JOHN LOCKE
"todos os homens, que, sendo todos iguais e livres, nenhum deve prejudicar o outro, quanto à vida, à saúde, à liberdade, ao próprio bem". E, para que ninguém empreenda ferir os direitos alheios, a natureza autorizou cada um a proteger e conservar o inocente, reprimindo os que fazem o mal, direito natural de punir"
FRIEDRICH HAYEK
“A liberdade individual é inconciliável com a supremacia de um objetivo único ao qual a sociedade inteira tenha de ser subordinada de uma forma completa e permanente”
DEBATES FILOSÓFICOS
"A filosofia nasce do debate, se não existe a liberdade para o pensar, logo impera a ignorância"
A Filosofia é.....
"Viver sem filosofar é o que se chama ter os olhos fechados sem nunca os haver tentado abrir". Descartes
LIBERDADE
"Liberdade, Igualdade , Fraternidade. Sem isso não há filosofia. Sem isso não há existência digna.
LUDWING V. MISES
"O socialismo é a Grande Mentira do século XX. Embora prometesse a prosperidade, a igualdade e a segurança, só proporcionou pobreza, penúria e tirania. A igualdade foi alcançada apenas no sentido de que todos eram iguais em sua penúria"
terça-feira, 16 de novembro de 2010
SE PENSO - LOGO EXISTO
ILUMINISMO E MENORIDADE NO PENSAMENTO DE KANT
Após Descartes a filosofia deixa de ser essencialistas e passa a ser antropocêntrica sobre a visão do mundo. Para a filosofia antropocêntrica quem existe, é o sujeito. Surge a afirmação do sujeito em que ele toma consciência do seu poder e afirma sua autonomia perante o transcendente. O sujeito auto se afirma diante da razão para entender sua existência. Neste contexto a busca não é mais sobre a essência necessariamente, mas sim pela ordem, pelo cálculo, pela harmonia, etc. Tudo começa em Descartes que instaura a dúvida enfatizando que o que existe; sou “eu e os meus pensamento”. Galileu também revoluciona o mundo e fortalece mais ainda o antropocentrismo/iluminista ao afirmar que o mundo está escritos em caracteres matemáticos; e que o grande livro é a natureza; a qual precisa ser estudada a partir de enunciados lógicos através da razão para ser explicada, já não cabe mais a idéia de teocentrismo.
O iluminismo é o empenho da luta contra a ignorância, o qual questionou os valores que se constituíam invioláveis; mas que na verdade eram valores constituídos através dos eventos históricos, empíricos, elaborados por convenções é impostos como universais e não passível de questionamentos. O iluminismo é a disposição para crítica e reflexão; sua distinção é a luta contra o obscurantismo. Através da história houve várias manifestações de iluminismo; o qual despertou o indivíduo para uma atitude individual, tornando-o plenamente consciente sobre o que significa existir; é o sujeito decidido a pensar sobre si próprio que começa a tomar consciência da significação da sua existência.
O iluminismo (Esclarecimento) tem como base o sujeito que começa a conscientizar de sua racionalidade; e que não é por acaso que o sujeito é racional, mas faz parte de sua natureza de ser destinado a razão. Kant aborda uma defesa do sujeito como ser racional. Mas também levanta um problema filosófico o qual deseja explicá-lo. O problema está relacionada a desarmonia do sujeito racional com o seu mundo existencial. Kant enfatiza que se o mundo é o que é; e sendo o ser humano racional; como explicar porque o mundo é o que é? Diante dessa situação Kant afirma “ O Iluminismo é a saída do homem da sua menoridade de que ele próprio é culpado” o que demonstra tão unicamente uma incompetência intelectual; pois se o sujeito sendo livre e racional, ainda continua sendo menor, é porque não tomou uma atitude contra essa situação de menoridade, ou seja a ignorância. A possibilidade de esclarecimento e a saída do sujeito de sua condição de menoridade tem como pressuposto para Kant uma teoria da liberdade. E à saída do homem da sua menoridade de que ele próprio é culpado; é tão somente culpa do sujeito, pois mesmo sendo livres e racionais continua a ser menor.
