I. ÉTICA EM PLATÃO - RELAÇÃO
DE TEORIA DO CONHECIMENTO E TEORIA ÉTICA
Mundo das ideias : Platão foi um filósofo que se dedicou ao estudo de diversas áreas. Seus diálogos abordam temas como epistemologia, política, estética, ética, metafísica, entre outros. Este texto possui um foco particular, que é apresentar as principais características do Mundo das Ideias, um dos principais pilares da filosofia platônica. O Mundo das Ideias parece surgir para Platão como uma proposta reflexiva que sintetiza estas oposições anteriores. Platão compreende que existem dois planos distintos: um deles é estável, o outro instável. O que o filósofo chamou de Mundo das Ideias é imutável, eterno e real, e opõe-se ao Mundo Sensível, em que os objetos são passageiros, caracterizados pela mutabilidade e ilusórios. Este último é o mundo das aparências, das cópias imperfeitas daquilo que se encontra no Mundo das Ideias que, por sua vez, é o mundo da Episteme(verdades) e o Mundo Sensível o mundo traçado pela doxá (opinião), através do qual, portanto, não se atinge a verdade. Isto significa que no primeiro mundo as coisas existem em sua essência e como absolutas, enquanto no segundo, apenas existem de maneira aparente, não como realmente são em si.
O Mundo Sensível é o mundo que
apreendemos, que sentimos e que vivemos. Neste plano existem apenas cópias das
Formas verdadeiras que se encontram no Mundo das Ideias. Para Platão, a razão é
o instrumento que possibilita o conhecimento das verdades eternas que se
encontram no referido mundo perfeito. Através do exercício intelectual, o homem
pode relembrar verdades que já se encontram em seu íntimo e que foram
anteriormente assimiladas pela alma no Mundo das Ideias. Primeiramente, é
importante esclarecer que este tema é tratado em mais de um diálogo platônico e
consiste em um dos principais fundamentos do pensamento do filósofo. Para
entender as razões que possivelmente motivaram Platão a desenvolver esta parte
de sua filosofia, precisamos resgatar alguns aspectos do pensamento
pré-socrático, tendo como foco, especialmente duas propostas feitas por dois
pensadores específicos que antecederam Platão: Heráclito e Parmênides. O
primeiro, em suas tentativas de buscar elementos que explicassem a natureza,
entendeu e afirmou que a realidade que o cercava era aparente, ou seja, estava
em constante transformação (devir).
Em oposição, Parmênides
assegurou que a realidade não se altera e negou a ideia de movimento contínuo
da natureza. Estas aparências
encontradas no Mundo Sensível teriam sido criadas por um ser superior chamado
por Platão de Demiurgo (que seria um artesão). Este, teria montado um mundo
imperfeito que copia as formas perfeitas e, assim, as essências existentes
neste plano ideal proposto por Platão possuem a forma primordial da qual se
originam as coisas que o homem conhece através da realidade sensível. Ou seja,
há uma forma da qual tudo se origina. Por exemplo, pensemos em uma caneta: por
mais que haja uma variedade de modelos deste mesmo objeto, ainda assim, existe
uma “ideia primordial” básica do que ela é, quer dizer, há uma ideia de caneta.
Para ilustrar este pensamento, Platão utilizou-se de uma alegoria que se tornou
conhecida como “Alegoria da Caverna” ou “Mundo da Caverna”. Neste texto
metafórico, conta que havia uma caverna na qual muitos prisioneiros, desde seus
nascimentos, lá viviam acorrentados. Viam sempre sombras projetadas nas paredes
que eram formadas pela luz de uma fogueira, e acreditavam que as imagens que
elas formavam era a realidade. Mas supõe-se que um dos homens da caverna
consegue escapar daquele local, e sair de tal ambiente.
Quando chega ao mundo externo,
a verdadeira luz quase a cega. Seus olhos doem, mas ele se adapta. Logo percebe
que sempre viveu acorrentado numa ilusão que acredita ser uma verdade absoluta.
Lá fora, ele vê os verdadeiros seres cujas imagens projetavam-se de maneira
distorcida no interior da caverna. Ele decide voltar e partilhar seu conhecimento
com os outros homens que ainda estão acorrentados. No entanto, estes homens
zombam dele e não acreditam em seu relato. Suponha que a caverna seja esta
dimensão em que vivemos e que, muitas vezes julgamos ser a realidade (Mundo
Sensível). Em contraponto à este plano de distorções e de sombras, existe uma
realidade em si com objetos reais tal como o são verdadeiramente. Este seria o
Mundo das Ideias. Ressalte-se que o Mito da Caverna possui outras
interpretações além desta que foi exposta, mas certamente, apesar de tais
divergências interpretativas, simboliza muito claramente a base da Teoria das
Ideias.
