Sobre este enunciado Agostinho empenha todos os seus esforços para fundamentar que a verdade está além do “cogito”, e que pode ser encontrada no transcendente, no eterno. Essa argumentação do “cogito” que atinge a verdade transcendente e eterna, trata-se do ponto de partida para a busca da verdade que Agostinho procura. A filosofia agostiniana apresenta-se de forma antropológica que tem como objeto a busca da verdade e felicidade. Em seu diálogo “A vida feliz” ele defende que a verdadeira felicidade está em Deus; ou seja só é feliz quem possui a Deus. Desta forma, a busca da verdade e felicidade é canalizada em Deus. Através da posse da verdade o homem se torna feliz.
A partir dessa preposição, Agostinho, que jamais duvidou da existência de Deus, se vê diante de um problema. Como encontrar a Deus? Por isso a busca de Agostinho não é encontrar a Deus, mas como encontrá-lo. Após suas investigações perturbadoras, ele entende que a verdade para chegar a Deus está no próprio interior do homem. Assim, a alma é imprescindível na epistemologia de Agostinho, visto que Deus está na alma, ou seja, o caminho para buscar a verdade passa pela a interioridade do homem, em que, o sujeito deve realizar uma busca sobre si mesmo. A mente, inteligência ou razão são atributos que o homem possui de mais elevado na alma. É somente neste lugar que se pode encontrar a Deus e conseqüentemente a verdade e felicidade.
Através da interioridade do homem que é a passagem segura, Agostinho chega a três conceitos de verdades: 01- que ele vive, 02 - existe e 03 - pensa. Ao abordar o conhecimento sensível e a sensação dentro da esfera do existir, Agostinho enfatiza que o conhecimento do sujeito está na relação do sujeito como objeto. E que não é o objeto que produz conhecimento ao sujeito, mas, pelo contrário, é o sujeito através da sensibilidade dos objetos. Desta forma, caracterizando que não é o corpo sobre a alma, mas alma sobre o corpo. Dentro desta dualidade Agostinho sentencia dois tipos de luzes, uma que é corporal relativa aos sentidos e outra que é espiritual relativa do interno. Agostinho não tem o corpo como algo negativo, pois o corpo também faz parte da natureza humana, mas, enfatiza que o sujeito não deve deixar os sentidos externos reinar sobre os sentidos internos; pois os sentidos externos obstruem o sujeito de atingir o terceiro sentido que é a razão que é o mais importante, pois através dela o sujeito sabe que pensa e existe.
No entanto, a razão pura para Agostinho não é suficiente para o sujeito alcançar as verdades eternas e transcendentes, necessitando assim, da iluminação divina, uma vez que as verdades eternas e imutáveis já estão na memória do homem, não por reminiscência, mas pela iluminação de Deus na mente humana. Uma vez que o conhecimento não se da apenas pela razão, acontece uma fusão entre fé e razão. Desta relação de fé e razão surge a máxima de Agostinho: “crer para compreender e compreender para crer melhor” .
Estas verdades eternas e imutáveis que já está na memória do homem, conforme citado no parágrafo acima; também faz parte da epistemologia de Agostinho, pois o mesmo faz menção da memória para alcançar a Deus. Uma vez que no livro X das confissões Agostinho coloca a memória como condição de possibilidade de conhecimento; uma vez que a memória assegura a existência de Deus. Enquanto a razão assegura a existência do “cogito”, a memória assegura a existência de Deus, pois a memória segundo Agostinho, é a priori. Na medida em que busca a Deus na memória o homem está em construção de um processo de interioridade; e na busca de si mesmo ele se lança no transcendente.
Por fim, a verdade por sua vez pertence unicamente a Deus, e, que o homem penetrado em seu próprio interior e aprofundado em seu espírito pode encontrar aspectos que lembrem a imagem divina do qual é portador. Por isso o desejo de Agostinho é que o homem pergunte a si mesmo para poder compreender-se. Assim, a antropologia de Agostinho não se fecha em si mesmo como na antropologia de Nietzsche e Sartre, mas se abre para a transcendência. Pois o homem só se realiza, em ultima instância, na transcendência e só através dela o homem pode compreender seu ser autêntico e seu verdadeiro significado.