O conceito de iluminismo no alemão pode ser interpretado
como esclarecimento. Esse esclarecimento é a contraposição à ignorância; por
isso o “Iluminismo” tem haver com as luzes.
Ser esclarecido é ser iluminado é deixar de ser ignorante ver as coisas como elas realmente são. O conceito do iluminismo está
intrinsecamente ligado a René Descartes. O pensamento de Descartes desenvolvido
sobre tudo do discurso sobre o método (1637) fundamenta-se numa primeira
evidência; “penso; logo existo”, a
partir da qual já era possível a aquicisão de novas idéias. A garantia da
certeza das novas ideais se produzia quando cumpriam a condição de serem claras,
distintas e não contraditórias. A partir desse método e de suas preposições
pode-se dispensar dados empíricos, e sua aplicação às ciências físicas
conduziram, no século XVII, a uma crescente confiança na capacidade do
intelecto humano para compreensão do mundo.
Após
Descartes a filosofia deixa de ser essencialistas e passa a ser antropocêntrica
sobre a visão do mundo. Para a filosofia
antropocêntrica quem existe, é o sujeito. Surge a afirmação do sujeito em que
ele toma consciência do seu poder e
afirma sua autonomia perante o transcendente. O sujeito auto se afirma
diante da razão para entender sua existência. Neste contexto a busca não é mais
sobre a essência necessariamente, mas sim pela ordem, pelo cálculo, pela
harmonia, etc. Tudo começa em Descartes que instaura a dúvida enfatizando que o
que existe; sou “eu e os meus pensamento”. Galileu também
revoluciona o mundo e fortalece mais ainda o antropocentrismo/iluminista ao
afirmar que o mundo está escritos em
caracteres matemáticos; e que o grande livro é a natureza; a qual precisa ser estudada a partir de enunciados
lógicos através da razão
para ser explicada, já não cabe mais a idéia de teocentrismo; é o
desencadeamento do iluminismo
O iluminismo é o
empenho da luta contra a ignorância, o qual questionou os valores que se
constituíam invioláveis; mas que na verdade eram valores constituídos através
dos eventos históricos, empíricos, elaborados por convenções é impostos como
universais e não passível de questionamentos. O iluminismo é a disposição para
crítica e reflexão; sua distinção é a luta contra o obscurantismo. Através da
história houve várias manifestações de iluminismo; o qual despertou o indivíduo
para uma atitude individual, tornando-o plenamente consciente sobre o que significa
existir; é o sujeito decidido a pensar sobre si próprio que começa a tomar
consciência da significação da sua existência.
O iluminismo (Esclarecimento) tem como base o sujeito que
começa a conscientizar de sua
racionalidade; e que não é por acaso que o sujeito é racional, mas faz parte de
sua natureza de ser destinado a razão. Kant aborda uma defesa do sujeito como
ser racional. Mas também levanta um problema filosófico o qual deseja
explicá-lo. O problema está relacionada a desarmonia do sujeito
racional com o seu mundo existencial. Kant enfatiza que se o mundo é o que é; e
sendo o ser humano racional; como explicar porque o mundo é o que é? Diante dessa situação Kant afirma “ O
Iluminismo é a saída do homem da sua menoridade de que ele próprio é culpado” o
que demonstra tão unicamente uma incompetência intelectual; pois se o sujeito
sendo livre e racional, ainda continua sendo menor, é porque não tomou uma atitude
contra essa situação de menoridade, ou
seja a ignorância. A possibilidade de esclarecimento e a saída do sujeito de
sua condição de menoridade tem como
pressuposto para Kant uma teoria da liberdade. E à saída do homem da sua menoridade de que ele
próprio é culpado; é tão somente culpa do sujeito, pois mesmo sendo livres e
racional continua a ser menor.
A menoridade do
homem implica-se na incapacidade de servir-se de seu próprio entendimento, ou
seja; a menoridade é o fato de não usar a própria razão. Essa omissão de sua
própria razão; implica-se na questão de fazer da orientação de outro, a qual
aliena, manipula e oprimi a si mesmo; com o seu próprio consentimento. A
menoridade causada por sua própria culpa; não implica apena na falta de
entendimento; mas principalmente pela “Preguiça
e Covardia”; que priva o sujeito de usar sua razão; e de andar com suas
próprias pernas e de se servir de si mesmo.A preguiça e covardia
proporciona uma sensação que é tão
cômodo e confortável ser menor, pelo
fato de dar menos trabalho, em que a
existência transforma-se em uma mesmice e num estado de inércia que tudo está
bem e confortável; o que o leva a um estado de anestesia mental. No limite
pode-se conceituar que o iluminismo é uma disponibilidade do sujeito em
tornar-se esclarecido fazendo uso de sua racionalidade; ao passo que a preguiça
e a covardia são um comportamento contrário em que há uma disposição de não
usar a racionalidade. Esse comportamento é uma negação das possibilidades de
ser esclarecidos; pois tal esclarecimento só acontece com a saída do sujeito
de sua menoridade, que implica no
empenho da racionalidade por parte do próprio sujeito.