ÉTICA DE PLATÃO
Platão propõe uma ética
transcendente, dado que o fundamento de sua proposta ética não é a realidade
empírica do mundo, nem mesmo as condutas humanas ou as relações humanas, mas
sim o mundo inteligível. O filósofo centra suas indagações na ideia perfeita,
boa e justa que organiza a sociedade e dirige a conduta humana. As Ideias
formam a realidade platônica e são os modelos segundo os quais os homens têm
seus valores, leis, moral. Conforme o conhecimento das ideias, das essências, o
homem obtém os princípios éticos que governam o mundo social. O uso reto da
razão é entendido como o meio de alcançar os valores verdadeiros que devem ser
seguidos pelos homens. No mito da caverna, o filósofo expõe a condição de
ignorância na qual se encontra o homem ao lidar com o conhecimento das
aparências.
Somente pelo conhecimento racional o homem
pode elevar-se até as Ideias, até o Ser e conhecer a verdade das coisas. Isto
se dá através do método dialético, o qual elimina as aparências e encontra as
essências, a verdade no conhecimento das coisas. Este método filosófico tem por
finalidade libertar os homens da ignorância e levá-los ao conhecimento de ideia
em ideia, até alcançar o conhecimento da Ideia Suprema: o Bem. As outras ideias
participam desta e devem sua existência a esta. O Bem ilumina o ser com
verdade, permitindo que seja conhecido, assim como o Sol ilumina os objetos e
permite que sejam vistos – nota-se aqui a analogia entre Bem e Sol apresentada
no mito da caverna. Existem diversas ideias e é devido à participação nestas,
mesmo que enquanto cópia imperfeita, que se fez possível o mundo sensível. Ao
contemplar a ideia do Bem, o homem passa a sofrer as exigências do Ser, isto é,
suas ações devem ser pautadas conforme a ideia contemplada. A alma humana – de
suma relevância para a ética platônica- é tripartite, isto é, forma-se pela
inteligência, pela irascibilidade e pela concupiscência. Tal como as partes da
cidade ideal, cada uma das partes da alma possui suas funções específicas que
não podem ser exercidas por nenhuma das outras partes. Cada uma das partes da
cidade e, por analogia, cada uma das partes da alma, possui uma função própria
a qual pode ser executada com excelência ou não, e, ao executá-la com
excelência, sua virtude própria é exercida.
A virtude é definida, pois,
como capacidade de realizar a tarefa que lhe é inerente. No caso do governante
da cidade e da alma racional, a virtude inerente aos mesmos é a sabedoria; no
caso dos guerreiros e da parte irascível da alma, a virtude que lhes é própria
é a coragem; por fim, no caso da parte concupiscente da alma e dos produtores
de bens da cidade, a virtude própria é temperança. Dada a posição de cada
classe, pode-se definir a justiça como cada parte fazendo o que lhe compete,
conforme suas aptidões. Portanto, ao estabelecer uma relação de analogia entre
a sociedade e indivíduo, Platão define o conceito de justiça – o qual seria
também concebido como princípio de equilíbrio do indivíduo e da sociedade – e o
liga ao conceito de virtude. O sentimento de justiça é, pois, a virtude maior
cujo valor ético guia as condutas dos homens. Para que esta virtude seja
alcançada, o homem deve buscar o bem em si mesmo, porque ele realiza o ideal de
justiça, tanto com relação ao bem individual quanto social. A ética platônica
ocupa-se com o correto modo de agir e sua relação com o alcance da felicidade.
Contudo, o discurso ético apresentado na República acerca da felicidade
relaciona está com o conceito de justiça.
O problema da justiça
enquadra-se no âmbito político, o qual tem estreita relação com o campo da
ética: é deste modo que surge a tese central de que só o justo é feliz. No
diálogo República, buscando a constituição da cidade ideal, surge o problema
cerne acerca da definição da justiça para que se pudesse, posteriormente,
definir o que é a justiça tanto no indivíduo quanto no Estado. Há, pois, um
paralelo entre Estado e indivíduo a fim de que se encontre a definição de
justiça. Para Platão, a sociedade seria como algo orgânico e bem integrado,
como uma unidade construída por vários elementos independentes, embora
integrados. A cidade forma-se por três classes, como já apontamos, e cada
classe possui sua função específica. Deve-se notar que tais funções são
determinadas conforme as aptidões naturais de cada membro da cidade. O objetivo
desta divisão é mostrar com mais clareza como ocorre o mesmo na alma humana.
