forma que dispomos para
definir o alcance do termo científico.
Mesmo críticos da demarcação de Popper a utilizam alguma forma, ou teriam de
aceitar a astrologia, com todos seus dados empíricos, todos seus
cálculos, toda sua parafernália verborrágica, como ciência.Em resumo, a posição
de Popper, a demarcação, defende que: Uma teoria que não pode ser refutada não
deve ser considerada científica. A irrefutabilidade não é uma virtude, mas,
sim, um defeito.
· Todo o teste ou experimento sobre uma teoria é
uma tentativa para refutar esta teoria. Ser testável, nesse sentido, equivale a
ser refutável.
· A descoberta de novos fatos,
de acordo com as previsões de uma teoria, não a elegem a verdade última, apenas
a corroboram. Quando é corroborada por um teste ou experimento, ou seja, quando
uma observação cujo resultado poderia eventualmente refutar a teoria não se
confirma, isto torna a teoria mais robusta e confiável, sem, no entanto,
confirmá-la 100% ou torná-la uma verdade absoluta.
“Ao resistir a
tentativas de refutação, uma teoria será sempre mais confiável”
E, para não restar engano, isso não significa que o
que estiver fora dessa demarcação não existe ou não é verdadeiro. Significa
apenas que não é científico. A metafísica pode ser verdadeira, real? Pode. Pode
ser científica? Não, pois não é falseável.Esse engano deriva do fato, evidente
para todos, de que na prática, na vida real, é mais seguro escolher, fazer
opções, definir caminhos e posições, baseado no conhecimento científico. É uma
escolha que mesmo o mais metafísico dos indivíduos acaba fazendo, ao escolher
ser operado de uma apendicite aguda (e receber antibióticos) do que ir ao xamã
e esperar que processos metafísicos o curem. Pode ser
que existam esses processos metafísicos de cura, e pode ser que sejam eficazes,
mas temos certeza
de que o cirurgião e a medicina moderna no hospital existem e são eficazes.Ao
resistir a tentativas de refutação, uma teoria será sempre mais confiável que
outra que só possui defensores e apoiadores, mas não passou pelo teste de
falseabilidade.Este não é um assunto fácil, mas é um assunto fascinante. Para
quem quiser saber mais, sugiro que comece pelos links abaixo, ou procure por
Karl Popper, David Hume e o Problema da Incompletude na Internet e em livros.
Vale o esforço, de verdade.
Falseabilidade
da Ciência
I)
A Diferença entre Indução e Dedução:
Uso Comum: Usa-se dedução para qualquer
descoberta que alguém fez com base em informações incompletas, e indução
está geralmente ligada ao ato de induzir, mas muitas vezes com
um significado negativo, o famoso “foi induzido”. No campo científico, ambas
são inferências.
Inferências: Inferência é quando uma proposição
é concluída como verdadeira, a partir da relação entre duas ou mais
proposições. Explicando de outra maneira, é quando se admite uma verdade,
uma conclusão para sua hipótese, tendo por base algumas noções assumidas como
verdade anteriormente.
– Inferência Indutiva: A indução conclui uma verdade
mais geral a partir de premissas mais particulares. (Por Exemplo:
Todos os objetos observados até agora exercem força gravitacional. Logo,
se mais um objeto for observado, ele exercerá força gravitacional.)
– Inferência Dedutiva: A dedução parte de premissas
mais gerais para chegar a uma conclusão particular. (Por Exemplo: Todo
ser humano é mortal. Eu sou um ser humano. Logo, sou mortal.)
Avanço Científico: No entanto, principalmente
com o avanço da ciência, a indução se tornou a principal forma de se
concluir um raciocínio científico. Enquanto o juízo dedutivo apenas
esclarece o que já se sabe, o indutivo fornece um novo conhecimento.
Indução Ingênua: Essa se constrói de forma
simplista, como no caso acima, acreditando que se um caso se repetiu em
todas as vezes que o teste se fez presente, de algum modo isso faz parte
das características daquele fenômeno e pode ser interpretado como lei
geral. Tal indução parte da ideia de que se um fenômeno x foi verificado inúmeras vezes,
em diversos momentos e condições, apresentando o mesmo
resultado, significa que o fenômeno está intrinsecamente ligado a
esse resultado.
Crítica à Indução
Ingênua: Em
um exemplo simples, se um mesmo evento ocorre todos os dias, pode-se até
admitir que o mais provável seja que ocorra amanhã, mas como o amanhã
ainda não chegou, o que se tem aqui é apenas a admissão de um fato ainda
não observado.
– David Hume: O inglês David Hume, importante
empirista, propôs que tentar justificar a indução apenas aumentando o
número de experimentos não garante sua certeza; e que recorrer à lógica
comprovativa, ou seja, dizer que tem funcionado desde sempre, é apenas
propor outra indução.
Probabilidade como Saída: Uma das saídas é tentar abordar a
noção de probabilidade, ou seja, afirmar que a indução não fornece a
verdade, mas a probabilidade da ocorrência do evento. Isso contudo leva
ainda para o problema de “quão provável” algo pode ser. Isso nos leva à
três caminhos possíveis:
– Ceticismo: Admitindo que todo
conhecimento é apenas uma “fé” na razão indutiva.
– Funcionalidade: O famoso “tem funcionado até
agora”.
– Crítica: Tenta separar o princípio indutivo
da base da ciência. Aqui entra Karl Popper.
II)
A Falseabilidade:
Crise Teórica: Como uma análise mais delicada
da indução, é possível propor que aqueles que defendem a indução, em
geral, desconsideram a importância da teoria na construçãoda
observação. O fato é que a maioria das observações científicas
são direcionadas por um determinado sistema teórico do qual fazem parte.
A maioria das teorias é concebida antes do experimento ser constituído,
para referendar ou negá-las.
Princípio da
Falseabilidade: Popper
admite essa crítica como verdadeira. A ciência não evoluiria então de um
modelo indutivo ou dedutivo perfeito, mas sim pela estrutura datentativa e do
erro. Quando uma falha na teoria é verificada pela observação, esta
deve ser superada, e uma nova deve se apresentar. Em outras palavras,
Popper admite a ciência como sendo fruto das tentativas de falsear as
teorias enunciadas, ora enriquecendo às nessa tentativa, ora
desconstruindo-as;
Verdade Passageira: Em outras palavras, a
ciência deve admitir que suas teses sejam na verdade especulações que
ainda não foram negadas. Contudo, para que isso seja um fato, é necessário
que as teorias sejam construídas sempre com a perspectivas de serem
falsificadas, ou seja, expostas como falsas após as observações.
Generalidade, Falseabilidade e
Verdade: É mais fácil
invalidar um determinado sistema minando uma de suas várias premissas, do
que uma única afirmação particular. Além disso, a abertura para a
falsificação leva os pesquisadores a construírem um corpo cada vez mais
pertinente e preciso de teorias, para tentar escapar da refutação.
Prudência Teórica: Não adianta propor qualquer tese
assumindo que será falsificada. Em outras palavras, para que a
falsificabilidade funcione, é necessário um compromisso sério em atingir a
verdade; a possibilidade de ser falsificada é um pressuposto futuro, não um
guia do presente. A visão falsificacionista, então, é uma estratégia para
melhorar as teorias e deixá-las conscientes de suas limitações, mas não
uma forma de diminuir o seu valor, ou suscitar uma “audácia”
gratuita em sua construção.