O abandono da preguiça e da covardia e o empenho da
racionalidade por parte do próprio sujeito é o que possibilita compreender
a modernidade como processo de abertura por isso a posição de Kant era
exatamente coerente, porque acreditava
que a “liberdade para pensar;
criava a capacidade para agir livremente; embora o inverso não fosse
necessariamente necessário”. O processo de abertura desenvolve-se quando a
crítica, envolvia submeter às crenças religiosas, políticas e até os
intelectuais ao seu “livre e público exame” deixando o veredicto para o “acordo de cidadãos livres em que cada um
deve exprimir as suas reservas e os mesmo exercer o seu veto sem impedimentos”[1]
No limite a modernidade é entendida como o período de
abertura enquanto baseada na possibilidade do esclarecimento do sujeito e da
capacidade de agir livremente;
alicerçado na crítica. Visto que
o esclarecimento é na definição famosa “ a
emergência da imaturidade auto-contraída[2]
ou da incapacidade para julgar sem a
orientação de outrem. Essa emergência de si mesmo pode excepcionalmente ser
realizada por indivíduos mas é de maneira preponderante obra de um público no
livre uso de sua razão. “O público não
deve submeter-se à orientação da religião nem à do estado, mas somente á da sua
própria razão”
A característica essencial da modernidade iluminista do
século XVIII é se apresentar como movimento de abertura. Tal processo
apresenta-se não somente no plano mental, racional ou intelectual; mas também
através da cultura e da economia, ou seja, reflete em toda a existencialidade
do sujeito. A abertura ao esclarecimento advém com a quebra das organizações
fechadas do mundo as quais foram feitas em cima de imposições históricas. Na
luta contra o obscurantismo os intelectuais
passa a compor princípios embasado em explicações da natureza e consigo próprio o qual gera novas concepções de ver e entender o
mundo. Neste tempo a figura do intelectual se torna influente; principalmente
na questão da vida pública. Essa influência realizada através da critica dos
intelectuais; os quais faziam uso da concepção de liberdade e da razão como
parte intrínseca do sujeito. A critica por sua vez rompe com valores das
instituições fechadas trazendo sobre o sujeito o esclarecimento e o libertando
de um estado em que estava mergulhado no obscurantismo. O que mostra que a
atividade intelectual será sempre uma atitude para chegar ao esclarecimento,
mas que ao mesmo tempo será sempre uma atividade de honestidade intelectual,
consigo mesmo e com os outros. Por esta causa sempre será um atitude de ruptura
e de quebra; pois a intelectualidade se torna uma atividade de refletir sobre
os conceitos que a massa subjuga como fundamentais, mas que pode ser totalmente estúpidos.
Deve compreender que
o iluminismo a modernidade e consequentemente o processo de abertura trata-se
de questões as quais requer do sujeito à consciência de seu estado de limitação
e a disposição para superá-las. Além da
preguiça e da covardia que impõem como limitações ao processo de
esclarecimento, existem a questão de uma falsa liberdade em que a sociedade
através de seus mecanismos da ao indivíduo
a possibilidade de pensar que possui a liberdade pelo simples fato
de poder
escolher entre marca “A” ou marca
“B”. Kant afirma que é muito difícil o homem se desprender na menoridade, pois
a mesma quase se tornou uma natureza; por dois motivos: Primeiro pela covardia
e preguiça. Segundo pela sociedade. Esse estado de menoridade formado pela
incapacidade que o sujeito tem de servir-se do seu próprio entendimento, tem
grande contribuição da sociedade, que colocou
sobre o sujeito preceito,
formulas, instrumentos mecânicos que
impede o seu lado racional e
bloqueia o uso dos dons naturais; a
liberdade e racionalidade. Tal tutoria torna-se algo tão forte na existência do
sujeito que Kant afirma que o sujeito chega ao ponto de exigir que haja tutores
sobre ele. Esse processo de tutoria que a sociedades, as intuições fechadas
exercem sobre o sujeito torna-se uma limitação ao esclarecimento; o qual pode
ser classificado como na crítica
da razão técnica de Adorno e Horhkeimer
em “Dialética do Esclarecimento”; como
razão instrumental.
Tal estado de
menoridade não é algo definitivo; pois pode ser superado, a partir do momento
em que o sujeito conscientizar da sua natureza racional, como enfatizou Kant “Tem coragem de servi-te de tua própria inteligência” . Há sobre o homem uma lei que o constrange a ser racional. O que
se torna incompreensível o ser humano ser irracional. Pois para ser irracional
é propriamente uma luta contra a lei que está imposta para ser racional, ou
seja; continuar sendo irracional é literalmente contra a sua natureza. Mas em posse e uso da liberdade terá esclarecimento
do seu estado de menoridade; o qual por sua vez o abandonará a falsa natureza,
para a natureza verdadeira; como afirma Kant “Que o público se esclareça a si mesmo e perfeitamente possível, mas se
for dada à liberdade, é quase inevitável”. Esse uso público da razão pode
ser exercido por qualquer um enquanto erudito.
O que define o erudito é que no uso público de sua razão obtém uma
liberdade ilimitada de servir da sua própria razão pois está livre da preguiça e da covardia. No
limite o esclarecimento que vem como conseqüência da liberdade será sempre uma
atitude intelectual. Por isso a questão
do iluminismo como a saída da menoridade implica na liberdade de fazer uso público da
razão e assim se libertar de tutores
estabelecidos da grande massa.
KANT, Emmuel. Resposta à
pergunta : “O que é o esclarecimento”.Trad.ArturMorão Lisboa: Edições 70, s.d.