A finalidade da cidade justa e
boa é, então, propiciar a felicidade do indivíduo ao viabilizar a prática de
suas virtudes, de suas aptidões específicas. Devemos ter em mente que a virtude
correspondente a cada classe da cidade e a cada parte da alma humana deve ser
ensinada visando a realização do ideal da polis. Esta educação embasa-se no
método dialético ascendente, o qual liberta o homem dos sentidos e o eleva até
o mundo inteligível, até o ponto mais claro do Ser, a ideia do Bem. Após
contemplar o Bem diretamente, o filósofo deve retornar à cidade que lhe
propiciou educação de modo a guiar os outros cidadãos da ignorância ao
conhecimento racional. As ideias – das quais se originam as cópias sensíveis –
são, pois, existentes em si e por si, são realidades universais, eternas,
imutáveis. Por tais motivos, são os modelos a serem seguidos, são paradigmas
para a construção da cidade ideal e para a educação moral, política e
espiritual do homem. Além do mais, são ordenadoras do cosmos. Fica evidente que
a proposta de Platão se liga, principalmente, às ideias de Justiça e do Bem –
este último é o supremo valor que sustenta a justiça com relação à organização
política e à conduta individual. O equilíbrio entre as três partes componentes
da alma e da cidade gera equilíbrio, harmonia e leva à felicidade. Assim, Platão
busca por definições gerais, universais, imutáveis, eternas, existentes por si
mesmas: as Ideias. Como veremos adiante, tal busca é oposta à busca
aristotélica pela virtude ligada à aplicabilidade desta.
A TEORIA DA ALMA
Platão (428-348 a.C.) foi discípulo de
Sócrates e escreveu trinta diálogos considerados autênticos. Hoje conhecemos a
figura de Sócrates graças aos seus diálogos, que faziam dele seu personagem
principal. Platão fundou a primeira escola conhecida no mundo ocidental na
cidade de Atenas em 387 a.C, chamada Academia, em homenagem ao herói Grego
Academus, que lutou na guerra de Tróia. Seu verdadeiro nome era Aristócles, mas
foi apelidado de Platão devido aos seus ombros largos. Era um homem rico e fazia parte da
aristocracia que governava a Grécia. Seu pai, Aristão, tinha o rei Codros como
seu antepassado e sua mãe, Perictione, foi parente de Sólon. O
pensamento de Platão foi muito
influenciado pelas filosofias de Heráclito e Parmênides. Ele procurou
reconciliar ambas as posições. Foi da controvérsia dessas duas filosofias que
surgiu a “teoria das idéias”, núcleo central de sua filosofia. O problema que
Platão propõe a resolver é o conflito “irreconciliável” entre a teoria da
mudança em Heráclito e Parmênides.
Para Heráclito, no universo não há nada acabado, fixo e
estável, tudo está em permanente mudança. Sua metafísica identifica o Ser com o
Não-Ser. Se o mundo é devir, vira-se,
não existe um Ser fixo, estável,
ele está sempre se transformando, é sempre impermanente. Já para Parmênides, as coisas que existem têm múltiplas
características, são pequenas, grandes, coloridas, pesadas, leves, são
diferentes, como homem, animal, água, fogo, etc. Se usarmos a intuição e o
raciocínio, perceberemos que há uma propriedade fixa em todas as coisas: elas
“são”. Para Parmênides, o ser é uma propriedade de todas as coisas. Tudo que
existe tem “Ser”. O Ser é fixo, eterno,
imutável, infinito. Dessa forma, as mudanças e transformações que ocorrem na
natureza são uma ilusão de nossa percepção, pois algo que é não pode deixar de
ser, e algo que não é, não pode vira-se,
portanto, não há mudança.
Para reconciliar ambas as
teorias, Platão mostrou-nos que todos nós estamos sempre em contato com duas
realidades: uma inteligível e outra sensível. A primeira é permanente,
universal, nunca se modifica, é o mundo das ideias. A segunda, é o mundo que percebemos por nossos sentidos,
mutável e contingente, o mundo sensível.