A menoridade do homem implica-se na incapacidade de servir-se de seu próprio entendimento, ou seja; a menoridade é o fato de não usar a própria razão. Essa omissão de sua própria razão; implica-se na questão de fazer da orientação de outro, a qual aliena, manipula e oprimi a si mesmo; com o seu próprio consentimento. A menoridade causada por sua própria culpa; não implica apena na falta de entendimento; mas principalmente pela “Preguiça e Covardia”; que priva o sujeito de usar sua razão; e de andar com suas próprias pernas e de se servir de si mesmo. A preguiça e covardia proporcionam uma sensação que é tão cômodo e confortável ser menor, pelo fato de dar menos trabalho, em que a existência transforma-se em uma mesmice e num estado de inércia que tudo está bem e confortável; o que o leva a um estado de anestesia mental. No limite pode-se conceituar que o iluminismo é uma disponibilidade do sujeito em tornar-se esclarecido fazendo uso de sua racionalidade; ao passo que a preguiça e a covardia são um comportamento contrário em que há uma disposição de não usar a racionalidade. Esse comportamento é uma negação das possibilidades de ser esclarecidos; pois tal esclarecimento só acontece com a saída do sujeito de sua menoridade, que implica no empenho da racionalidade por parte do próprio sujeito.
O abandono da preguiça e da covardia e o empenho da racionalidade por parte do próprio sujeito é o que possibilita compreender a modernidade como processo de abertura por isso a posição de Kant era exatamente coerente, porque acreditava que a “liberdade para pensar; criava a capacidade para agir livremente; embora o inverso não fosse necessariamente necessário”. O processo de abertura desenvolve-se quando a crítica envolvia submeter às crenças religiosas, políticas e até os intelectuais ao seu “livre e público exame” deixando o veredicto para o “acordo de cidadãos livres em que cada um deve exprimir as suas reservas e os mesmo exercer o seu veto sem impedimentos”
No limite a modernidade é entendida como o período de abertura enquanto baseada na possibilidade do esclarecimento do sujeito e da capacidade de agir livremente; alicerçado na crítica. Visto que o esclarecimento é na definição famosa “ a emergência da imaturidade auto-contraída ou da incapacidade para julgar sem a orientação de outrem. Essa emergência de si mesmo pode excepcionalmente ser realizada por indivíduos mas é de maneira preponderante obra de um público no livre uso de sua razão. “O público não deve submeter-se à orientação da religião nem à do estado, mas somente á da sua própria razão”
A característica essencial da modernidade iluminista do século XVIII é se apresentar como movimento de abertura. Tal processo apresenta-se não somente no plano mental, racional ou intelectual; mas também através da cultura e da economia, ou seja, reflete em toda a existencialidade do sujeito. A abertura ao esclarecimento advém com a quebra das organizações fechadas do mundo as quais foram feitas em cima de imposições históricas. Na luta contra o obscurantismo os intelectuais passa a compor princípios embasados em explicações da natureza e consigo próprio o qual gera novas concepções de ver e entender o mundo. Neste tempo a figura do intelectual se torna influente; principalmente na questão da vida pública. Essa influência realizada através da critica dos intelectuais; os quais faziam uso da concepção de liberdade e da razão como parte intrínseca do sujeito. A critica por sua vez rompe com valores das instituições fechadas trazendo sobre o sujeito o esclarecimento e o libertando de um estado em que estava mergulhado no obscurantismo. O que mostra que a atividade intelectual será sempre uma atitude para chegar ao esclarecimento, mas que ao mesmo tempo será sempre uma atividade de honestidade intelectual, consigo mesmo e com os outros. Por esta causa sempre será um atitude de ruptura e de quebra; pois a intelectualidade se torna uma atividade de refletir sobre os conceitos que a massa subjuga como fundamentais, mas que pode ser totalmente estúpidos.
