Sergio A. Ribeiro
Entre 1946 e 1948, médicos do sistema público de saúde dos Estados Unidos da América do Norte infectaram cerca de 700 cidadãos da Guatemala – prisioneiros, pacientes psiquiátricos e soldados – com doenças venéreas com a justificativa de testar a eficiência da penicilina.O Instituto Nacional de Saúde do governo dos EUA chegou a pagar a prostitutas com sífilis para dormir com os prisioneiros, dado que o sistema prisional da Guatemala permitia visitas íntimas. Quando a prática sexual com essas prostitutas não contaminava os prisioneiros, incisões eram feitas em seus pênis, faces e braços, e nessas incisões eram colocadas as bactérias. Em alguns casos, as bactérias foram injetadas diretamente na medula.Se os pacientes contraiam a doença, eles eram tratados com antibióticos.“No entanto, não é claro se os pacientes foram, então curados”, declarou Susan M. Reverby, professora da Faculdade de Wellesley, que divulgou a ocorrência desses experimentos numa publicação e forçou as autoridades de saúde a iniciarem investigações.As revelações, tornadas públicas no último dia 30 de setembro, quando a Secretária de Estado Hillary Clinton e a Secretária de Saúde e Serviços Humanos Latjçeem Sebelius pediram desculpas ao governo da Guatemala, bem como aos sobreviventes que foram infectados e seus descendentes. Eles afirmaram que os experimentos foram “claramente sem ética”.“Embora esses eventos tenham ocorrido há 64 anos, nós nos sentimos ultrajados com o fato deles terem sido feitos com a máscara da saúde pública”, as duas secretárias afirmaram. “Nós lamentamos profundamente o que aconteceu e pedimos desculpas aos indivíduos afetados por essas repulsivas práticas de pesquisa”.(1)
Posição principialista diante problema:
A teoria principialista trabalha a partir de princípios básicos que se propõem orientar a experiência com seres humanos na bioética. Criada sob encomenda pelo congresso norteamericano, segundo Dall’Agnol (2004: 27), inicialmente a teoria consistia em três princípios básicos, segundo os quais se julgava suficientes para justificar procedimentos, e, fundamentar a reflexão ética: respeito pelas pessoas, beneficência, e justiça. Tais princípios encontram-se publicados no relatório Belmont. Entretanto à teoria foi melhor desenvolvida e sistematizada na obra “Principles of Biomedical Ethics” 1979, pelos bioeticistas Beauchamp e Childress, que apresentaram o principialismo a partir de quatro princípios básicos, a saber: respeito a autonomia, beneficência, não-maleficência, e justiça.
O Princípio da Beneficência infere que devemos fazer o bem às pessoas. Mesmo que haja indivíduos que não deseja que o faça o bem a ele. O princípio de beneficência contém em si o de Não-Maleficência, neste caso, deixar de causar o mal intencional a uma pessoa, já se constitui em fazer o bem para este sujeito. David Ross, que estabeleceu o conceito de dever prima facie, propunha que quando houver conflito entre a Beneficência e a Não-Maleficência, deve prevalecer a Não-Maleficência, que é [deixar de causar o mal intencional a uma pessoa já se constitui em fazer bem para este sujeito].
Maleficência provocada pela sífilis:
Posição personalista diante problema:
Para o modelo personalista a sociedade tecnicista é composta de conceitos como individualismo, hedonismo e utilitarista. Segundo Sgreccia “todas essas posições falta uma perspectiva metafísica sobre o ser, falta a confiança na verdade, sobre o significado profundo da realidade e sobre a realidade do homem ( SGRECCIO, 2000). Desta forma, o método personalista ontológico/metafísico considera a pessoa humana em sua essência, em sua natureza, em sua verdade. Assim a fundamentação ética do personalismo, é, a pessoa do ser humano. Do aduzido o método personalista se define na proposição de Sgreccia “ A pessoa é, antes de tudo, um corpo espiritualizado, um espírito encarnado que vale por aquilo que é, e não pelas escolhas que faz” ( SGRECCIO, 2000).
O modelo personalista diante da questão dos Guatemaltecos contaminados com sífilis, o teria como um crime contra a humanidade. Pois tal ação desrespeitou o princípio da dignidade humana que se encontra na própria essência do ser. Os cientista ao submeter os ser humano (Guatemaltecos) a tal processo desrespeitou este princípio. Desta forma, parte-se da idéia, que a ciência biomédica no uso da tecnologia, procura melhorar a vida das pessoas, e sabe-se, que quando um medicamento, uma cirurgia ou qualquer tipo de intervenção médica, descoberta pela ciência biomédica alcança os resultados satisfatório, toda a sociedade ganha. Mas a questão não esta apenas neste fato, pois para o modelo personalistas os fins não justificam os meios. Pois não se podem alcançar um tipo de beneficência para as pessoas de uma sociedade, sacrificando outras para tal propósito. Pois, o princípio beneficência de não se refere apenas para aqueles que no futuro irão ser beneficiado pela pesquisa, mas, principalmente para aqueles que são submetidos à própria pesquisa.
1.http://www.luizprado.com.br/2010/10/02/eua-pedem-desculpas-por-contaminar-guatemaltecos-com-sifilis/
2.Este conceito foi proposto por Sir David Ross, em 1930. Ele propunha que não há, nem pode haver, regras sem exceção. O dever prima facie é uma obrigação que se deve cumprir, a menos que ela entre em conflito, numa situação particular, com um outro dever de igual ou maior porte. Um dever prima facie é obrigatório, salvo quando for sobrepujado por outras obrigações morais simultâneas. Esta proposta já havia sido utilizada pelo Tribunal Constitucional Alemão. (ROSS, 1930:19-36). Bellino denomina os deveres prima facie de deveres penúltimos. Cattorini propôs que os deveres prima facie são válidos, geralmente, de maneira relativa. Quando ocorre um conflito entre deveres deve ser tomada a decisão de qual deve ser tomado como prioritário, nesta circunstância. Cada dever deve ser cotejado com os demais e, dentro da complexidade inerente ao sistema, analisado em conjunto para evitar conflitos de ações e efeitos indesejados. (BELLINO, 1997:201)
3.http://www.criasaude.com.br/N2537/doencas/sintomas-sifilis.html