Platão demonstra que o mundo tem uma forma a priori, uma estrutura
inteligível. “Através dos diálogos,
Platão vai caracterizando essas causas inteligíveis dos objetos físicos que ele
chama de ideias ou formas. Elas seriam incorpóreas e invisíveis – o que
significa dizer justamente que não está na matéria a razão de sua
inteligibilidade. Seriam reais, eternas e sempre idênticas a si mesmo,
escapando a corrosão do tempo, que torna perecíveis os objetos físicos. Merecem
por isso mesmo, o qualificativo de ‘divinas’ (…). Perfeitas e imutáveis, as ideias
constituiriam os modelos ou paradigmas dos quais as coisas materiais seriam
apenas cópias imperfeitas e transitórias. Seriam, pois, tipos ideais, a
transcender o plano mutável dos objetos físicos.” (Pessanha, 1987,
XVI-II).
A teoria das ideias de Platão está diretamente
ligada a sua teoria da alma. Na parte
IV , do seu livro “República”, Platão
concebe o homem como corpo e alma. Enquanto o corpo modifica-se e envelhece, a
alma é imutável, eterna e divina. A alma inteligente presa ao corpo um dia foi
livre e contemplou o mundo das ideias, mas as esqueceu. É somente através da
busca do conhecimento, através de um processo de recordação, de
reminiscência, o homem pode lembrar-se
das ideias que um dia contemplou. A
realidade sem forma, sem cor, impalpável só pode ser contemplada pela
inteligência, que é o guia da alma. Platão divide a alma em três partes. O lado
racional está localizado na cabeça, seu objetivo é controlar os dois outros
lados, com ele adquirimos a sabedoria e a prudência. O lado irascível está localizado
no coração, seu objetivo é fazer prevalecer os sentimentos e a impetuosidade,
com ele adquirimos a coragem.
Por último, temos o lado
concupiscente que está localizado no baixo-ventre, seu objetivo é satisfazer os
desejos e apetites sexuais, com ele adquirimos a moderação ou a
temperança. No Mito do Cocheiro, no
diálogo “Fedro”, Platão compara a alma a uma carruagem puxada por dois cavalos,
um branco (irascível) e um negro (concupiscível). O corpo humano é a carruagem,
e o cocheiro (Razão) conduz através das rédeas (pensamentos) os cavalos
(sentimentos). Cabe ao homem através de
seus pensamentos saber conduzir seus sentimentos, pois somente assim ele poderá
se guiar no caminho do bem e da verdade. Platão afirma, que não podemos ser felizes quando somos
dominados pela concupiscência e pela cólera, isso porque as paixões sempre nos
conduzem por caminhos perigosos e contraditórios e fazem com que os desejos e
impulsos violentos de nosso corpo tirem nosso bom senso. Já dizia Sócrates que todo vicio é
ignorância.
Não há nada mais deprimente do
que uma pessoa que age por impulsos e é dominada pelas paixões. Ter
autocontrole é essencial para sermos felizes. A felicidade só pode ser
alcançada se formos capazes de dominar nossos sentimentos pela razão. A
moderação é uma virtude, e ela se
realiza quando somos capazes de controlar a nossa concupiscência. O indivíduo
moderado é aquele que não cede as suas paixões, impulsos e prazeres. Da mesma
forma, o indivíduo não se lançara a luta
e a agressão indiscriminadamente, uma vez que a razão deve saber discernir o
que é bom e mal para nossa vida, sabendo dominar a nossa alma irascível. Dessa
forma, seremos felizes se através da razão soubermos controlar nossa vida, pois
a virtude natural da razão é o conhecimento.
SINOPSE DA OBRA FEDÓN
A tarefa do filosofo é a busca da verdade, e
esta implica na libertação progressiva de toda a materialidade. O filosofo não
deve temer a morte, já que está lhe permite alcançar toda a verdade. A vida do
filosofo é a busca do desprendimento total do corpo, pois este constitui um
obstáculo ao conhecimento, dado que o filosofar consiste em desprender a alma
dos impulsos e desejos do corpo; O conhecimento das coisas em si não se alcança
pela percepção sensível, e sim pelo pensamento; O conhecimento total da verdade
só se dá após a vida, quando a divindade nos liberta do corpo, e em vida o
conhecimento só é possível abstendo-se de todo o comércio com o corpo; O
filosofo aspira libertar a alma do corpo e sua tarefa é operar esta libertação.
Sendo assim, seria absurdo que o filosofo se indignasse na hora da morte. No
entanto, é ilegítimo o desejo do suicídio, pois os homens pertencem aos Deuses.
Ninguém deve partir da vida sem ser forçado pela divindade.