Deve compreender que o iluminismo a modernidade e consequentemente o processo de abertura trata-se de questões as quais requer do sujeito à consciência de seu estado de limitação e a disposição para superá-las. Além da preguiça e da covardia que impõem como limitações ao processo de esclarecimento, existem a questão de uma falsa liberdade em que a sociedade através de seus mecanismos da ao indivíduo a possibilidade de pensar que possui a liberdade pelo simples fato de poder escolher entre marca “A” ou marca “B”. Kant afirma que é muito difícil o homem se desprender na menoridade, pois a mesma quase se tornou uma natureza; por dois motivos: Primeiro pela covardia e preguiça. Segundo pela sociedade. Esse estado de menoridade formado pela incapacidade que o sujeito tem de servir-se do seu próprio entendimento tem grande contribuição da sociedade, que colocou sobre o sujeito preceito, formulas, instrumentos mecânicos que impede o seu lado racional e bloqueia o uso dos dons naturais; a liberdade e racionalidade. Tal tutoria torna-se algo tão forte na existência do sujeito que Kant afirma que o sujeito chega ao ponto de exigir que haja tutores sobre ele. Esse processo de tutoria que a sociedades, as intuições fechadas exercem sobre o sujeito torna-se uma limitação ao esclarecimento; o qual pode ser classificado como na crítica da razão técnica de Adorno e Horhkeimer em “Dialética do Esclarecimento”; como razão instrumental.
Tal estado de menoridade não é algo definitivo; pois pode ser superado, a partir do momento em que o sujeito conscientizar da sua natureza racional, como enfatizou Kant “Tem coragem de servi-te de tua própria inteligência” . Há sobre o homem uma lei que o constrange a ser racional. O que se torna incompreensível o ser humano ser irracional. Pois para ser irracional é propriamente uma luta contra a lei que está imposta para ser racional, ou seja; continuar sendo irracional é literalmente contra a sua natureza. Mas em posse e uso da liberdade terá esclarecimento do seu estado de menoridade; o qual por sua vez o abandonará a falsa natureza, para a natureza verdadeira; como afirma Kant “Que o público se esclareça a si mesmo e perfeitamente possível, mas se for dada à liberdade, é quase inevitável”. Esse uso público da razão pode ser exercido por qualquer um enquanto erudito. O que define o erudito é que no uso público de sua razão obtém uma liberdade ilimitada de servir da sua própria razão, pois está livre da preguiça e da covardia. No limite o esclarecimento que vem como conseqüência da liberdade será sempre uma atitude intelectual. Por isso a questão do iluminismo como a saída da menoridade implica na liberdade de fazer uso público da razão e assim se libertar de tutores estabelecidos da grande massa.
Fundamentação teórica: KANT, Emanuel. Resposta à pergunta: “O que é o esclarecimento”.Trad. Artur Morão Lisboa: Edições 70, s.d
ÉTICA E POLÍTICA NA REPÚBLICA DE PLATÃO
A alma não é uma unidade simples, pelo contrário ela é múltipla diante da função que realiza. Em definição, Platão conceitua três funções da alma na região do corpo denominada de “faculdades da alma”. A alma concupiscente deseja aquilo que é perecível que pode destruí-la sem que ela perceba. Trata-se da faculdade apelativa ou irracional situada no baixo ventre sempre insatisfeita procura novos objetos de prazer e termina com a morte do corpo. A alma colérica ou irascível deseja fama, honra e glória também pode destruir a vida. Se coloca contra aquilo que possa ameaçar a segurança do corpo e da vida, causando dor e sofrimento, está localizada acima do diafragma do peito, isto é no coração. A alma irascível equivocadamente obtêm uma boa opinião das coisas alheias, é irracional e mortal.
A alma racional é a faculdade de conhecimento, é espiritual e imortal sede do pensamento situa-se na cabeça. Essa faculdade superior conhece o bem e o mal. Os bens perecíveis não são do seu agrado, mas tem por natureza a busca da verdade da essência das coisas. A faculdade racional tem a capacidade de impor limites e medidas as outras duas faculdades. Esta função da alma racional é denominada de “moderação” que deve ser imposta aos desejos das outras duas faculdades para que o indivíduo alcance a ética. Desta forma quem não exerce a razão não conhece a virtude e não pode ser virtuoso; assim a vida ética dependera da alma racional. A tarefa da alma racional e dominar as outras duas faculdades e harmoniza-las com a razão.
Através deste exame ético da alma do indivíduo Platão se reporta para a polis, construindo um ideal político. Mas como identificar a ética e a política na cidade? A cidade ética, diz Platão (República, 435e), é quando nela existem três espécies de natureza: uma temperante, uma corajosa e uma sábia, assim as três partes da alma convergem para a mesma direção; a justiça não é, portanto algo que se restringe às ações externas dos homens, mas diz respeito a seu interior: “Aquilo que é verdadeiramente dele e lhe pertence”.