A causa da ilegitimidade do
suicídio e o objeto da filosofia implicam na natureza simples da alma – para
que esta possua identidade com as essências -, na sua preexistência à vida e na
sua imortalidade. Argumentos à imortalidade, à preexistência, e à natureza
simples da alma. Teoria dos Contrários – A lei geral da natureza (Devir Heraclitiano) mostra que todo o contrário
surge do seu contrário: o feio do belo, o pequeno do grande, etc.; assim a
morte nasce da vida e a vida desta, caso contrário, não sendo desta maneira,
haveria uma negação da lei geral da natureza. Se assim não fosse, o universo
imobilizar-se-ia. Então, os vivos nascem dos mortos, e vice e versa; e, para
isso as almas devem preexistir em algum lugar antes de regressarem à vida. A
alma é princípio de vida. Teoria das Reminiscências – Pelos sentidos observa-se
a existência de coisas, mas que, no entanto, não são perfeitas como a noção que
temos delas; as coisas não são perfeitas como suas ideias.
A alma como pensamento
identifica-se com as ideias imutáveis e imperecíveis. Admite-se que a alma
contemplou as essências numa outra vida ideal (Topos Uranos), e que, depois de
sua ligação ao corpo, é necessário recordar o que se encontra num estado
latente – Conhecer é recordar; para lembrar-se de algo é necessário que se
tenha sabido no passado. A percepção sensível de um objeto nunca coincide com ideia
pura. A ideia é anterior, portanto, não deriva do objeto, e sim, esses apenas a
despertam, mas, não as geram; A realidade sensível desperta a realidades
inteligíveis que foram contempladas no mundo ideal, antes da ligação da alma
com o corpo. Teoria das Ideias e da Simplicidade da Alma, e sua Identidade com
as Ideias – As ideias, realidades inteligíveis, são eternas e isentas de
composição; em oposição ao sensível que é composto e destrutível; A alma não é
composta, é simples, indestrutível como as ideias são; as essências não estando
sujeitas a mudanças permanecem na identidade: o belo em si; os seres chamados
belos nunca permanecem na identidade: O homem, o cavalo, etc.; as essências
são, somente, apreendidas pelo pensamento.
Os objetos, os seres belos,
são apreendidos, somente, pelos sentidos. Há duas espécies de seres: os
visíveis, que não permanecem do mesmo modo, e os invisíveis, que são imutáveis.
O corpo identifica-se com o visível e a alma com o invisível; O espírito que
conhece (alma ou pensamento) e as ideias são semelhantes, pois que se
identificam; O semelhante só pelo semelhante pode ser conhecido. Se as ideias
são eternas, a alma que as conhece também é eterna e como tal, imperecível. A
existência terrena consiste na união da alma com o corpo e a morte significa,
apenas, a decomposição do que é composto (corpo), e não do que é simples
(alma). O corpo se identifica com o mortal e a alma com o divino. Objeções de
Símias e Cebes, que aceitaram o argumento da reminiscência, admitindo a
preexistência da alma, mas não sua imortalidade.
Símias, e Argumento da Lira:
as almas são produto da matéria e deixam de existir quando a matéria é
destruída, tal como a destruição da lira implica necessariamente a destruição
da harmonia, produzida pela lira. A alma ou pensamento é um epifenômeno, um
fenômeno originado de uma causa primária. Sócrates, em resposta a Símias: A
lira é anterior à harmonia, e por isso, a lira é o fundamento da harmonia; a
alma é anterior ao corpo, então, esta não poderia ser harmonia do corpo. A alma
é anterior ao corpo admitindo o argumento da reminiscência, portanto sendo
anterior ao corpo a alma não poder ser causada por ele, como a harmonia é o
efeito da lira. Cebes, e Sua objeção: A demonstração de que a alma é resistente
e divina e de que preexiste ao corpo não implica na sua imortalidade, mas,
apenas a sua longa duração.
Sócrates, em resposta a Símias:
Diz ter examinado as causas que dizem respeito à geração e destruição para que
pudesse demonstrar o lugar da alma na sucessão dos contrários; Estudou durante
anos a natureza para descobrir o motivo do nascimento, a vida e a morte dos
vários seres. No entanto, as explicações e o método utilizado pelos físicos não
o satisfizeram porque eles confundiam a causa com o efeito. A filosofia de
Anaxágoras ao se referir à ação do espírito ordenador e causa de tudo o que
existe, permitiu-lhe a superação das explicações dos físicos. Mas Anaxágoras se
desviou do caminhou que havia traçado, e acabou por cair nas explicações
físicas tradicionais. A explicação da ordem do universo tem de ser da mesma
natureza do espírito, inteligível. Anaxágoras falseou a estrutura da explicação
inteligível quando passou do plano da causalidade inteligível ao plano da
causalidade física – da causa espiritual aos meios de execução.
Portanto, o espírito é o
ordenador da natureza; A realidade sensível só pode ser explicada pela
vinculação ao inteligível. É por causa do belo que as coisas belas são belas;
nada mais torna bela a coisa do que a presença ou participação daquele belo,
realizada de qualquer modo que seja. Desenvolvimento à Teoria dos Contrários.
Sócrates, ainda, em resposta a objeção de Cebes: Os contrários não podem
subsistir simultaneamente, a grandeza em si não aceita ser grande e pequena ao
mesmo tempo. Está informação não contradiz o primeiro argumento dos contrários
(de que a origem dos contrários são seus contrários). Afirmar que de uma coisa
contrária nasce outra contrária é diferente de afirmar que o próprio contrário
não pode ser contrário de si mesmo. Ou seja, afirmar que, pelo fato de o corpo
humano passar da vida à morte, não significa que a vida, como essência, torne
seu contrário. A essência da alma é ser vida e exclui o seu contrário que é a
morte. A alma que é da mesma natureza das essências imortais é imortal e
indestrutível.
O Destino das Almas e a
Apologia à Filosofia, o Mito. Se a alma é imortal que tipo de vida leva para
além da morte? Nem a razão nem a experiência poderão responder a esta dúvida.
Segue, então, o recurso ao mito para explicar o destino das almas: se a alma é
imortal, exige da parte dos homens algum cuidado. A única possibilidade de
fugir ao mal é adquirir a sabedoria no mais alto grau e a preocupação permanente
com a moral. A filosofia é libertadora porque o objeto da sua reflexão é,
apenas, o inteligível, o invisível; é a preparação para morte. A alma do
filosofo ligar-se-á ao que tem afinidade com ela, ao que lhe é semelhante. A
alma dos bons, depois da morte do corpo, vai para o que se lhe assemelha, para
o invisível, divino e imortal. Mas nem todas as almas têm o mesmo destino. As
que viveram segundo paixões, terão de expiar o gênero de vida censurável que
antes tiveram, vagando até que reencarne, de novo. As almas têm o destino em
conformidade com os seus costumes. Aproximar-se da espécie dívida só é
permitido a quem amou a sabedoria e não àquele que não se preocupou com sua
purificação.
O MITO DO COCHEIRO
No Mito do Cocheiro Platão nos
conta: “A diferença entre a alma imortal dos deuses e a alma imortal dos homens
é que os cavalos e cocheiros das almas divinas são bons e de boa raça. Os das
almas humanas, mestiços. O cocheiro que os governa, conduz uma parelha na qual
um dos cavalos é bom e de boa raça, enquanto o outro é de má raça e natureza
contrária. Assim, conduzir o nosso carro é ofício difícil e penoso. Nosso carro
é puxado para cima por um dos corcéis, mas puxado para baixo pelo outro. A luta
da parelha força o cocheiro a olhar os cavalos e não o abismo. A parelha
machuca, o cocheiro tem as mãos feridas pelas rédeas que puxam em direções
contrárias, carros chocam-se com outros e vão perdendo a força, caindo, até que
o carro, pesado, caia no abismo. O
cavalo branco tem o corpo harmonioso e bonito; pescoço altivo e focinho curvo,
cor branca, olhos pretos; ama a honestidade e é dotado de sobriedade e pudor,
amigo como é da opinião certa.
Não deve ser fustigado e sim
dirigido apenas pelo comando e pela palavra. O cavalo negro é torto e disforme;
segue o caminho sem firmeza; com o pescoço baixo, tem um focinho achatado e a
sua cor é preta; seus olhos de coruja são estriados de sangue; é amigo da
soberba e da lascívia; tem as orelhas cobertas de pelos. Obedece a contragosto
ao chicote e ao açoite. “No mito o Cocheiro representa a vontade, os Cavalos as
Forças Positiva e Negativa e o Carro representa a matéria ou o plano material.
Ou seja, a Vontade (Cocheiro) se utiliza dos Cavalos (Forças) para puxar o
Carro (Matéria/Intento). O Cocheiro é a vontade humana que mediante a força
vital (Cavalos) move o corpo físico (Carroça).
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