Assim como o homem possui três almas ou três faculdades assim também a polis possui três classes sociais: a classe dos agricultores, comerciante e artesões os quais têm uma sensibilidade grosseira e por isso devem cuidar da subsistência da cidade. A classe dos guerreiros: nesta classe a virtude e coragem são essenciais para os guerreiros constituírem a guarda do Estado e cuidar da defesa da cidade. Em terceiro a classe dos magistrados: que estão encarregados de fazer as leis e aplicarem na cidade, promover e manter a justiça, são portadores do conhecimento puro que é a fonte de toda verdade. Esta justiça racional será personificada na figura do rei-filósofo e por filosofia Platão entende a racionalidade.
Esta hierarquia se constitui uma organização que caracteriza por uma divisão funcional das castas em que cada indivíduo exerça uma função na sociedade, função a qual por natureza foi mais dotado. A política hierárquica é caracterizada na polis pela boa administração e organização. Desta forma compreende-se a relação de ética e política na República de Platão. Pois uma vez que a ética é uma organização funcional dentro da alma humana, em que a alma racional domina as outras duas faculdades criando equilibro e harmonia. A política por outro lado é a organização harmoniosa entre os indivíduos das castas, em que os dirigentes portadores da mais alta racionalidade governa a cidade segundo a justiça, em que a razão domina a coragem e a concupiscência. Sendo assim o Estado político de Platão tem a mesma relação da ética da alma, em que a cidade justa é aquela em que o filósofo governa os guerreiros defendem, e os demais provêm a subsistência da cidade.
Observamos que a ética platônica provém de uma organização funcional da alma humana, a qual Platão fundamenta sua teoria política. Esta relação do homem com a polis se da através de uma relação de disciplina para assegurar a vida ética, política e coesa da pólis. A partir desta relação entre ética e política fundamenta a identidade do indivíduo com a pólis. Platão no âmbito político se orienta pela interioridade ética do individuo de tal forma que a vivência humana se torna indivisível da polis[5]. Sobre esse prisma o indivíduo é entendido como um Estado em proporções menores que também se constituiria de três ordens.
Existe no indivíduo o princípio racional que representa o papel dos guardiões na cidade da alma; o elemento impetuoso que corretamente empregado, e a ajuda da sabedoria tal como os auxiliares são assistentes dos governantes, e ambos devem uma vez educados, dominar a massa dos desejos que formam a parte apetitiva da alma e infundir no homem uma temperança total, pois a justiça individual toma lugar quando todas as faculdades trabalham em harmonia umas com as outras. Quando a sabedoria governa, o homem estará em paz consigo mesmo. Em suma; a política é o governo exercido com sabedoria em harmonia entre as castas por um filósofo; e a ética e o conhecimento do Bem e o conhecimento da verdade da própria alma que têm como conseqüência à possibilidade de um modelo político justo.
[1] IV. Tem sido objeto de acesa discussão saber até onde Platão aceitava esta identidade e se para ele, o ponto de partida era da cidade para o indivíduo ou do indivíduo para a cidade apesar de a ordem seguida na República ser a primeira, supomos, como Cross e Woozley, op., p I3I, que era a segunda que tinha em mente. PLATÃO. A República. 9ºed. Editora Fundação Caloustre. 1949. pg. XXIV.
[2] Ibid, pg. 760.
[3] JAEGER, Werner. Paidéia: A formação do homem grego. São Paulo. Ed. Martins Fontes. 4º ed.2003. pg.,752.
[4] “O intérprete neoplatônico Porfírio sublinhou acertadamente que a teoria das partes da alma em Platão não é psicologia no sentido corrente, mas sim psicologia do sentido moral”. [4] JAEGER, Werner. Paidéia: A formação do homem grego. São Paulo. Ed. Martins Fontes. 4º ed.2003. pg.,753.
[5] “A republica platônica, não tem outra função senão apresentar-se nos a imagem reflexa ampliada da alma e da sua estrutura respectiva na polis” JAEGER, Werner. Paidéia: A formação do homem grego. São Paulo. Ed. Martins Fontes.4º ed.2003. pg.,751.